Minha experiência em Santo Amaro, deixou lembranças maravilhosas na minha cabeça. Uma cidade ímpar. Tem coisas que só acontecem por lá. Inclusive nascer na mesma família duas figuras como Caetano Veloso e Maria Bethânia. No entanto, é de Márcio Valverde que mais lembro. Meu amigo irmão que, ingrato, se tornou amigo de meu outro irmão Luciano, hoje compadres. Tirando a ponta de inveja, sinto muito orgulho da amizade dos dois e de ter sido o catalisador de tal encontro. Dois grandes músicos, grandes compositores. Lembro quando eu e Márcio ficávamos tocando violão, pensando nas nossas musas inspiradoras daquela época. Falo dos nossos 12 ou 13 anos. Outro orgulho que tenho, é de ter sido importante na sua aprendizagem do instrumento. Ele não tinha violão, eu, filho de músico, forçando a natureza para ser também, não me faltava o pinho para dedilhar. Com isso, emprestava meu instrumento para que ele treinasse. Canhoto que é, tocando no instrumento dos outros, teve que aprender como destro. Cheguei inclusive a ensinar-lhe algumas canções. A realidade foi cruel. Seu talento nato, logo se sobressaiu. Mesmo antes de sofrer o acidente que tirou os movimentos do meu indicador esquerdo, o que obrigou-me a fazer algo que deveria ter feito a tempo, parar de tocar, já não tinha coragem de dedilhar uns acordes na frente dele.
Talvez por gratidão, como já falei aqui, ele foi um dos poucos que se resignaram a ser meus parceiros. Fizemos juntos várias canções. Esquecidas no tempo, não na memória dele que é um absurdo de boa, mas na minha. Hoje ele toca e canta, palavra por palavra, todas as músicas que fizemos juntos naquela época. Teve uma que nunca esqueci. Talvez por ser a única da qual realmente gostei. Um dia ele chegou lá em casa e me disse: -Comecei a fazer uma música com Chico(Chico Porto, um dos grandes poetas que Santo Amaro produz) mas não saímos da primeira frase: "Era menino a conhecer o mundo, calça surrada violão na mão...". Peguei papel e caneta, pedi que ele começasse a tocar e aí nasceu esta música que, se tiver título, não consigo lembrar, afinal tínhamos 14 anos de idade.
Era menino a conhecer o mundo
Calça surrada, violão na mão
Fazendo versos, tocando e cantando
Suando muito pra ganhar o pão
Sua coragem é que valia tudo
Foi aprendendo e seguiu na cançõa
Era menino a conhecer o mundo
A desvendar segredos deste chão
Começou suas loucuras
Era coisa da idade
Rasgando e cerzindo a cabeça
Alcançou a liberdade
O homem hoje volta ao seu recanto
Lembra o menino que um dia foi
Ainda se ouve seus versos, seu canto
Com a experiência que ninguém destrói
Sua vivência é que vale tudo
Tudo que viu e hoje vem mostrar
Para os meninos desse novo mundo
Que hoje vão sair a procurar
Começar suas loucuras
Pois é coisa da idade
rasgar e cerzir a cabeça
E alcançar a liberdade
Um comentário:
Muito bom meu caro! Logo imaginei que se tratava de um amigo da sua infancia. Sua história se parece um pouco com a minha, pouco eu sei, mas é que me lembrei de alguns amigos de música com quem infelizmente nao tenho mantido contato.
Agora fiquei mais curioso pra ouvir os cds.
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