sexta-feira, 18 de setembro de 2009

TERRA BAHIA


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Terra Brasil, brasileira
Parada primeira
Colonização
Que se regala festeira
À sua maneira
Num só coração

Berço de tantos talentos
Fortes monumentos
Da nossa cultura
Velhos, rapazes, rebentos
Palavras, inventos
A arte mais pura

Terra de mil Caetanos
Caroso, Adrianos
Valverdes e Rosas
Terra dos Novos Baianos
Amados, fulanos
De Ruys e Barbosas

Terra de boa comida
Gilbertos dão vida
Pros tempos de paz
Castros e Alves na lida
Poesia esculpida
Versos de Moraes

Lugar onde o vento gorjeia
Menina, sereia
Tarde, Itapoã
Quem se deitar nesta areia
Pulsará na veia
De um belo amanhã

Onde renasçam Caimmys
Com notas sublimes
Rede e violão
Onde na esteira de vime
Preguiça é vitrine
Para uma nação

Onde nasceram Marias
Bethânias, poesias
Costas e Gal
Caldas, Dodôs e folias
Reinado de dias
O som, carnaval

Cantam Sangalos e Leites
Pra nosso deleite
Macedos, João
Fortes como seu azeite
Tempero de peixes
Abará, camarão

Dadá e seu sorriso lindo
Nascendo, fluindo
Para exportação
Porto seguro, menino
Correndo, carpindo
Mais uma canção

Terra de tantas belezas
Naturais riquezas
De mares e rios
Terra de tão farta mesa
Alegria e tristeza
Num só desafio

Aqui nasceram pessoas
Tão raras, tão boas
Quase uma elegia
Tu és o hino que entoa
O sino que soa
És terra, Bahia!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O VENDEDOR


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Conta a piada que um certo vendedor, desesperado pela grande maré de azar que atravessava, há meses não preenchia uma folha no seu talão de pedidos, resolveu não trabalhar naquele dia e vagava pela praia procurando espairecer. De repente, uma dor lancinante. Descalço que estava, topara com toda força num objeto metálico e quente por causa do sol em brasa. Depois de proferir palavrões inenarráveis, abaixou-se para acariciar o dedão na vã tentativa de aplacar a dor. Neste momento observou que o tal objeto, nada mais era que a lâmpada perdida por Aladim. Sem titubear, alisou o objeto mágico libertando o Gênio de séculos de prisão.
-O senhor é meu amo, pois me libertou. Com isso terá direito a três pedidos.
-Um minutinho só, enquanto vou correndo no carro buscar o talão.
Não sei se por coincidência ou por capricho do destino, veio parar na minha mão por empréstimo, o livro O Vendedor de Sonhos de Augusto Cury, justamente no momento que acabo de me tornar um vendedor, não de sonhos, não tenho tal pretensão, mas de remédios e produtos de farmácia. Ainda não descobri o que esse maravilhoso livro, pude perceber isso pelo pouco que li até agora, terá relação com minha nova atividade. Mas uma história destas, contada de maneira tão deliciosa, com ensinamentos profundos, com certeza terá sua contribuição no meu engrandecimento nesta nova jornada.

Ainda não tinha contado isto a vocês, mas depois de um ano desempregado, acumulando dívidas e à beira do desespero, me apareceu esta oportunidade que agarrei com mãos, pés, boca e tudo mais que sirva para agarrar alguma coisa. Vale lembrar que isto foi uma mudança radical na minha vida. Primeiro porque tive que me mudar. Agora fixei residência em Serrinha, a 170 km de Salvador, para poder atender a região que darei cobertura, o sertão baiano, na área da produção de sisal. São muitas cidades que visito semanalmente: a partir de Serrinha, que também faz parte do meu setor, vem: Teofilândia, Araci, Jorrinho, Caldas do Jorro, Tucano, Quijingue, Euclides da Cunha, Uauá, Canudos, Monte Santo, Cansanção, Nordestina, Queimadas, Santa Luz, Valente, Retirolândia, Conceição do Coité, até chegar novamente a Serrinha, perfazendo uma ferradura de mais de 600 km de extensão.

Depois, tem o fato de nunca eu ter tido experiência com vendas e não entender praticamente nada de medicamentos e suas substâncias com nomes estrambólicos, parecidos, muitas vezes, e de difícil assimilação. Com isso, venho dando muitas cabeçadas, mas, depois de quase três semanas de atividade, acho que estou me saindo até bem, numa otimista auto-avaliação. Este é um dos motivos, sem querer aqui dar nenhuma desculpa esfarrapada pelo meu desaparecimento do mundo maravilhoso dos blogs. A verdade é que pouco estou podendo acessar a net. Trabalhando quase 13 horas por dia, perambulando por cidades que, na sua maioria, não tem internet nos hotéis, como é o caso de agora que escrevo sozinho, num aconchegante, limpo e agradável quarto de hotel em Santa Luz, ficou mais difícil de escrever coisas novas, ler meus autores blogueiros prediletos e, principalmente, comentar nas suas maravilhosas postagens.

Bem, voltando ao vendedor, não consigo descrever a sensação sentida quando por fim, gastei a primeira folha do meu talão de pedidos. Foi deslumbrante, mesmo tendo sido um pedido pouco acima do pedido mínimo e longe de ser um bom pedido. Quase tremia ao preencher aquelas poucas linhas com quantidades, nomes confusos e pouca compreensão. Como um bom sinal, foi no meu primeiro dia de trabalho. Segundo os experientes da área, isto não é fácil. Ponto pra mim. É claro que venho dando minhas cabeçadas, mas aos poucos estou encontrando meu estilo, minha forma de vender. Não sonhos, estes vou tendo enquanto dirijo sob o sol escaldante do sertão baiano, suado nas roupas quentes e apresentáveis que agora sou obrigado a usar, mas os Diclofenacos, Losartanas, Fluoxetinas, Cloridratos e tantos outros acos, anas e inas da vida, pagando propinas a guardas rodoviários para não me multarem por causa das duas linhas de vidro trincado no pára-brisa do meu carro, que a precária situação financeira não me deixou trocar.

Já foram várias as garfes que cometi. Como perguntar ao cliente o fabricante de determinado remédio mais conhecido que o Papa e ouvi dele: -Já vi que você é marinheiro de primeira viagem. –Sim. Respondi. –Porém, não conheço nenhum marinheiro experiente que não tenha dado a primeira viagem ou alguém que aprendeu a nadar sem se jogar pela primeira vez na água. Semana passada, eu cometi uma outra que me deixou muito envergonhado. Depois de conhecer, num pequeno intervalo de tempo, mais de cem pessoas, cometi a imprudência de confiar na memória. Entrei num estabelecimento, sem consultar minhas anotações, que já tinha visitado na semana anterior e chamei sua dona pelo nome.
-Como vai Dona Maria Luiza?
-Bem, mas me chamo Rita de Cássia.
Desconsertado falei a primeira bobagem que me veio na cabeça:
-Maria Luiza e Rita de Cássia? É quase a mesma coisa, chega até a rimar.
Era a cidade de Queimadas, onde até hoje eu não tinha tirado nenhum pedido. É claro que a senhora não comprou nada em minha mão, por mais que eu tentasse me redimir. No lugar dela eu também não compraria.
- Não se zangue comigo D. Rita. Conheci muitas pessoas nos últimos dias e fica difícil gravar o nome de todas. Tire um pedidozinho com seu amigo, para batizá-lo na cidade. Ainda não vendi nada aqui em Queimadas. Preciso mandar o leite da menina.
-Não foi nada Adriano. Não tem nada a ver com isso. Estou sem faltas, já pedi o que precisava com outros representantes. Quem sabe na próxima semana.

Não botei muita fé. Aquelas palavras foi o que eu mais tinha ouvido nos últimos dias. Fui embora desolado sem vender um comprimido na cidade. Hoje, estava retornando à Queimadas e, entrando na cidade, alguns versos surgiram de repente na minha cabeça quase a porta da farmácia da simpática senhora. Então não titubeei. Desci do carro e entrei no estabelecimento falando:

O que D. Rita de Cássia precisa
É tirar um pedido com Adriano
Para que este não cometa o engano
De chamar-lhe Maria Luiza

E aí D. Rita de Cássia?
Flor das acácias de terras amadas
Minha caneta está pronta
Pra marcar na sua ponta
Meu batismo em Queimadas.
Ela riu, olhou meu catálogo e fez um gordo pedido. Mais um ponto para mim. Quem sabe um dia eu chego lá? Eu acredito e continuo sonhando.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

MEU PÉ DE CAJU

Fração dos meus averes prediletos
O meu pé de caju detrás de um muro
Safra em safra me dá frutos seletos
Mas deles ele logo fica puro

Além do passaredo e dos insetos
Mazelas naturais que lhe não curo
Com pedradas garotos irriquietos
Lá não deixam para mim caju maduro

Não me zango, porque não me exaspera
A garotada lesta divertida
A derribar cajus....

E até quisera ser eu
Um pé de caju da mesma classe
Para que produzindo nesta vida
Desse fruto a quem pedra me jogasse.