quarta-feira, 25 de abril de 2007

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ


Conta a lenda que Zeboré, através da genética, herdou de seu pai uma de suas principais qualidades: ser um homem de visão. Intelectual, empresário bem sucedido, Zé tinha suas convicções e as defendia com unhas e dentes. Dentre elas a de que futebol era coisa de maluco, de quem não tinha o que fazer. Achava um absurdo, um ser humano passar a tarde de domingo com um radinho de pilha na mão, escutando palavras inaudíveis do locutor gritando feito um insano. Para ele isto era prenúncio certo de depressão na segunda. Exceto por farras homéricas tendo como pretexto os jogos do Brasil nas copas do mundo e umas poucas incursões a estádios levados por amigos loucos, segundo ele, apaixonados pela arte de chutar a bolinha.

Um alvo certeiro das suas críticas era o seu irmão Dibi. Torcedor fanático do Arranca Toco, principal rival do Perna de Pau, os dois melhores times da cidade onde moravam. Dibi era daqueles piolhos de estádio, onvinte assíduo de jogos e resenhas. Dos que se fantasiam dos pés a cabeça nos dias de peleja e, assim como todo bom torcedor, detesta quando falam mal do seu time ou da sua paixão. Frustradas foram todas as tentativas de Dibi de convencer Zeboré do contrário. Fazer vê-lo a beleza do esporte, a integração do torcedor, a diversão saudável que alivia as tensões da vida e das preocupações pessoais. Dibi desistiu, pensava estar ali um caso perdido. Estava enganado. A vida dá muitas voltas e às vezes nos prega peças arrasadoras.

Depois da bancarrota, Zeboré se viu na mais profunda depressão. Sem trabalho ou perspectiva, sua reserva esvaindo-se pelo ralo abaixo, sem luz no fim do túnel. Já quase jogando a toalha, Carequinha, grande amigo de vida, outro louco apaixonado pelo esporte, assume uma função na diretoria do Perna de Pau e convida-o a assessorá-lo. O salário não era dos melhores, mas qualquer coisa é melhor do que nada. Assustava-lhe a idéia de trabalhar neste mundo do qual se considerava um ET. Sem opção mais aprazível Zeboré aceitou o desafio.

Ainda segundo a lenda, uma semana depois, nosso personagem foi visto vestido de Perna de Pau até o pescoço, gritando desesperadamente no meio da torcida nas arquibancadas do estádio do seu, agora, clube do coração, discutindo regras, ou cagando-as talvez, e ainda por cima empunhando rente ao ouvido, um rádio de pilha que mais parecia um micro system. É isso aí Zeboré, esse mundo dá voltas….

Um comentário:

EDMUNDO CARÔSO disse...

E como dá. Eu, como um dos protagonista da história, que o diga.

E.C.