sábado, 28 de junho de 2008

GUISADO

Cozinho porque gosto
Cozinho porque preciso
Se é posta, não aposto
Boto no fogo e guiso

Fogo fátuo, fogo alto
Fogo baixo ou cruzado
Na panela o aparato
E o tempero do guisado

E depois, lavar os pratos
Limpar a pia, o fogão
Servir na mesa de fato
Guisado, gostoso ou não

quinta-feira, 26 de junho de 2008

CARNAVAL DE OLINDA – Muito Frevo , Bode e Forró! - II

Publicada em 26 de abril de 2007 no marcador Textos

Só quando desci do carro descobri que Jô segurava uma banda de bode. Este foi o cardápio do carnaval. Bode assado, bode frito, bode ensopado, farofa de bode, bode de tudo que é jeito. Pra mim que adoro foi tudo de bom, mas se alguém ali não gostava da iguaria, se deu mal. Na verdade quase que só fazíamos uma refeição por dia, o café da manhã, já que passávamos a maior parte do tempo na rua. Dormíamos sempre muito tarde mas eu e Jô acordávamos cedo e dávamos conta do almoço, ou café da manhã se preferirem..

Depois dos cumprimentos, matadas as saudades, fomos apresentados a Mersinho, Emerson. Primo de Jô que também filava* a hospedagem e alimentação no carnaval. Uma figura esse cara. Aprontou todas. Não deixava ninguém dormir direito já que chegava lavado** no meio da madrugada e ficava feito Zumbi perambulando pela casa. Cada dia aparecia com uma namorada diferente e, por causa dele, Aninha e Jô quase brigaram feio. Uma certa manhã, apareceram quatro mulheres muito interessantes procurando por ele. Se não estou enganado eram maranhenses que passavam o carnaval por lá e estavam hospedadas perto da casa de Josildo. Na noite anterior conheceram Mersinho em Olinda. Este que morto de ressaca ainda não tinha levantado, não foi atendê-las. Jô, um sujeito muito educado, ficou cheio de atenções e deferências para com as donzelas. Aninha não gostou nada daquilo e tratou de botar as moçoilas pra correrem dando um corretivo em nosso amigo.

Arriadas as malas, fomos ao banho enquanto Jô botava um bodinho pra fritar. Na vitrola, a todo volume, Virado Num Paletó Veio, o primeiro cd do cara. Puro forró, um pé de serra de primeira com elementos da música eletrônica. Ouvimos o disco todos os dias o tempo inteiro que estávamos em casa. Antes de botar o pé no frevo, a galera dançava muito forró. Digo a galera mas não posso esquecer de excluir-me já que não danço absolutamente nada.

A nossa rotina era sempre a mesma. Acordávamos, batíamos um prato*** de bode a alguma coisa, destampávamos a primeira de uma interminável sucessão de garrafas de loiras geladas intercaladas por goles de branquinha**** com caju, Virado rolando no som até que lá pelas 15hs íamos pra Olinda e só voltávamos madrugada adentro. Eu que nunca fui chegado a carnaval, tirando os que trabalhei sempre fugi dos carnavais de Salvador, amei o de Olinda. Pela beleza plástica, pela verdadeira manifestação popular, os bonecos, as ladeiras da cidade encantadora que, por sinal, já conhecia. Embora muito cheia, nem de longe se compara a confusão e ao aperto que rola no carnaval da Bahia. Fiquei encantado de ver os blocos e cordões de Olinda. Tudo feito pelo povo pobre que extravasa as tensões do dia-a-dia, em poucos dias de muita alegria. Claro que hoje existem diversas instituições que apóiam tal iniciativa, mas, com certeza, muita gente ainda gasta do pouco que ganha para fazer aqueles bonecos e fantasias. Muito lindo! E o frevo? Um ritmo contagiante, uma dança muito bonita. Tentei ensaiar uns passos mas o desastre foi total.

Outra coisa que me chamou a atenção, foi o fato de não ter visto uma briga sequer durante a festa. Óbvio que deve rolar, afinal com tanta gente reunida num mesmo lugar e os ânimos alterados pelo excesso de álccol, é impossível conter uma confusão. No entanto demos sorte e não vimos nenhuma. Tudo transcorreu na mais profunda paz e harmonia. Guerra mesmo só a de água. Um tradição por lá. As pessoas ficam atirando jatos d´água nas outras com uma pistolinha plástica vendidas aos montes pelos ambulantes. Dizem até, que quando se atira em alguem, está se demonstrando interesse pela pessoa. Acho que isso não é verdade, tantos foram os jatos que recebi de verdadeiros aviões. Não acredito que aquelas gatas tivessem interessadas em mim. Ainda mais que estava acompanhado da infalível marcação de Cynthia.

Na segunda quebramos a rotina. Muito cansados das farras dos últimos três dias, resolvemos não ir pra Olinda e fomos à praia, ali mesmo na Boa Viagem, pertinho de casa. Como sempre já saímos calibrados e demos continuidade na beira do mar. Aí me passa um tal de Roberto vendendo caldinho. Tinha de vários sabores e estranhei o fato dele colocar um ovo de codorna dentro do copo. Cynthia, exagerada como sempre, tomou vários comendo todos os ovinhos. Toda hora gritava: - Roberto, vem cá! Juntando com as roscas e os incontáveis copos de cerveja, o resultado não foi nada bom. A noite, no Recife Velho, em pleno show de Geraldo Azevedo, ela passou mal, dizia que ía morrer. Fomos para um ambiente mais arejado, longe da multidão e ela melhorou um pouco. No entanto não quis mais ficar na rua. Deixamos o carro com os meninos e voltamos pra casa de taxi. Eu não acertaria chegar.

Voltamos à Olinda na terça. Antes de sair de casa aconselhei Josildo a não levar a garrafinha de cachaça que levávamos todos os dias para bebericar entre uma cerveja e outra: - A gente já bebeu demais neste carnaval, amanhã vou pegar a estrada e preciso acordar inteiro. Prontamente ele concordou comigo e não falamos mais nisto. Por volta das 18hs, lá em Olinda, animado por uma série de loirinhas geladíssimas, chamei Jô nun canto e disse: - Já tô arrependido de ter te dado aquele conselho, um gole da branquinha agora ía cair bem. De imediato ele falou: - Quem disse que ouvi seu conselho? enquanto sacava do bolso a bendita garrafa responsável pela ressaca que me acompanhou durante os 800kms que separam Recife de Salvador. Foram inesquecíveis aqueles dias, morro de saudades deste carnaval.

Capa do segundo cd de , Coreto. Criação de Jorge Hopper



*Filar: Pedir, usufruir de graça.
**Lavado: Bêbado.
***Branquinha: Cachaça.
****Bater Um Prato: Comer, fazer uma refeição.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

CARNAVAL DE OLINDA – Muito Bode, Forró e Frevo! - I

Publicado em 21 de abril de 2007 no marcador Textos - CapítuloI

Capa do primeiro cd de Josildo Sá, Virado Num Paletó Véio, criada por Ray Vianna. 1999.

"Adriano, você faz parte da inteira." Assim diz a dedicatória de Jô no cd que me deu neste carnaval.

Quando meu amigo Josildo Sá estava com seu primeiro cd, Virado Num Paletó Véio, pronto, perguntei se tinha arregimentado a banda para o show de lançamento. – Banda? Quem tem banda é Michael Jackson, eu tenho uma inteira! Esta expressão é a cara de Jô. Foi justamente na casa dele que passei um dos melhores carnavais da minha vida. Na época, morando em Recife, onde vive até hoje, no bairro da Boa Viagem, Jô nos recebeu, a mim, minha então namorada Cynthia, meus atuais compadres, Ray e Guta e outros agregados. Tal folia momesca, ficou marcada nas nossas memórias como o carnaval do bode, do forró e do frevo. Cada um a seu tempo chegará na história.

Comecemos pelo ponto de partida, Salvador-Ba. Sexta-feira de carnaval, 1999, eu e Cynthia saímos de casa às 8hs, passamos para pegar Guta num bairro vizinho, Ray iria no dia seguinte de avião, ocupado que estava com os trabalhos para os blocos, e às 9hs estávamos na estrada. Na bagagem, além de roupas, uma caixa de cerveja em latas quase empedradas num isopor cheio de gelo potável e uma garrafa de whisky. Nossa inocência achava que era pra tomar em terras pernambucanas. Não resistimos à primeira parada em terras sergipanas.

Planejamos a viagem por um roteiro alternativo, iríamos pela estrada do mar. Depois de Aracaju, seguindo pela BR 101, alguns quilômetros a frente, dobra-se à direita com destino a Neópolis, ainda em Sergipe. Lá, em uma balsa, atravessamos o rio e fomos dar em Penedo já em Alagoas, onde paramos para almoçar. Por causa desta parada, a viagem ficou dividida em duas partes significativas. AP (antes de Penedo) onde, exceto por um deslize em Estância-Se, já que lá entornamos uma dose do malte e duas inocentes latinhas, a viagem transcorreu normalmente sem maiores problemas, e DP (depois de Penedo) onde irresponsavelmente arriscamos a nossa e a vida dos outros, chapados que ficamos de tanta cachaça. De uma coisa tenho certeza, nunca mais na vida faço uma loucura dessas, já basta uma outra viagem a Sampa, anterior a esta, que depois contarei por aqui. No cardápio um peixe maravilhoso, cujo nome assim como do restaurante, não tenho a menor lembrança. Penedo é uma cidade linda, extremamente charmosa e foi irresistível pra nós, comer uma aguinha* por lá.

De Penedo a Maceió, segue-se por uma estrada beirando o litoral. Naquele ano, encontrava-se em perfeito estado diante de reforma recente. Por ela entra-se na capital alagoana pelas praias mais lindas de lá. Cynthia, até hoje, não se encontrou na direção, Guta, recém habilitada, sem experiência, não quis encarar a estrada. Sobrou pra mim a responsabilidade de guiar o Uno 95, sob o abusivo volume do som, as doses e latas. Minha comadre, que sentou ao meu lado na frente, depois de Penedo, assumiu a função de co-pilota. Perto de Maceió, já com a língua um tanto embolada, ela própria se promoveu a copilouca. Paramos por volta das 18hs na praia do Francês, em Maceió, no intuito de curar, se é que era possível, a cachaça num banho de mar. Água deliciosa, límpida e quente. Renovadas as energias, estávamos pronto pra retomar a 101 com destino a Recife. Até ali, sob dia claro numa estrada que conhecia bem, foi muito fácil. De lá em diante, já com a noite à porta, cheio de água na cabeça, por caminhos nunca dantes dirigidos, o inferno esteve próximo. Por várias vezes parei para molhar o rosto e reanimar. Prontamente a copilouca me servia de outra dose, já que as latas jaziam vazias num balde de lixo da praia do Francês.

Heroicamente, às 23hs, entramos no Recife. Meu compadre Zé Filho já diz que Deus protege os bêbados e as criancinhas, uma grande verdade. Intactos, sem conhecer as vias da cidade, quando demos conta estávamos na Boa Viagem. Por causa de uma pizzaria, Guta reconheceu que estávamos perto da casa de Jô. Este nos recebeu na porta, segurando na mão pendurado, algo que meu estado de embriaguez não me deixou reconhecer. Era uma banda inteira de um bode.

*Comer Água - Expressão típica da Bahia que significa tomar todas, encher a cara.

terça-feira, 17 de junho de 2008

"PUXA UM BANCO E SENTA" - Roda de Chimarrão

Publicada em 23 de abril de 2007 nos marcadores Textos e Turismo

Roda de Chimarrão

(Kleiton e Kledir)

Esquentei a água no fogareiro do boitatá
tô cevando um mate com erva boa da barbaquá.
E vâmo charlando e contando causos que "já lá vão",
é o sabor do pampa, de boca em boca, de mão em mão.

Acendi uma vela, que é pro negrinho nos ajudar,
a encontrar as estórias, porque a memória pode falhar.
E sabedoria é fechar o amargo e viver em paz,
mate e cara alegre, porque o resto a gente faz.

Puxa um banco e senta que tá na hora do chimarrão,
é o sabor do pampa de boca em boca, de mão em mão.
Puxa um banco e senta vem cá pra roda de chimarrão,
vem aquece a goela e de inhapa a alma e o coração.

Dizem que não presta mijar cruzado pois dá azar,
se grudou os cachorro só água fria pra separar.
Diz que palma benta, pra trovoada, é o melhor que há,
e se assobiar o minuano, é certo que vai clarear.

Minha avó me disse que andar descalço dá mijacão,
cavalo enfrenado na lua nova fica babão.
Com passarinheiro e mulher sardenta é bom se cuidar,
e quem vai depressa demais, a alma fica pra trás.

Puxa um banco e senta que tá na hora do chimarrão,
é o sabor do pampa de boca em boca, de mão em mão.
Puxa um banco e senta vem cá pra roda de chimarrão,
vem aquece a goela e de inhapa a alma e o coração.

O melhor pra tosse é cataplasma e chá de saião,
pra acabar com a gripe só sabugueiro ou então limão.
Pra curar berruga é benzer pra estrela e invocar Jesus,
contra mau olhado, um galho de arruda e o sinal da cruz.

Chá de quebra pedra, ipê, arnica e canela em pó,
hortelã, marmelo, marcela, boldo e capim cidró.
Tudo tem remédio: churriu, cobreiro e má digestão,
só pra dor de amor é que não tem jeito nem solução.

Puxa um banco e senta que tá na hora do chimarrão,
é o sabor do pampa de boca em boca, de mão em mão.
Puxa um banco e senta vem cá pra roda de chimarrão,
vem aquece a goela e de inhapa a alma e o coração.


Costumo falar que para conhecer bem uma cidade ou estado ou um país, é necessário conhecer o seu povo, suas tradições, sua cultura e, se possível, sua história. Por isso, quando viajo para um lugar pela primeira vez, procuro por em prática tais convicções. Começo sempre por andar nas ruas, conversar com os nativos, pegar ônibus coletivo, trem, visitar mercados públicos, feiras, museus, casas de cultura, tudo isto é um excelente começo. Interagir, esta é a palavra, é fundamental. Ficar visitando pontos turísticos vai com certeza engrossar o seu álbum de fotografias, mas jamais fazê-lo conhecer bem um lugar.

Mesmo antes de conhecer o Rio Grande do Sul, tinha muita curiosidade pra entender o chimarrão e toda a tradição que ele carrega. Descobri então que tomar o mate vai muito além de saborear um chá, tem todo um ritual em torno dele, que deve ser seguido à risca se você pretende de verdade mergulhar no âmago deste costume.

Tomar chimarrão é como beber, pra quem gosta é muito bom fazer sozinho, porém, com amigos a volta, a prosa rolando solta, é muito melhor. Este é um dos elementos que mais me agradam nesse costume, a famosa Roda de Chimarrão. Uma comunidade em confraternização, onde as pessoas interagem de maneira fraterna, aproximam-se mais, estreitando laços de amizade e companheirismo.

A roda de chimarrão tem suas regras e mandamentos, que pra alguns pode parecer frescura, mas, na verdade, são fundamentais para o bom desenrolar da confraternização. Em primeiro lugar é preciso saber preparar o mate o que é sempre feito pelo anfitrião. Põe-se a água no fogo enquanto prepara-se a cuia, o que se chama de cevar o mate. Enche-se aproximadamente de 60 a 70% da cuia com a erva. Veda-se a parte superior da cuia com a palma da mão inclinando-a de modo que a erva concentre-se num único lado. Mantendo a inclinação levemente despeje água morna ou fria no lado da cuia onde não há erva. Deixe inclinado até que a erva absorva a água. Isto dará sustentação à erva, de modo que, ao por a cuia de pé, ela mantenha-se apenas de um lado. Esquente a água até que a fervura esteja próxima. Nunca deixe a água ferver. O momento certo de desligar o fogo é quando começar a ouvir um chiado proveniente da chaleira. Despeje água no lado vazio da cuia até completá-la. Verifique se não há entupimento na bomba soprando-a. Vede a boca da bomba com o dedo polegar e introduza-a com a face do círculo inferior paralela à erva. Rode a bomba fixando a ponta num dos cantos até que fique firme (verifique como fica o mate montado na ilustração acima). Caso a água desça quando retirar o dedo da bomba, ele está pronto para ser saboreado. Se isto não acontecer, é bem provável que a bomba tenha entupido e aí será preciso muita habilidade para recuperá-lo. Na maioria das vezes não dá certo. Já vi muito gaúcho especialista desistindo de tal intento.

Neste momento o anfitrião vai se servir da primeira cuia. Isto, ao contrário do que possa parecer, é um ato de educação e deferência. A primeira cuia é a pior de todas. A mais amarga, a que mais contem a poeira da erva, uma vez que esta ainda não absorveu bem a água. Algumas pessoas inclusive, este é o meu caso, não engolem a primeira água. Puxam e cospem-na, tomando apenas da segunda vez em diante. Após tomada a primeira cuia, o anfitrião enche-a novamente e passa para a pessoa ao seu lado. Esta terá que tomá-la toda, devolver ao anfitrião para que ele torne a encher e passe para o próximo. Este ritual se repete em moto-contínuo, sempre respeitando a ordem dos participantes. Jamais tome pela metade, deve-se tomar toda a água até roncar quando se puxa, jamias peça um gole de quem estiver com a cuia na mão, mexa na posição da bomba ou solicite açúcar. São erros imperdoáveis pra quem leva a sério a tradição.

Neste passa-passa a conversa rola solta. Os mais variados assuntos são abordados, dos mais fúteis aos mais eruditos. As pessoas se soltam deixando-se levar pela delícia do mate e da confraternização.

Engana-se quem pensa que chimarrão é bebida de frio. Em algumas regiões do sul, determinadas épocas do ano, o calor chega a ser mais escaldante que o nordestino, mas o prazer de tomar o mate é o mesmo. Claro que, como é uma bebida ingerida na mais alta temperatura suportável, ela aquece o corpo e as idéias. Por isso se for convidado não se faça de rogado. Puxa um banco e senta!

Regionalismos Gaúchos

Boitatá: Fogo-fátuo. Vem do Guarani, mboi, cobra e cobra de fogo. É uma emanação de hidrogênio fosforado, muito leve, que tende a seguir o cavaleiro que viaja à noite obedecendo ao deslocamento de ar que o mesmo produz.
Cevando Um Mate: Preparando o chimarrão.
Barbaquá: Tipo de forno utilizado para a secagem da erva mate.
Charlando: Conversando, palestrando.
Causos: Estórias.
Já Lá Vão: De muito tempo, antigos.
Pampa: Denominação dada às vastas planícies do Rio Grande do Sul e dos países do Prata.
Negrinho: Referência ao Negrinho do Pastoreio. Reza a lenda que era um escravo de cor que tornou-se uma espécie de anjo bom dos pampas que ajuda as pessoas a encontrarem coisas perdidas.
Fechar o Amargo: Preparar o mate.
De Inhapa: De quebra, de brinde.
Minuano: Vento frio e seco que sopra do sudoeste no inverno.
Mijacão: Tumor ou abcesso que aparece na sola dos pés de quem costuma andar descalço.
Cavalo Enfrenado: Cavalo cujos freios foram colocados na boca.
Passarinheiro: Diz-se do animal de montaria que, andando na estrada, se assusta com qualquer coisa, priscando para os lados.
Churriu: Dor de barriga, diarréia.
Cobreiro: Erupção que se alastra pela pele.

Fontes de Pesquisa: Minidicionário Guasca (Gaúchês) de Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes. Editora Martins Livreiro, 1986 e a convivência com o povo gaúcho.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A PRIMEIRA GELADEIRA A GENTE NUNCA ESQUECE

Publicado em 13 de abril de 2007 no marcador Textos

Uma autêntica Frigidaire





Balada de Madame Frigidaire
(Belchior)

Ando pós-modernamente apaixonado pela nova geladeira.
Primeira escrava branca que eu comprei, veio e fez a revolução.
Esse eterno feminino do conforto industrial injetou-se em minha veia... Dei Bandeira!
E ao pôr fé nessa deusa gorda da tecnologia, gelei de pura emoção.
Ora! Desde muito adolescente me arrepio ante empregada debutante.
Uma elétrica doméstica então...Que sex appeal! Dá-me um frio na barriga.
Essa deusa da fertilidade, ready-made a la Duchamp, já passou de minha amante.
Virou superstar, a mulher ideal, mais que mãe, mais que a outra... Puta amiga.

Mister Andy, o papa pop, e outro amigo meu, xarope,
Se cansaram de dizer:-Pra que Deus, dinheiro e sexo,
Ideal, pátria e família,
pra quem já tem Frigidaire?

É Freud, rapaziada
vir a cair na cantada
de um objeto mulher.
- Eu me consumo , Madame....E a classe média que mame se, o céu, a prazo, se der.

Que brancorno abre e fecha sensual dessa Nossa Senhora Ascéptica.
Com ela eu saio e traio a televisão, rainha minha e de vocês.
Dona Frigidaire me come. But no Kids, doublé income! Filho compromete a estética.
Como Édipo Rei Momo como, e tomo tudo dela... Deleites da frigidez.

Inventores de Madame Frigidaire, peço bis, muito obrigado.
Afinal, na geladeira, bem ou mal, pôs-se o futuro do País.
E um futuro de terceira, posto assim na geladeira, nunca vai ficar passado.
Queira Deus no fim da orgia, já de cabecinha fria não leve um doce gelado.
Mister Andy, o papa pop, e outro amigo meu, xarope,
Se cansaram de dizer:-Pra que Deus, dinheiro e sexo,
Ideal, pátria e família,
pra quem já tem Frigidaire?
É Freud, rapaziada
vir a cair na cantada
de um objeto mulher. - Eu me consumo , Madame....E a classe média que mame se, o céu, a prazo, se der.
Mas que trocadilho infameLa vraie “Balade dês Dames du Temps Jadis” au contraire.

Estes maravilhosos versos de Belchior fazem-me lembrar da minha primeira geladeira. Segunda na verdade, já que a primeira foi doada e nunca funcionou. Servia de armário.

Depois de perambular por pensionatos e de uma desastrosa experiência de dividir um apartamento com um colega, eu e Luciano decidimos nos aventurar por alugar um apartamento. Só pra variar um pouco, meu pai foi contra. Pegando aqui um gancho deixado em texto anterior, A Necessidade Faz o Ladrão, onde falo dessas aventuras. Não tínhamos nada é claro. Dois estudantes sem renda, exceto umas aulas particulares que eu dava e umas tocadas de Luciano, que, diga-se de passagem, muito pouco rendiam, e tínhamos que montar uma casa inteira. Naquela época eu tava morando de favor na casa de minha tia Morena, minha madrinha na verdade, e Luciano num pensionato.

Começamos o corre-corre da procura. Anúncios de jornais, intermináveis visitas a imóveis quase sempre acabados, já que procurávamos algo bem em conta. Quando não era isso, ficava no fim do mundo. Aí uma amiga, Daniela, nos disse que tinha um apartamento para alugar no seu prédio, fomos lá verificar. O ap tava precisando de uma pintura e alguns ajustes que nunca foram feitos por sinal, mas era bom. Três quartos com dependências e o melhor de tudo, tava dentro do orçamento e ficava no Conjunto dos Bancários, no STIEP, bairro muito bem localizado, perto da rodoviária e do Iguatemi. É isso mesmo, em Salvador estar perto do Iguatemi é uma boa referência de localização. Brincadeiras à parte, quem conhece a cidade sabe porque, não por causa do shopping, mas sim pelo fato de ser bem localizado mesmo, de fácil acesso (tirando os engarrafamentos), com transporte a vontade para todos os pontos da cidade. E, ter um shopping como o Iguatemi por perto não deixa de ser uma mão na roda.

Aí veio Ruy Bala, um grande amigo, vindo de Serrinha para trabalhar em Salvador, entrando na roda para ocupar o terceiro quarto. Fizemos um mutirão e nós três mesmos, pintamos o dito cujo. Quanto aos móveis e utensílios, foi uma colcha de retalhos. Minha cama e algumas panelas velhas doadas por minha tia Morena. Ruy trouxe uma estante, sua cama e umas panelas da casa dos pais em Serrinha. Minha mãe entrou com outras tantas panelas, toalhas, roupa de cama, travesseiros e etc. A minha irmã Silvia, coube a doação da mesa, do fogão e da geladeira. Ela tinha acabado de comprar geladeira e fogão novos, e os dela comprados para o seu primeiro casamento em 1980, ficaram pra gente. Estávamos em 1988. A mesa na verdade, era sua prancheta do inacabado curso de arquitetura. Eu a apelidei de Haroldo, por causa daquele personagem de Chico Anísio, o viado que, com medo da AIDS, resolveu virar homem, e, por mais que tentasse, não conseguia. Era o caso da prancheta, por mais que tentássemos deixá-la nos noventa graus, reta como uma mesa, ela insistia em voltar à inclinação de prancheta e a gente era obrigado a fazer as refeições com os pratos e talheres escorregando por causa da inclinação.

O caminhão que trouxe as coisas de Serrinha onde minha irmã também morava na época, e de Santo Amaro, onde morava minha mãe, foi emprestado por meu tio Raimundo, meu padrinho, marido de tia Morena, da sua empresa. Fomos eu e Luciano na boléia com Zé, o motorista particular de minha tia, dirigindo o caminhão. Já na viagem de ida, um desses guardas rodoviários querendo uma graninha nos parou. Não lembro qual, mas encontrou alguma irregularidade no veículo, tipo a pintura ta arranhada, o banco ta furado ou coisa assim. Como não tínhamos grana para molhar sua mão, como ele insinuou por mais de uma vez, o filho da puta nos multou. Pra completar, na volta, quando entrava no condomínio, a uns cem metros do prédio, o caminhão quebrou o diferencial e não saiu mais do lugar. Só no dia seguinte quando o reboque chegou.

Não foi moleza carregar tudo para o apartamento que já ficava no terceiro andar dum prédio sem elevador, com o caminhão tão longe assim. Os carregadores éramos nós, eu, Luciano e Zé, além de Ruy, que não viajou, mas ficou nos esperando no ap. Foi aí que o desastre aconteceu.
Com carregadores tão franzinos e despreparados, na hora de levar a geladeira, uma duplex enorme por sinal, foi um fiasco. A escada, em forma de caracol, muito apertada, dificultava nossa ação. Algumas pessoas, sensibilizadas com nosso vexame, se ofereceram para ajudar. Quando percebi já tinha um batalhão empenhado na função. Foi aí que alguém teve a infeliz idéia de deitar a bichinha. A porta abriu de vez e quebrou e, com a excessiva inclinação, o gás foi embora. Com isso durante os seis meses que moramos ali ela nunca gelou e nós, por dureza talvez, por descaso não sei, nunca mandamos consertar. Virou nossa dispensa. Com a escassez de armários, acabou sendo de grande utilidade. Perdi a conta da quantidade de vezes que perdemos comida por não termos uma Frigidaire.

Acabados os incidentes da mudança, esses seis meses ali, foram maravilhosos. Tempos bons aqueles. Nossos fígados estariam em bem melhor estado se não tivéssemos alugado aquele ap.

Logo depois que mudei um tio meu, José, me convidou para tomar conta de uma sorveteria que ele comprara em Lauro de Freitas, cidade da grande Salvador. O gerente de sorveteria era, na verdade, motorista particular. Já que na sorveteria ficava um menino que ele contratou para ficar no balcão, e eu levando e buscando minha tia no trabalho, no supermercado, minha prima na escola e muito mais. Lá mesmo só ia de tardinha para pegar o dinheiro do caixa que, de tanto que era, meu tio baixou as portas dois meses depois e eu continuei com ele por um bom tempo. Tinha um lado bom, o carro dormia comigo e eu podia ir pra faculdade com ele, fora os passeios dos fins de semana.

Com o meu salário, que devia valer em moeda de hoje um salário mínimo e meio, fui juntando grana pra comprar uma geladeira nova. Talvez por isso tenha significado tanto pra mim. Comprada com o suor do meu primeiro trabalho fixo e com a responsabilidade do dinheiro economizado. Pena que ela não chegou a tempo de conhecer o apartamento dos Bancários. Quando a grana que juntei deu pra comprá-la, meu pai havia surpreendido todos nós e comprado um apartamento pra gente. Um sub-solo escuro, quente e úmido no popular bairro de Brotas, mas nosso.
Como a nova mudança já estava prestes pra acontecer, pedi à loja que fizesse a entrega no novo endereço. Ela foi o primeiro morador do apartamento já que ficou lá sozinha por mais de uma semana até nos mudarmos. Quando isto aconteceu, nós todos juntos redescobrimos o prazer de tomar uma água gelada. Aí nos apaixonamos pela nova Frigidaire!*
*Quando surgiu a geladeira, na década de quarenta, se não estou enganado, uma marca logo se popularizou a Frigidaire. Durante muitos anos, a marca virou sinônimo do produto e muita gente só chamava geladeira de frigidaire. É o caso daquela famosa lâmina de marca Gillette, que até hoje é assim.

terça-feira, 10 de junho de 2008

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ

Publicado em 25 de abril de 2007 nos marcadores Crônicas e Futebol

Conta a lenda que Zeboré, através da genética, herdou de seu pai uma de suas principais qualidades: ser um homem de visão. Intelectual, empresário bem sucedido, Zé tinha suas convicções e as defendia com unhas e dentes. Dentre elas a de que futebol era coisa de maluco, de quem não tinha o que fazer. Achava um absurdo, um ser humano passar a tarde de domingo com um radinho de pilha na mão, escutando palavras inaudíveis do locutor gritando feito um insano. Para ele isto era prenúncio certo de depressão na segunda. Exceto por farras homéricas tendo como pretexto os jogos do Brasil nas copas do mundo e umas poucas incursões a estádios levados por amigos loucos, segundo ele, apaixonados pela arte de chutar a bolinha.

Um alvo certeiro das suas críticas era o seu irmão Dibi. Torcedor fanático do Arranca Toco, principal rival do Perna de Pau, os dois melhores times da cidade onde moravam. Dibi era daqueles piolhos de estádio, onvinte assíduo de jogos e resenhas. Dos que se fantasiam dos pés a cabeça nos dias de peleja e, assim como todo bom torcedor, detesta quando falam mal do seu time ou da sua paixão. Frustradas foram todas as tentativas de Dibi de convencer Zeboré do contrário. Fazer vê-lo a beleza do esporte, a integração do torcedor, a diversão saudável que alivia as tensões da vida e das preocupações pessoais. Dibi desistiu, pensava estar ali um caso perdido. Estava enganado. A vida dá muitas voltas e às vezes nos prega peças arrasadoras.

Depois da bancarrota, Zeboré se viu na mais profunda depressão. Sem trabalho ou perspectiva, sua reserva esvaindo-se pelo ralo abaixo, sem luz no fim do túnel. Já quase jogando a toalha, Carequinha, grande amigo de vida, outro louco apaixonado pelo esporte, assume uma função na diretoria do Perna de Pau e convida-o a assessorá-lo. O salário não era dos melhores, mas qualquer coisa é melhor do que nada. Assustava-lhe a idéia de trabalhar neste mundo do qual se considerava um ET. Sem opção mais aprazível Zeboré aceitou o desafio.

Ainda segundo a lenda, uma semana depois, nosso personagem foi visto vestido de Perna de Pau até o pescoço, gritando desesperadamente no meio da torcida nas arquibancadas do estádio do seu, agora, clube do coração, discutindo regras, ou cagando-as talvez, e ainda por cima empunhando rente ao ouvido, um rádio de pilha que mais parecia um micro system. É isso aí Zeboré, esse mundo dá voltas….

sábado, 7 de junho de 2008

RESERVADO PARA IDOSOS, GESTANTES E DEFICIENTES

Postado em 17 de abril de 2007 no marcador Crônicas

Ele entrou no ônibus exausto após um dia estafante de muito trabalho. Como seu ponto de partida era perto do início da linha, ainda encontrou vazia uma daquelas cadeiras reservadas para idosos e deficientes. Aquela hora do dia, nos intermináveis quilômetros e paradas que separam o Itaigara de Periperi, lá na periferia da cidade, com certeza a lotação iria entupir. Só restava rezar para o impossível acontecer: não entrar no veículo, nenhum idoso, grávida ou aleijadinho que lhe forçasse, já que era um homem de princípios e de boa educação, a ceder o assento. Ainda em Brotas, portanto muito longe de alcançar o fim da linha, seu lugar de descer, o buzu já tava entupido inclusive com gente pendurada pela porta da entrada. Eis que ao seu lado, carregada de livros e sacolas, uma linda mulher, de seus 25 anos, encosta na sua cadeira. Foi instantânea a sua atração por adorável criatura mas, o seu estado de total fadiga não permitiu que cedesse ao incontrolável desejo de levantar para que a moça sentasse. Limitou-se a pegar seus livros e sacolas e guardá-los no colo para descansar braços tão macios e lindos.

No sacolejo da viagem, nos freios de arrumação, vez ou outra a moça roçava em seu ombro a maciez de seu sexo. A ereção foi natural e ele rezou pra que ela não descesse tão cedo. Primeiro para continuar sentindo aquele contato maravilhoso, segundo pra não ser obrigado a tirar do colo os objetos que escondiam desconcertante situação.

A viagem transcorria normalmente, se é que se pode chamar de normal o estado de quase orgasmo em que encontrava-se quando, já na Calçada, Cidade Baixa, sobe uma velhinha, com certeza com mais de setenta, pela porta da frente. Ele não conseguia entender como a velha subiu, aquele lugar parecia não caber uma mosca sequer. Em fração de segundos, intermináveis dúvidas povoaram o seu cérebro. Ceder o lugar a velha ou usufruir do êxtase que sentia com a moça a roçar-lhe o corpo e já era capaz de sentir o cheiro que emanava das entranhas daquela mulher. Difícil escolha.

Desconcertado, com as faces rubras, levantou-se para que a idosa sentasse. Quando foi entregar a moça seus livros e pacotes, esta, num movimento tão rápido que seus olhos perderam ao piscar, sentou-se no seu lugar. A pobre velha ficou em pé, espremida pelos inúmeros passageiros que amontoavam-se no corredor. Pensou em reclamar com a mulher mas a visão do seu rosto e as lembranças do prazer que esta lhe proporcionara minutos atrás, não lhe permitiram. Envergonhado, desceu na próxima parada e pegou outro ônibus para casa, ainda mais lotado que aquele.

HUMANA

Não penses nas coisas ruins
Muito menos naquelas melhores
Lembras só que não é um fim
O destino sabe o que podes

Não escondas os seus segredos
Não de você, nunca mais
Não se debatas nos medos
Não seja seus próprios punhais

Um horizonte te espera
Uma vida, um caminho
Uma luz e uma era
Uma flor em cima do espinho

Encontrarás o que busca
Não fugaz ou passageiro
Mesmo agora que te ofuscas
Dentro deste cativeiro

Dedicado a Ana Casanova

quinta-feira, 5 de junho de 2008

EM PARCELAS - Saudades de Samantha!

Como disse no post anterior, não vou sumir daqui nem dos blogs que eu leio. Apenas irei diminuir a frequência das novas publicações e visitas. No entanto, encontrei um jeito de não deixar meu espaço estático. Vou republicar postagens antigas e prestigiar os meus ídolos, como Samantha Abreu. Fazia tempo que não a lia. Já publiquei aqui alguns vídeos dela e encontrei esta outra pérola agora. Sem permissão, sem nada, já tô botando aqui. Sei que ela não vai se zangar, pois sabe que sou seu fã de carteirinha! Um beijo Samantha! Mais uma vez você arrasou!




Texto: Em Parcelas
Autora: Samantha Abreu

Intérprete: Samantha Abreu


Samanta Abreu é uma grande escritora e poeta paranaense que escreve os blogs Haute Intimitè e Mulheres Sob Descontrole além de colaborar no Versos de Falópio e na revista virtual Trapiches. É ainda a autora de uma frase que eu acho definitiva: "Escrevo para ser outras tantas, para fingir, fantasiar e, no final das contas, poder sair da festa sem ser vista."

terça-feira, 3 de junho de 2008

OS MEUS 10 ANOS

Já faz um bom tempo que tenho pensado em tudo que fiz no meu passado, o que tenho feito no meu presente e, principalmente, o que estou fazendo para preparar o meu futuro. Estas elucubrações, cada vez mais frequentes nos escaninhos da minha mente, estão me deixando inquieto, insone e preocupado. Outro dia li o post de Paulo Bono, 10 Anos, onde ele faz uma reflexão dos dez últimos anos que se passaram na sua vida. Achei muito interessante algumas colocações, embora pense que ele se julga muito menor do que na verdade é, ou pelo menos, quer nos fazer pensar assim.

"Dias assim envelheço uns 10 anos. Muito tempo. São duas Copas do Mundo. Prefiro até achar que é muito tempo mesmo. Quando penso que é pouco fico deprimido. Lembro onde eu estava há 10 anos atrás. Saía da faculdade, achava que ganharia o Profissionais do Ano, participava de rodinhas de violão. Como se fosse ontem. Mas foi há 10 anos." Diz Paulo e continua refletindo "...Dias como o de hoje são longos, mas 10 anos passam rápido. Se penso nesse tempinho de merda à frente, terei 40. E antigamente eu chamava quem tinha 40 de coroa. Ou seja, mais alguns míseros 10 anos, só mais duas Copas do Mundo, e eu serei um coroa. Mais gordo e mais careca. Dias assim me fazem pensar cada bobagem"... Aí ele conclui "...Foda é que daqui a 10 anos vou continuar sendo eu mesmo. O mesmo de 10, 20 anos atrás. Pior ainda, o mesmo de hoje. Dá um medo da porra. O problema é saber que a minha vida depende de mim. Aí então que estou fudido. Porque eu não sei consertar nem um chuveiro."
Gosto muito dos contos de Paulo e nunca tinha visto ele escrever sobre reflexões interiores. Como tudo que ele bota no papel, a qualidade é visível. Neste caso, eu, como sempre influenciado pelos seus textos, fiz a minha própria reflexão. Principalmente depois de ter postado o seguinte comentário para tal texto: "Cara, às vezes me sinto exatamente deste jeito, como uma merda, como se tivesse deixado o tempo passar em vão. Mas, se a gente olhar pra trás, verá que nos dez anos passados, sempre fizemos algo de útil e podemos fazer muito mais nos dez anos que virão. Não pode é deixar a peteca cair. Nunca é tarde para começar, seja o que for. Você pode ser tudo, menos uma farsa. Você é bom pra caralho. Escrevi outro conto no blog. Tenho vontade de parar de escrevê-los. Sempre acho depois que o texto é influência sua e fico puto! Mas, eu escrevia antes de te conhecer então tenho que continuar. Pelo menos é uma boa influência."
É isso! Será que eu estava abalizado para dar-lhe tal conselho? Será que eu próprio estava fazendo algo para os próximos dez anos serem melhores do que os anteriores. Definitivamente não. E isso precisa mudar. Como disse para Paulo, sem dúvida fiz muita coisa de boa e útil, mas preciso fazer muito mais e ainda há tempo pra isso. Muito tempo espero eu. Não quero morrer tão cedo, embora a morte não marque hora nem local. "Para morrer basta estar vivo". Todos os dias temos provas cabais de que esta máxima é verdadeira. Não importa a idade, a classe social, o poder que se tem, não importa nada. Basta ser um vivente para estar pronto pra morrer a qualquer momento. E, justamente por isso, é preciso começar o quanto antes seja o que for que quisermos fazer antes de partirmos para um novo mundo.

Baseado em tais reflexões, tracei alguns objetivos que quero alcançar na minha vida muito em breve. Uma delas é deixar de fumar e outras que agora prefiro não falar, mas que preciso buscá-las desesperadamente para ter paz com minha consciência e traçar melhores dias para o meu futuro e de meus filhos. Embora eu só tenha uma, não pretendo parar por aí. Por isso minha presença aqui, bem como nos blogs dos amigos que tanto admiro, se tornará bem menos frequente. Preciso dedicar mais tempo a tais intentos. Isto não significa que abandonarei o blog ou que deixarei de ler os blogs fantásticos que conheci até agora neste universo, mas, com certeza, estarei bem mais ausente por um período indeterminado. Continuarei publicando os comentários. Continuarei escrevendo(acho que agora não consigo mais parar) e lendo mas preciso de um tempo para mim. Quando eu voltar de vez será com todo o gás, podem ter certeza. Enquanto isso, de vez em quando aparecerei para dar notícias. Irei também republicar alguns posts antigos que tenho vontade de serem lidos pelos novos visitantes. Postagens de uma época que aqui quase ninguém aparecia e quase ninguém comentava.

Enquanto isso vou correr atrás porque minha vida só depende de mim. E olha que acabei de consertar o meu chuveiro.

CONFISSÕES & CONFIDÊNCIAS...

Um dia deixar de fumar
Estou tentando agora,
Trazer Júlia do Pará,
Hoje é lá que ela mora,
E se eu soubesse cantar
A melodia de "Amora"*

Seriam as três alegrias...

Medo maior que morrer
Acho que só senti
O de já não mais poder
Ver Júlia de volta aqui
E o medo de nunca vencer
O vício a que me referi

Os medos são agonias...

Ter minha filha por perto
Minha vida melhorar,
Ter outra filha decerto,
Isso não pode faltar,
Com a mulher que eu amo
E um dia quero casar

São objetivos, tais alegorias...

Mais uma vez quero Júlia
Eu grito, eu berro, eu narro,
De novo ratificar,
Um dia largar o cigarro,
O meu salário aumentar
E reformar o meu carro.

Obsediado me sinto esses dias...

Sou carinhoso e amigo
Com quem tenha cativado
Sou tímido e introvertido
Mesmo não sendo calado
As vezes desinibido,
Forte libido, tarado.

Surpreso(a)? O que querias?...

P.S. Post respondendo à proposta de Mary onde temos de responder quais as nossas três alegrias, nossos três medos, objetivos, obsessões e fatos surpreendentes. Agora repassado para:

Éverton
Lorena
Tata
Leandro
Ana

*Referência à música Amora de Renato Teixeira