terça-feira, 29 de abril de 2008

DE MALAS PRONTAS

Estes últimos dias eu abandonei a leitura dos meus blogs favoritos, assim como deixei de postar no meu. Me limitei apenas a publicar os comentários que chegaram e acredito que vou continuar assim por mais alguns dias. É que estou tomando de volta os dias que a empresa limou das minhas férias de fevereiro e, nesta madrugada, estou partindo para São Paulo onde vou passar uma semana com Léo, meu sobrinho, que na verdade é um grande amigo, e rever vários amigos(as) do peito que, pela grandeza do número, seria muito extenso citar nome por nome aqui. A verdade é que estou morrendo de saudades deles e para mim será muito bom aplacar este sentimento, assim como reviver esta cidade que eu tanto já maldisse. Então, passei esses últimos dias super absorvido no trabalho, para deixar tudo pronto e encaminhado na minha ausência.

Se tiver oportunidade, visitarei os amigos blogueiros e, assim como fiz em Belém, publicarei novas linhas. Caso isso não aconteça, peço perdão a todos, preciso desses dias de descanso. Sampa, mais uma vez peço desculpas. Receba-me de braços abertos por favor!

sábado, 26 de abril de 2008

COM AMOR

Sexo com amor é muito mais gostoso,
É muito mais intenso,
É muito mais paixão.

Sexo com amor é algo inenarrável,
É muito mais beleza,
É muito mais tesão.

Sexo com amor é muito mais sublime,
É muito mais perfume,
É muito mais sabor.

Sexo com amor é tudo de bom,
É muito mais forte,
É muito mais calor.

Sexo, só por sexo,
É muito bom também,
Nos traz satisfação.

Mas se o amor existe
Na hora do sexo,
É muito mais coração.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

POEMA DOS SETE DIAS - A SEMANA

Citei este poema de Arnaldo Antunes para a amiga Raysla Camelo do Sutiã Quarenta e Seis, e, como ela disse não conhecer e não o ter encontrado na net, revirei meus escaninhos para achá-lo e mandar para ela. Relendo tais versos, voltei a me encantar com o poema. Um primor! Então resolvi publicá-lo e disponibilizar o seu áudio. Arnaldo dá um show de interpretação. Tal poema foi escrito sob encomenda da revista Época para uma campanha publicitária. Como todos sabem, a revista é uma publicação semanal.

A semana


Para um preso, menos 7 dias,
Para um doente, mais 7 dias,
Para os felizes, 7 motivos,
Para os tristes, 7 remédios,
Para os ricos, 7 jantares,
Para os pobres, 7 fomes,
Para a esperança, 7 novas manhãs
Para a insônia, 7 longas noites,
Para os sozinhos, 7 chances,
Para os ausentes, 7 culpas,
Para um cachorro, 49 dias,
Para uma mosca, 7 gerações,
Para os empresários, 25% do mês,
Para os economistas, 0, 019 do ano,
Para o pessimista, 7 riscos,
Para o otimista, 7 oportunidades,
Para a Terra, 7 voltas,
Para o pescador, 7 partidas,
Para cumprir o prazo, pouco,
Para criar o mundo, o suficiente,
Para uma gripe, a cura,
Para uma rosa, a morte,
Para a História, nada,
Para a Época, tudo.

Arnaldo Antunes - ...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

UNIVERSO FEMININO

O universo feminino é infinito,
Ele é muito mais bonito,
Que a tela da Monalisa.

O universo feminino é glorioso,
Sutil e maravilhoso,
Fio de lâmina precisa.

O universo feminino é instantâneo,
Um túnel subterrâneo,
Para a mente masculina.

O universo feminino é divino,
Não basta ser um menino,
Para entender a menina.

O universo feminino é complicado,
Um problema elaborado,
Pro vestibular do ITA.

O universo feminino está exposto,
Numa lágrima no rosto,
Daquela mulher bonita.

O universo feminino é consistente,
Muda os destinos da gente,
Sem compaixão ou pudor.

O universo feminino é cruel,
Mostra o avesso do céu,
Dentro de um fosso de amor.

O universo feminino é banal,
Sempre te manda um sinal,
De tudo que vai fazer.

O universo feminino é previsível,
É bem mais que acessível,
Basta saber entender.

O universo feminino é sagrado,
Um manto abençoado,
Cobrindo o nosso corpo.

O universo feminino é gostoso,
Uma torrente de gozo,
Turbilhão, um alvoroço.

O universo feminino é poesia,
Que faz clarear o dia,
Inspiração de poeta.

O universo feminino é um refúgio,
Cheio de subterfúgios,
Age de forma concreta.

O universo feminino é perspicaz,
Lindo, louco e fugaz,
Como um filme de Almodóvar.

O universo feminino é o sabor,
Temperando com amor,
O cheiro forte de anchovas.

O universo feminino é bacana,
Quando nos leva pra cama,
Quando nos deixa no céu.

O universo feminino é biodegradável,
Sensação tão agradável,
Dissolve como um papel.

O universo feminino me dá medo,
É um buraco negro,
No chão onde se anda.

O universo feminino é pertinência,
Da nossa obediência,
Já que é ele quem manda.

O universo feminino é vanguarda,
É tudo que você guarda,
Dentro de um coração.

O universo feminino é caprichoso,
Só com um líquido viscoso,
Eterniza a criação.

O universo feminino é cantilena,
"Um cenário de cinema,
Um poema à beira mar." ***

O universo feminino é nostalgia,
É tudo que eu queria,
Um dia poder alcançar.

Que tolice descalabra essa minha,
Tentar num monte de linhas,
Palavras, rimas e versos,

Desvendar a mais profunda teoria,
Descrever como seria,
O perfil desse universo.

***Citação de versos de Chico Buarque, da música "A Violeira" com melodia de Tom Jobim.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O SIGNIFICADO DOS SONHOS

Sinézio foi dormir muito ansioso naquela quinta 17 de abril de 2008. As coisas não andavam bem para ele ultimamente. E o estranho sonho vinha se repetindo há meses. "...O super-homem falando: aproveita que ela ainda é sua!..."

Estava muito desconfiado que Mirtez, sua amada noiva, a mulher da sua vida, com quem pretendia casar, ter filhos e netos, iria a qualquer momento lhe dar um pé na bunda, mesmo depois dos cinco anos de noivado. Estava quase arrependido de não ter cedido antes à pressão que ela fazia para o casamento. Ele só desconversava, dizia que ainda não era a hora, que estava esperando a promoção na empresa do Pólo Petroquímico de Camaçari, onde trabalhava há doze anos. Continuava deixando-a a segundo plano, priorizando os amigos e a cervejada, as noites no dominó, os sábados de sinuca e os domingos no Barradão. Isto para não falar das outras mulheres que, de vez em quando, ele traçava nas saídas com os amigos na sexta. Nada sério, só sexo casual. Mirtez nunca soube nem desconfiou, isto era um orgulho. Ele sabia trabalhar! Sem contar que, as segundas e quartas eram sagradas. Sempre dedicadas à ela.

Há muito Mirtez vinha tendo um comportamento diferente. Já não era a mesma pessoa. Mostrava-se fria, principalmente no sexo. Parara de cobrá-lo, de querer discutir a relação, de ligar toda hora para saber onde ele andava, de fazer surpresinhas nas datas especiais, e, o que é pior, não demonstrava infelicidade, pelo contrário, andava com ares sorridentes, mas com ele, sempre muito fria. Começava a temer por seu futuro com Mirtez. Por mais machista que fosse, não era burro o suficiente para ignorar os sinais que ela há um bom tempo vinha mandando. Começou a ficar apavorado e decidiu que sexta, 18 de abril de 2008, dia em que seria finalmente promovido, a pediria em casamento e poria fim de uma vez por todas à sua vida de solteiro. Fim dos dominós da terça, dos babas da quinta, das farras de sexta com os amigos do trabalho, dos sábados na sinuca e dos domingos no Barradão vibrando por seu Vitória. Agora seria um homem casado, muito bem casado e, portanto, teria toda a semana para a sua mulher, com quem construiria sua família. Mesmo que isto fosse lhe custar um grande sacrifício.

Naquela sexta, mudaria sua vida. Ainda pela manhã, no meio do expediente, ligou para ela e a convidou para jantar. Disse que tinha algo especial a falar-lhe. Fez uma reserva num dos restaurantes mais caros da cidade, o Trapiche Adelaide. Mesa para dois, à luz de velas. Seria o pedido oficial. Encomendou um bouquet especial de flores vermelhas na floricultura do shopping, esta estaria aberta quando ele chegasse do pólo. Já se imaginava descendo na frente do Iguatemi, pegando as flores, indo para casa de táxi, tomando um belo banho, vestindo sua roupa nova e usando seu perfume francês, comprados especialmente na véspera para a ocasião. Aí, iria de carro buscar Mirtez em casa para a noite maravilhosa que os esperava. Uma suíte de primeira, também já estava reservada no motel Del Rey.

Na hora do almoço, no refeitório da fábrica, sentou com o melhor amigo da empresa, Marinho. Contou a ele o que faria aquela noite e o amigo deu-lhe a maior força. -Já não era sem tempo Nezinho. Nenhuma mulher aguenta tanto descaso por muito tempo. Se demorasse mais, acabaria por levar um pé no traseiro. -O pior Marinho é que eu já venho desconfiando que ela pensa em terminar comigo. -Então não perca tempo homem. Se tem certeza que a ama, vá em frente. Case com ela. -É o que vou fazer hoje. Pedi-la em casamento. Depois do almoço, os dois foram para a sala de descanso e Sinézio, como de costume, recostou-se no sofá e, pela primeira vez, aquele sonho louco, noturno, apareceu na sua tradicional sesta. "...Sinézio era apenas um menino de doze anos. Adorava os passeios de Domingo com os pais, principalmente quando íam ao zoológico. Naquele domingo no entanto, aconteceu algo muito especial...." - Acorda Nezinho! Tá na hora de bater o cartão! Era Mário.

Trabalhou aquela tarde com uma estranha angústia no peito. Teve muita taquicardia, mas atribuiu ao fato de estar esperando o chamado do chefe para a conversa do final do expediente, onde receberia enfim, a tão sonhada promoção. Já tinha subido de posto cinco vezes, desde quando entrou na empresa como auxiliar de manutenção, há doze anos atrás. Agora sem dúvida, deveria ser promovido à supervisor. Isto lhe traria em média trinta por cento de aumento salarial e uma posição de bem mais força e status junto aos colegas. Se sentia muito orgulhoso. Às 16hs, Sr Nonato o chamou na sala. Quando recebeu a ligação da secretária do chefe, seu coração parou por alguns segundos. Ele respirou fundo, tomou um pouco de água, se recompôs e foi atender ao chamado. Na recepção, a secretária pediu que aguardasse. Entrou e demorou bastante. Ele não sabe quanto tempo se passou, se uma hora ou dois minutos, mas, por incrível que pareça, mesmo com toda a ansiedade, cochilou de novo e voltou a sonhar.

"...Ele estava todo uniformizado. Vitória dos pés à cabeça, assim como o pai. Depois do zoológico, iriam pra casa almoçar e, de tarde, o Ba X Vi na Fonte Nova. Ele adorava os Ba X Vi´s e os domingos de futebol. Seu pai sempre o levava. Era dia de churrasquinho de gato, de pipoca fria deliciosa, muito refrigerante e dos palavrões. Em sua casa era proibido, o próprio pai o repreendia. Mas lá ele podia ouvir e dizer "porra", "filho da puta", "puta-que-pariu", "caralho" e tantos outros, tudo isto com o aval do pai. De repente, enquanto dava pipoca ao macaco, ignorando a placa que proibia dar comida aos animais, ouviu um forte barulho vindo de cima. Olhou pro céu e não acreditou. Era o super-homem. Seu maior ídolo. Gritou pros pais: -Olhem, o super-homem! Ninguém respondia. Parecia que só ele era capaz de ver o seu herói. Pensou: ele veio falar comigo! Mas o super homem pousou na jaula ao lado da que ele estava, a dos leões. Ignorando à todos, baixou a sunga vermelha, mostrando um pinto descomunal e duro como Nezinho nunca tinha visto e fez com um leão, o mesmo que via seu cachorrinho fazer com a cadela da vizinha. Foi muito rápido. O leão gritava muito, quase chorava. Ele se perguntava porque Laika fazia cara de prazer com seu cachorrinho. Quando acabou, antes de sair voando, o super-homem falou pra ele: aproveita que ela ainda é sua!..." -Seu Sinézio, Sr Nonato pediu pro senhor entrar! Desconsertado, ele levantou da poltrona e entrou na sala do chefe enxugando o suor com o lenço.

- Sinézio. Serei direto com você, justamente por reconhecer a importância dos seus serviços e o quanto você merecia uma promoção. Mas a empresa está passando por uma série de dificuldades e, infelizmente, fará um corte grande de pessoal. Tentei evitar mas não consegui te poupar. Você será incluído na lista de demissões que será divulgada na próxima segunda pela manhã. Saiba que não concordo com isso, mas infelizmente a ordem é superior à mim. Farei de tudo para te ajudar. Tentarei te indicar para um outro trabalho. Tenho muitos amigos no Pólo. Só chamei você aqui, porque não iria me perdoar se deixasse você saber da notícia numa circular, como vai acontecer com os outros vinte e nove. Só te peço segredo até segunda! Sinésio não disse uma palavra. Faltou chão abaixo dos seus pés. Na mesma hora pensou em Mirtez. Teve lucidez pra lembrar que o mundo não havia acabado. Receberia indenização, tinha o FGTS. Nem tudo estava perdido. Era competente e em breve, com certeza, estaria empregado novamente.

Saiu atordoado da sala do Sr Nonato, entrou no ônibus de uma outra turma. Não queria ver os amigos que, com certeza, fariam vários questionamentos sobre a promoção. Apenas uma coisa era certa para ele. Não poderia perder Mirtez. Então resolveu manter todo o plano romântico que arquitetara. Desceu no shopping, pegou as flores, tomou seu banho e se perfumou. Antes de sair de casa viu que precisava de uma quente para conter o nervosismo. Abriu uma garrafa de cachaça mineira das boas, presente de um amigo que recentemente viajou à Minas e tomou três doses duplas. Voltou ao banheiro, escovou os dentes novamente e saiu. Na porta do prédio de Mirtez a cena na sala do chefe voltou à sua mente. O desespero foi imenso e ele não teve coragem de chamar. Então saiu e parou no primeiro bar e começou a beber. Pouco depois o celular começou a tocar. Era Mirtez. A última vez que ele olhou, eram 22:10hs e a já era a vigésima segunda ligação.

Às três e meia da manhã, completamente bêbado, voltou ao prédio de Mirtez. Era conhecido de todos e tinha a chave do apartamento. Não teve problemas para entar. Quando abriu a porta do quarto e sala, logo ouviu os gritos do amor vindo do quarto de Mirtez. - Vem meu super-homem, me faz mulher, me ama, me foooo.... Desesperado, correu pra cozinha, pegou uma faca e, em silêncio, foi para o quarto. Estava escuro, luz apagada. Não quis ouvir mais nada. Avançou e desferiu cinquenta e nove golpes em cima dos amantes. O sangue jorrou sujando Sinézio todo e o quarto do chão ao teto. Aí ele parou, mais uma vez respirou fundo e acendeu a luz. Mirtez e o amante, mortos, desconfigurados. - Meu Deus! O que eu fiz? Gritou com todas as suas forças. Sentou na cama e olhou para baixo. Repousada no chão, ao lado do amante de Mirtez, uma camisa do Bahia. Ele a pegou e viu o desenho do super-homem.

No domingo, no radinho de pilha de um companheiro de cela, ouviu o Vitória tomar 4 x 1 do Bahia em pleno Barradão. Depois do jogo, foi leão por quatro vezes para os super-homens da cela...

TRIIIMMMM, TRIIIMMMM, TRIIIMMMM, TRIIIMMMM. Olhou assustado pro despertador. Quatro horas da manhã. Conferiu o relógio para ver a data: sexta 18 de abril de 2008. - Ufa! Foi um sonho. Foi para o trabalho e, à noite, num jantar à luz de velas, pediu Mirtez em casamento. Foram muito felizes. Não para sempre, mas foram.

sábado, 19 de abril de 2008

O CHORO DA MONTANHA

Quando eu era criança, falo da época em que tinha uns quatro ou cinco anos de idade, sonhava em ser poeta e compositor. Não tenho a mínima idéia do que me levava a isto. Talvez por ver meu pai tocando instrumentos e seus amigos cantando lá em casa nos finais de semana, ou por ter um irmão, doze anos mais velho do que eu, que já era letrista e poeta, mas tinha esse sonho dentro de mim. Além disto, tinha outra pretensão, queria ser astronauta. Na época, morava no interior, acho que em Juazeiro, da Bahia, aquele vizinho à Petrolina em Pernambuco, e vim passar férias aqui em Salvador na casa de meu tio José, um gozador e pirracento por excelência. Pouco antes da viagem, vi uma reportagem no Fantástico que me fez ver, mesmo naquela idade, o quanto ser astronauta estava distante de minhas possibilidades. Então decidi: -Serei um poeta e um compositor.

Durante as férias, num dia de descontração total, meu tio me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Metido à merda que era, respondi: -Não quero ser, eu já sou! Compositor e poeta! Ele então me desafiou. -Já que você já é, recite um poema, ou cante uma música que já tenha feito. Quase me caguei nas calças, nunca tinha escrito nem composto nada. Mas, para não perder a pose, de repente, cantei uma música com melodia e tudo, para demonstrar que não estava mentindo. Não lembro de tudo, mas, os primeiros versos, nunca me deixaram esquecer. Até hoje, com quase quarenta anos, ainda me gozam por causa deles. Eram os seguintes:

Não choras montanha
Pois a sua vida vai melhorar
Se estás com muita fome
Deixa que te dou um pouco de comida...

Daí em diante, inventei um monte de versos desencontrados, assim como estes, mas cantei uma música inteira, com melodia e tudo e ainda a intitulei de Choro da Montanha. Acho que por castigo, por causa desta mentira deslavada, aos quinze anos parei de escrever e fiquei totalmente bloqueado para tal. Virei professor de matemática, gerente financeiro, e agora, quase vinte e cinco anos depois, tento recuperar o tempo perdido. Será que vou conseguir?

ESPERANDO AMANHÃ(OU HOJE MAIS TARDE)

Eu entrei em profunda letargia
Porque em mais um dia
Vou extravasar,

Me preparo para a alegria
Que de muito longe
Vem me encontrar.

Eu espero, a simbiose perfeita
Minha diva eleita
Amanhã vai chegar.

Não controlo a ansiedade
Sono é saudade
Quando vai chegar?

Há quanto tempo
Pareço um morto?
Um aeroporto vai ressuscitar.

Uma vida quase acabada,
Mas sempre uma estrada
Pode aproximar.

Esta ânsia,
Uma idéia espúria,
Esperando Júlia
Neste chão pousar.

Amanhã? Serei mais feliz,
Some a cicatriz,
Chegam alegrias,

Mesmo que o tempo
Me pareça curto,
Livro-me do surto
Durante três dias.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

MATANDO AS SAUDADES

Este será um feriadão extremamente especial para mim. O grande amor da minha vida, minha pequena Júlia, está vindo passá-lo comigo. Não vejo a hora de dar-lhe um abraço forte, ouvir sua voz, sentir seu carinho e seu calor.

Desde fevereiro morando em Belém-Pa, só temos conversado via MSN ou telefone. A internet sem dúvida ajuda a amenizar a distância, mas, para mim que estava acostumado à sua presença diária, já que ela morava comigo, que a levava e buscava na escola todos os dias, que cozinhava para ela, que ouvia suas histórias e suas queixas, a dor tem sido muito grande. Não sei onde tenho ido buscar forças para suportar esta saudade(que palavrinha, hein?).

Mas é isto! A vida às vezes nos põe à prova e temos que ter equilíbrio e maturidade para enfrentá-las, se quisermos ser aprovados neste concurso infindável que é a nossa existência.

Quando a deixei em Belém, em fevereiro desse ano, pensei que fosse morrer, que não resistiria. No entanto a vida segue seu curso e estou eu aqui agora para viver esta imensa alegria. Naquela época, escrevi um poema que traduzia tudo que eu estava sentindo, se chama Júlia. Clique no nome para lê-lo. Ali expresso tudo que sentia naquele momento, são palavras sinceras, tiradas do fundo da dor.

Amanhã tudo será diferente. Não vejo a hora de vê-la atravessar a porta do desembarque no aeroporto. Serão três dias de muita felicidade. Uma grande chance de matar as saudades!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

AZEITONAS

Matando a curiosidade de muitas pessoas que depois do meu post A PIZZA DO BONNO - ADELAIDE, ou através de comentários ou verbalmente, estão me perguntando se passei a gostar de azeitonas, NÃO. Definitivamente NÃO, embora esteja disposto a abrir outras exceções.

MAIS UM SELO ESPECIAL

Minha Maluca Adorável, a querida amiga Tata, a Fada Mutante, com sua imensa bondade e carinho, me deu de presente mais esse selo. Me deixa muito feliz saber que uma pessoa como ela, cujo coração caberia uma galáxia inteira, tem admiração e carinho pelo que escrevo. Mais uma vez agradeço do fundo do meu coração, que tem pra ela um lugar muito especial. Beijos Maluquinha, você é dez! Aliás dez não, você é MIL. Como não sou egoísta, e admiro um monte de outros blogs, vou dividir este presentes com alguns que descobri recentemente e estão me dando momentos deliciosos de leitura. São eles:


Nobre Ordinário - Denis Barbosa Cacique
Apenas Palavras - Fabiana Rinaldi
Biscuit Geral - Jô e Clau

E, em especial, pela sensibilidade e carinho, mais uma vez para:

Humana - Anavision

Vocês merecem muito mais!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

VIVA AS DIFERENÇAS

Esta semana recebi do amigo Luis Edson um e-mail dissertando sobre a maneira do nordestino falar. Seu sotaque cantado, meio arrastado, suas expressões típicas e as peculiaridades do nordestinês. Uma coisa que gostei muito no texto, foi o fato de ele incentivar o povo do nordeste a se orgulhar da seu dialeto e procurar manter suas origens onde quer que estejam. Ignorar as gozações Brasil a fora, principalmente as dos sulistas. O povo que valoriza sua cultura e sua história se fortalece e se impõe perante os preconceituosos que, na maioria das vezes falam do que não conhecem.

Isto me fez refletir sobre uma coisa muito boa para todos nós. A riqueza cultural do nosso país é imensa e não precisamos ficar medindo forças ou fazendo comparações desnecessárias, apenas cada um respeitando as diferenças entre cada cultura e sabendo dar valor ao que é seu. Isto se reflete na língua, no comportamento, na culinária, na música e em tantos outros aspectos da cultura popular. Somos privilegiados neste aspecto. Já imaginou um chinês, por exemplo, que não entenda nada de português, ouvindo um baiano, um gaúcho e um mineiro conversarem? Com certeza vai pensar que são três idiomas diferentes sem entender como eles conseguem se comunicar. Estas diferenças acontecem às vezes, dentro de um mesmo estado. Aqui na Bahia mesmo, eu que já perambulei muito pelo interior, senti na pele as diferenças marcantes entre a maneira de cada povo falar. Quando morava em Serrinha, sertão do estado, ouvia a expressão "enrabar" de forma inocente com muita frequência. Significava correr atrás, perseguir. O próprio Aurélio traz essa definição. Quando mudei para Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, e levei uma carreira de um famoso cachorro da cidade, o Faísca, e contei na escola que o bicho tinha me "enrabado", fui alvo de gozações por muito tempo entre os colegas. A expressão lá tinha um outro significado, nada agradável, que também consta no Aurélio. Resultado, durante meses fui o menino que "Faísca enrabou". Que Mico!

Já em Serrinha, "bateria" significava apenas a pilha que alimenta seu rádio, ou o que dá energia aos instrumentos elétricos do seu carro, em Santo Amaro também podia expressar aquele amigo querido com quem você estava sempre junto. Quando fui na Chapada Diamantina pela primeira vez, ao perguntar sobre como chegar num determinado ponto turístico, fui informado que deveria pegar o "kombão" das oito. Intrigado procurei saber o que aquilo significava e descobri que se tratava de um ônibus que passava em Lençóis diariamente. A expressão nasceu porque em tempos antigos, ônibus não circulavam por lá e o transporte de passageiros era feito por kombis. Quando o primeiro ônibus apareceu, foi logo apelidado de "kombão", ou seja, uma kombi grande. A expressão pegou e atravessou décadas e gerações. Tudo isso dentro de um mesmo estado. Só aqui, seriam inúmeros exemplos a citar. Na verdade eu acho essas diferenças uma riqueza, uma prova da criatividade do nosso povo.

Ontem, assistindo ao DVD do Vander Lee, Pensei Que Fosse o Céu, fiquei encantado com uma história que ele contou. Uma vez perguntado porque ele, mineiro da gema, já tinha feito músicas para vários meios de transporte como navios, aviões e ônibus urbanos, que por sinal lá eles chamam de "balaio", nunca tinha escrito uma canção sobre trens que é quase um símbolo do estado. Ele então falou que já tinha feito várias músicas falando sobre trens. O interlocutor, sem identificar a canção, perguntou logo: -Qual? -Uai, navio é o "trem" que flutua, avião é o "trem" que vôa e balaio é o "trem" que anda! Uma verdade incontestável!

Já viajei muito Brasil afora e aprendi a respeitar essas diferenças e valorizar a minha cultura, meu modo de falar. Sou baiano e nordestino com muito orgulho e se alguém achar graça, fico até orgulhoso. Não me importo mais com as piadas de mau gosto. Não me atingem mais. Em todos os lugares, seja no norte ou no sul, sempre existirão pessoas pobres de espírito e preconceituosas assim como existem as pessoas decentes e equilibradas. Eu mesmo tenho amigos espalhados pelos quatro cantos do Brasil, que me valorizam do jeito que sou, com minha cultura e meu modo de falar e sabem que a recíproca é sempre verdadeira. Agora mesmo, estou indo brevemente passar sete dias em São Paulo, onde irei encontrar amigos do peito que, com certeza, me receberão como o Cristo Redentor que fica no Rio de Janeiro: de braços abertos.

Todo este bolodório de dialetos e costumes, me fez lembrar de uma música que fala sobre a cultura e a riqueza do nordeste, mas que, na minha opinião, retrata isso de forma preconceituosa. Fala em divisão e é extremamente utópica. No entanto, não posso deixar de dar a ela o valor poético da letra, que ora compartilho com vocês. Mas, não corroboro com o que ela diz, mesmo que no final ela tente se redimir. Não quero divisões, quero somar. Não quero separar, quero unir. Não quero bairrismo, quero viajar. Não quero as raças brigando, quero a miscigenação e, sobretudo, quero o amor. Muito amor entre as pessoas, raças, povos e nações.

Nordeste Independente
(Bráulio Tavares/Ivanildo Vila Nova)

Já que existe no Sul este conceito
que o Nordeste é ruim, seco e ingrato,
já que existe a separação de fato
é preciso torná-la de direito.
Quando um dia qualquer isso fôr feito
todos dois vão lucrar imensamente
começando uma vida diferente
da que a gente até hoje tem vivido:
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

Dividindo a partir de Salvador
o Nordeste seria outro país:
vigoroso, leal, rico e feliz,
sem dever a ninguém no exterior.
Jangadeiro seria o senador
o cassaco de roça era o suplente
cantador de viola o presidente
e o vaqueiro era o líder do partido.
Imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

Em Recife o distrito industrial
o idioma ia ser "nordestinense"
a bandeira de renda cearense
"Asa Branca" era o hino nacional
o folheto era o símbolo oficial
a moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o Inconfidente
Lampião o herói inesquecido:
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

O Brasil ia ter de importar
do Nordeste algodão, cana, caju,
carnaúba, laranja, babaçu,
abacaxi e o sal de cozinhar.
O arroz e o agave do lugar
a cebola, o petróleo, o aguardente;
o Nordeste é auto-suficiente
nosso lucro seria garantido
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

Se isso aí se tornar realidade
e alguém do Brasil nos visitar
neste nosso país vai encontrar
confiança, respeito e amizade
tem o pão repartido na metade
tem o prato na mesa, a cama quente:
brasileiro será irmão da gente
venha cá, que será bem recebido...
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

Eu não quero com isso que vocês
imaginem que eu tento ser grosseiro
pois se lembrem que o povo brasileiro
é amigo do povo português.
Se um dia a separação se fêz
todos dois se respeitam no presente
se isso aí já deu certo antigamente
nesse exemplo concreto e conhecido,
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

A PIZZA DO BONNO - ADELAIDE

Parque Marinha do Brasil - Porto Alegre-Rs
Foto: José Adilson Rocha da Rosa

Era Dezembro de 1989 e, como de costume, passava minhas férias de final de ano em Porto Alegre. Sempre ficava hospedado na Peri Machado em Menino Deus, um bairro charmoso, arborizado e muito bonito, assim como a maioria da cidade. O Shopping Praia de Belas ainda estava em construção valorizando meteoricamente toda aquela área. A tarde estava num calor escaldante e abafado. O calor de Porto Alegre é muito pior que o do nordeste. Lá, quando fica quente, sem a brisa do mar pra amenizar, é um calor desses que dá vontade de sair correndo nu e mergulhar na primeira poça de água que você encontrar. Estava sozinho, em casa, todos estavam trabalhando, ali só eu estava de férias, relendo Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marquez, o melhor livro de ficção que já li, e suando em bicas já que o ventilador não dava vencimento. Fiquei agoniado e saí pra dar uma caminhada pelo Marinha, na tentativa de amenizar o calor, e brindar os olhos com as gaúchas maravilhosas que gostam de fazer cooper ou caminhar no parque nos finais de tarde. Se bem que era só pra botar colírio nos olhos mesmo, porque um baiano, provinciano, magro-esquelético e pobre, não tinha a menor chance com as mulheres em POA. Isto era o que eu achava até aquele dia. Precisava existir uma maluca para a minha teoria ser desbancada. Ainda bem que existia.

Ontem eu estava lendo o Espalitando Dente de Paulo Bonno, um blog de contos e crônicas de uma baiano escrachado que escreve bem pra caralho. O conto se chama A Buceta Amiga, e uma passagem do texto, me fez de imediato, lembrar de Adelaide. O cara, assim como eu, detesta azeitonas, e, depois do sexo conversando com a parceira diz: - Flavinha, minha filha. Buceta, pra mim, é que nem pizza sem azeitona. Eu como todas. Foi exatamente aí que me lembrei de Adelaide e da estranha coincidência que se deu entre azeitonas, pizzas e seus sabores.

Eu adoro pizzas, gosto de qualquer sabor, mas sempre que vou à uma pizzaria, olho o cardápio insistentemente e acabo pedindo sempre o mesmo sabor: Portuguesa. Sempre com a mesma ressalva: - Sem azeitonas por favor! Para mim a azeitona com seu gosto forte e enjoativo, tira o sabor de qualquer coisa, quanto mais de uma portuguesa, que é um dos sabores que mais gosto na vida.

Tomei um banho frio, botei um short, um tênis e uma camiseta e, com minhas pernas de sabiá, walkman na cintura e fones nos ouvidos, fui andar no Marinha. Observava os traseuntes, principalmente as mulheres. Muitos casais com seus filhos brincando, sentavam naquelas cadeiras desmontáveis, tomando chimarrão e conversando. Eu iá e vinha em passos lentos, só observando e e ouvindo música. A tarde começava a ir embora então caminhei até as margens do Guaíba para apreciar o pôr-do-sol. É uma das melhores imagens do pôr-do-sol que já vi na vida. Na beira do Guaíba. Certa feita teve uma eleição no Zero Hora, o maior jornal da cidade, patrocinada por um grande banco, para eleger o mais bonito cartão postal de lá. Ganhou a estátua do Laçador. Fiquei indignado já que votei várias vezes no pôr-do-sol do Guaíba. Depois parei pra pensar. Que porra eu tinha de ficar indignado se nem de Porto Alegre eu era? Mas fiquei!
Pôr-do-sol no Guaíba - Deslumbrante

Na beira do rio, sentei numa extremidade de um tronco comprido onde na outra, não tive nenhuma intenção maldosa até o momento, estava uma menina tomando chimarrão e apreciando a paisagem. Acendi um cigarro e olhei o horizonte. Aí a guria se aproximou perguntando se eu tinha fogo. É claro que eu tinha fogo, acabei de acender um cigarro, que pergunta idiota! Pensei. Sabiamente não disse nada. Puxei o isqueiro do bolso e dei pra ela. Ela tirou da bolsa um cigarro de maconha. Eu já tinha tido experiências anteriores mas nunca tinha visto um baseado daquele tamanho, muito menos daquele diâmetro. Ela acendeu e perguntou: - Te incomoda? -Não. Respondi. Ela sentou a meu lado e começou a puxar papo. Eu fumando meu cigarro, ela fumando seu bagulho. Logo ela começou a rir do meu sotaque. Disse que eu falava de um jeito engraçado. No início eu ficava puto com essas coisas mas depois me acostumei. Percebi que as pessoas não falavam por mal e eu no fundo, também achava engraçado o jeito deles falarem. Quanto mais ela fumava, mais ela ria de mim. Perguntou se eu queria dar um trago. Aceitei. Puxei duas vezes mas me arrependi. Fiquei na paranóia de dar revertério. Eu não era acostumado, muito menos com um daquele tamanho.

Ela se levantou algumas vezes, e percebi que, se não fosse pela total falta de bunda, ela seria uma mulher perfeita. Era alta, bonita, pele clara como algodão, cabelos pretos, longos e lisos. Os olhos de um verde faiscante mas o que mais me chamava atenção eram os seus seios médios, na blusa fina de malha sem sutiã, desafiando a teoria de Newton sem nenhum pudor. Conversamos muito tempo. Falamos muito sobre, música, literatura, poetas e tantos outros assuntos e percebemos que tínhamos muitas coisas em comum. Tomei chimarrão com ela e, àquela altura, já estava totalmente envolvido pela beleza de Adelaide. O tempo passou rápido e quando notamos já havia escurecido. Fica perigoso quando cai a noite ali. Ela então sugeriu uma pizza para matar a larica. De pronto eu aceitei. Não pela fome, que nem tava grande assim, mas pela companhia maravilhosa que ela se mostrou ser. Pegamos um ônibus e em pouco tempo estávamos sentados na mesa de uma pizzaria pequena, mas aconchegante, lá mesmo em Menino Deus. Como cavalheiro que sou, falei para ela escolher seu sabor primeiro. Ela nem olhou o cardápio. - Frango com Catupiry. Fiquei me perguntando o que leva um ser humano a sentar numa pizzaria e pedir frango com catupiry. Gosto é foda! Eu, olhei o cardápio atentamente por longos minutos até que decidi: -Portuguesa. Sem azeitonas por favor! - Você gosta de comer uma portuguesa, né? Falou com um sorriso irônico, lindo e malicioso nos lábios. - Gosto. - Sabia que eu, nasci em Lisbôa? Se Paulo Bonno tivesse escrevendo esse conto iria logo falar. - Essa putinha safada tá querendo me dar. Foi o que pensei.

Na mesa voltamos a conversar sobre música e ela perguntou se eu conhecia Nei Lisbôa. Falei que conhecia pouco, mas que amava a música "Verão em Calcutá". - Vamos pra minha casa, vou te apresentar o trabalho dele completo você vai amar. Não fui nem louco de pensar em dizer não. Pegamos outro ônibus e fomos pro bairro de Santana, muito perto dali. Ela morava sozinha num apartamento pequeno de um prédio antigo numa rua calma. O ap era milimetricamente arrumado e decorado com muito bom gosto. Ela botou um LP de Nei, o Noves Fora, e começamos a discutir sobre o som, interpretar as letras e, ao som de "Verdes Anos", trocamos o primeiro beijo. Não resisti à tentação de por a mão em cima daqueles seios, por baixo da camiseta que não oferecia qualquer resistência ao ato. Sem perceber, ali na sala mesmo, em cima do tapete macio, tiramos a roupa e comecei a beijar inteiramente aquela pele branca e macia. Quando cheguei no seu sexo, quase me embriaguei com o cheiro. Um cheiro maravilhoso de buceta. O melhor cheiro do mundo. Comecei a chupar com volúpia aquele sexo molhado, sedento e cheiroso. Acho que ela gozou muito pois gritava e tremia feito uma louca, suas pernas me apertavam como se fossem me sufocar. Foi aí que percebi que a agulha do disco tinha enganchado. "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...".

De repente ela pediu para eu parar, implorou na verdade, gritando feito uma insana, -Pára filho da puta gostoso! Pára! Eu parei. Ela veio pra cima de mim e me beijou como se fôssemos amantes a muito tempo. Com muito carinho. Tinha nos olhos o brilho da felicidade. O som rolando "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...". Levantei e pus outro disco. Revirei sua discoteca e escolhi Cores e Nomes de Caetano. Enquanto trocava de disco ela foi na cozinha e voltou com uma bandeja que eu nem percebi o que continha. Pegou uma toalha imensa, dessas de praia, estendeu em cima do tapete e disse: - Vem aqui! Obedeci prontamente. Da bandeja, ela tirou um copo cheio de gelo e começou a passsar pelo corpo bem devagar, parou um bom tempo em cima do bico dos seios e depois de bem molhada pediu para eu lamber. Mais uma vez obedeci. Pegou a já diminuta pedra de gelo e pôs dentro do umbigo. Tirou outra pedra do copo e colocou dentro da vagina. Eu enlouqueci com aquela cena. Quase como se desse uma ordem a um escravo mandou que eu chupasse de novo até o gelo derreter. Obedeci novamente. Depois foi a vez dos pêssegos em caldas. Ela se lambuzou toda, e eu amo pêssego em caldas. Acho que era uma tara da guria, das mais gostosas por sinal. Foi aí que tudo aconteceu. Depois que, com a língua, limpei toda a calda de pêssegos do seu corpo e comi todos os pedaços que estavam por cima dele, dividindo com ela de quando em vez, levando pedaços pra sua boca, fornecidos através de beijos carinhosos. A próxima especiaria daquela lambuzada foi um copo pequeno de azeitonas em conservas que ela derramou inteiro sobre o corpo. Na mesma hora meu pau broxou. Eu ainda não havia penetrado na menina. - Que coisa feia! Foi isso que a filha da puta falou. - Venha ver que azeitona não é tão ruim assim! Colocou uma dentro da vagina e mandou eu comer quase aos berros. - Coma essa porra dessa azeitona seu filho da puta! E eu comi. Comi a única azeitona gostosa da minha vida. Tão gostosa que fez meu pau subir novamente. Depois fomos pro banheiro e transamos loucamente. Adelaide era uma máquina insaciável, quase morri do coração naquele dia.

Duas horas da manhã, desci do taxi na Peri Machado. Imaginei como os meus anfitriões deviam estar preocupados. Não tinha avisado nada. Quando abri a porta do apartamento, minha mãeúcha estava no sofá fumando um cigarro com uma cara de quem tava puta da vida. - Tá "gambá" baiano safado? - Não, só não sabia que azeitona podia ser gostosa.

Dedicado a Paulo Bonno

sábado, 12 de abril de 2008

PAIXÃO

Eu acabo de fazer amor
E a mulher que dorme ao meu lado,
Bumbum empinado,
Linda, leve e nua,
Com certeza está mais feliz.

Não como eu, um privilegiado,
Que viajei e fui pro espaço,
Sem gravidade, pisei na lua,
E vi o mundo, ao contrário do gris.

Acabo de me apaixonar,
E de ser o homem mais feliz do mundo.
De perder as forças,
E ficar imundo,
Com o vermelho da menstruação.

Acabo de saber que o sexo,
Não tem sentido, ruído, nem nexo,
É o reflexo da escuridão.
Quando clareia o meu ser desnudo,
Quando esclarece a minha paixão.

UMA MULHER

Eu sou uma mulher completa,
Daquelas que certas
Sabem se virar,

Eu sou uma mulher madura,
Que não busca a cura
Nos olhos do par.

Eu sou uma mulher perfeita,
Uma Deusa eleita
Pra te iluminar.

Eu sou uma mulher humana,
Nas horas da cama
Faço viajar.

Sou uma mulher submissa,
Frequento a missa,
Vou me confessar.

Mulher forte na labuta,
Eu sou uma puta,
A santa do altar.

Sou uma mulher sedenta,
Muito ciumenta,
A diva do amor,

Às vezes, nem sei quem eu fui,
Não sei quem serei,
Mas sei o que sou.

"Eu sou apenas, uma mulher"

quinta-feira, 10 de abril de 2008

DESAFIO DA HUMANA

Humana me desafia,
Que eu não posso esconder,
As oito coisas que queria,
Fazer antes de morrer

Uma tarefa que afoito,
Quase impossível eu diria
Porque muito mais de oito,
Tantas coisas eu queria

Uma delas é cruel,
Não queria morrer só,
Muito menos ir pro céu,
Sem saber dançar forró

Uma outra fantasia
Diversão, como num parque,
Pelo menos por um dia
Seria Chico Buarque

Para ficar mais completo,
Melhorar a minha imagem,
Assim como a Gabi,
Fazer outra tatuagem

Ver a minha filha linda,
Na barriga ter um feto,
Porque não quero morrer
Sem dar um beijo num neto

Não quero morrer também,
Sem mostrar pra minha filha,
Um irmão, outro neném,
Aumentar minha família

Manter o que conquistei,
Tudo aquilo porque brigo,
Sei que jamais morrerei
Se não tiver um amigo

Tenho que passar pra frente,
Pra que alguém se desafie
Prefiro ficar silente
Quem quiser se pronuncie

Agora contando vejo,
Vi que faltou um dizer,
O meu último desejo?
Eu não queria morrer.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

CINZEL


Desenhas no meu corpo a tatuagem,
Imagem perene do teu brasão.
Marcas para sempre a minha pele,
Repeles no entanto meu coração.

As gotas de sangue na ponta do cinzel,
São marcas visíveis da minha dor.
Mas não és capaz, sequer em papel,
De registrares as imagens de um amor.

Tatuagens se apagam ou se cobrem,
Palavras e atos são gravações
Eternas na mente para os que podem,
Sentí-las nas almas dos corações.

terça-feira, 8 de abril de 2008

RE-NOVIDADE - "UMA GRATA SURPRESA"


Éverton Vidal, do blog Re-Novidade, um cara que descobri recentemente, cuja leitura me fascina pela sua coerência, pela clareza e consistência das suas colocações e, sobretudo, pelos belos poemas que escreve, acaba de me deixar sem fôlego e me tirar o sono, e, ainda por cima de afastar minha estafa, mental e física, ao me mandar este precioso presente em forma de selo, exagerando, é bem verdade, ao me chamar de gênio. Ele tem visitado o meu blog com bastante frequência, de forma natural a recíproca tem sido verdadeira, mesmo com o pouco tempo que tenho tido ultimamente para dedicar-me à este espaço, e, como sempre, fazendo comentários muito lúcidos e gentis.

Já para desligar o micro, estafado que estava após um dia apocalíptico de trabalho, com a cabeça latejando de números, contas e planilhas, fui publicar um comentário que tinha no meu último post, ESCRITÓRIO, que por sinal, havia acabado de postar, depois que voltei do trabalho. Era justamente dele. Naturalmente acabei dando uma passadinha lá e recebi este presente que muito me orgulha e me enche de alegria. Obrigado Éverton. Não sei se mereço mas fiquei extremamente feliz, Tanto que, ao contrário do que te falei, levantei da cama e vim aqui, dividir esta alegria com outros talentos preciosos assim como o seu. São eles:

Mary - Uma menina
Humana - Anavision
Gabi - Mil Folhas
Nanda Nascimento - Dália Rosada
Cackau Loureiro - Café Com Creme
Jacinta - Florescer
Carol Barcellos - Rosa de Cristal
Gabriele Fidalgo - Strawberry Fields
Lorena - Strange Little Girl
Maluca Adorável - Fada Mutante
Ricardo Jung - Poeisis - O Rato Contra a Vassoura

Obrigado Éverton! Perdi o sono mas ganhei a noite. Valeu!

P.S. E, ainda com minha cara de pau, "roubei" do seu blog, a idéia de por músicas e áudios que tenham a ver comigo. Desculpa Éverton!

ESCRITÓRIO

Os números mil,
Emaranhados na minha mente.
As cifras ou a falta delas
Que não me pertencem,
Me tiram o sono e me deixam agitado.

Um monte de papéis,
Sem palavras, sem poemas.
Equações irresolutas,
Planilhas e estratagemas,
Fazem da mesa um campo minado.

A cabeça dói, o coração aperta,
Levanto para fumar um cigarro.
Vejo os carros passando,
A noite caindo, e a rua já quase deserta.
Volto para os números, busco o resultado.

A prestação de contas é implacável,
Tem que estar pronta no dia certo.
Parece um castigo, um grande dilema,
Essa rotina que vivo, entre clips e papéis.

Enfim, como um parto,
Está pronta a planilha.
De repente desperto e mudo de cena.
Com a mente estafada voando a milhas,
Pego a caneta e escrevo um poema.

sábado, 5 de abril de 2008

DESPEDIDA

Leva em paz avião, oceano,
Uma amizade, um amor febril.
Cada dia que passar ao longo desse ano
Irá parecer que passou mais de mil.
Aquele que mora no fundo do peito,
Navega além mar em terras lusitanas,
Onde não sinto seu colo gentil.

Como queria dizer que te amo,
Agora um ano vou ter que esperar.
Rogo que passe como aeroplano,
Ou como um raio, ou como um piscar.
Sofro saudade de ti Luciano
O choro do peito não posso evitar.

UMA MENINA

Tu não és igual mil,
Porque és única e uma só.
Por mais que Chico seja completo,
Por mais que certo eu esteja aqui,
Não sei aonde estás ao certo,
Mas não estás no Tuiuti.

Talvez um menino,
Menino Deus,
Riscando os muros da Mauá, sem redenção.
Andando pelo Marinha ou na rua da Praia,
Talvez de saia ou camisão.
Talvez composta ou sem calcinha,
Ou a guria da Assunção.

És uma prenda ou porra louca?
Do Bar do Beto ou CTG?
És do Brasil, talvez Assis,
Moinhos de Vento buscam você?

Serás a alta da Cidade Baixa?
Ou és a baixa lá do Bonfim?
Serás ruim, ou és a falsa?
Serás o vinho, aquele bom?
A patricinha dançando valsa,
O vanerão no Partenon?

Não sei quem és, nem me arrisco,
A te encontrar no Dado Beer,
Muito menos na praça do Japão.
Se és alegre ou és um porto,
Ou o Guaíba, inundação?

Só sei que és tu e mais ninguém,
Naquela pátria que te pariu,
Se colorada ou tricolor,
Se és amor à beira rio?

Mas sei que és aquela flor,
Do Redentor ou Laçador,
Ou em algum canto de rua.
Vestida, feia, linda ou nua,
Nunca serás igual a mil!

PALAVRAS MARCANTES

"Tira o marfim fica o preço, de um elefante tombado." Edmundo Carôso

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O SONHO É UM PENSAMENTO, A REALIDADE É UMA AÇÃO!


Era uma época boa demais embora eles não soubessem disso. Faziam o que se chamava então, de segundo ano do segundo grau. Ricos, remediados, e até alguns pobres, todos estudavam num colégio particular de, no mínimo, classe média alta. Uma turma unida, entrosada. Um professor de geografia teve a idéia de fazer um passeio didático para a Chapada Diamantina, mas precisamente Lençóis. Para os meninos, a didática estava renegada à últimos planos, o que estava valendo mesmo era a curtição. Aquela excursão prometia ser o barato do ano letivo. A década de 80 alcançava a sua metade. Começavam a surgir Legião, Ultraje, RPM, Barão e outras bandas que deixaram uma marca visceral na história do Brasil e daquela geração.

Alano era um cara complexado. Embora se desse bem com todo mundo, não se sentia parte daquela turma. Era o mais pobre, magrelo em demasia, do interior, alvo de gozações e, por tudo isso, se sentia inferior. Logo quando chegou a Salvador e começaram as aulas, ficou deslumbrado com a beleza das garotas da escola, mas logo percebeu que para ele, pouca coisa ou nada restaria. Foi assim um ano e quase oito meses. Ele conformado com sua situação de menor. O próprio se colocando abaixo daquilo que, não sabia ele, poderia ser. No entanto era um cara sonhador e fantasioso. Sonhava com um carro do ano, com uma academia e um corpo musculoso, em se sentir igual a todos. Mas, na verdade, o que ele mesmo desejava tinha nome, bunda, peitos e vagina. Martha! Como era maravilhosa. A mulher mais bonita da escola na sua visão. Corpo perfeito, rosto lindo, olhos de um azul assassino, sorriso letal. O inalcançável, o sonho impossível.

Um dia ele percebeu que tudo que desejava para se ambientar, estava longe demais das suas mãos. Carro, corpo atlético, dinheiro, tudo isso ainda estava muito distante. Mas tinha ele duas armas muito mais poderosas que todas aquelas juntas, das quais ali, ninguém estava preparado para enfrentar: a inteligência e a sensibilidade. Percebeu também que, mesmo com todos os pontos que julgava desfavoráveis, era uma pessoa querida e respeitada por todos. Justamente por usar, mesmo que de forma inconsciente, as armas que dispunha. Quando tomou tal consciência, tomou junto uma decisão: nem que por uma noite, nem que por um diminuto momento, Martha ainda seria dele. Foi aí que começou a jogar.

Observando seu alvo, percebeu que ela era uma deslumbrada, apaixonada por Régis. Um cara que era tudo que ele não era, tudo que ele um dia sonhara, mas que pouco dava importância à menina, que a usava e jogava fora como se joga a garrafa da água no lixo depois da sede morta na boca. Ela se humilhava, sempre voltava à seus pés mas Alano percebeu que ela, como todas as pessoas na vida, tinha também seu limite e este estava muito próximo. Com conversas, apoio e compreensão, ganhou a confiança e a simpatia de Martha. Quando soube do passeio logo pensou que sua maior chance havia chegado. Uma convivência intensa, num fim de semana inteiro, era o que ele precisava. Tinha um problema sério porém: Régis também iria para o passeio e Martha só falava nas possibilidades de reatar com ele nesta viagem, o namoro que só ela cumpria. O próprio Régis resolveu este problema para Alano, sem que este mexesse uma palha sequer. Logo na viagem de ida, ficou com Simone, outra gata das mais cobiçadas, deixando Martha decepcionada, fragilizada e carente. Era tudo que Alano precisava.

Lá em Lencóis, durante as caminhadas no primeiro dia, era sempre junto de Alano que Martha seguia. Era com ele que ela chorava as suas mágoas, com ele que ela se abria. Sabendo onde queria chegar, o cara foi aos poucos mostrando a menina, o pouco valor que ela se dava e o muito valor que ela possuía. "-Você já pensou que existem muitos outros homens que dariam uma vida pelo seu choro? Ou melhor, que dariam uma vida para não fazê-la chorar?" Além das palavras, aproveitava os momentos propícios para exercer o poderoso recurso do toque. Sempre ao confortá-la, tocava a sua pele com carinho. Um toque de compreensão, um toque de consolo, mas sem deixar de mostrar, que ali também, havia um toque de desejo. Ela parecia não entender, não esboçava porém, a menor resistência ao que vinha acontecendo.

A noite chegou, a fogueira acendeu, Alano então, usou suas armas e deu o golpe fatal. Pegou o violão e começou a tocar e cantar naquela roda que circulava o fogo, mas pra ele ali, só Martha existia. Em cada música, em cada acorde, em cada verso, em cada olhar que mirava sempre os olhos de Martha. A cada música que rolava, sempre escolhida com precisão, Martha parecia, cada vez mais , entender o recado. Quando a madrugada iniciava seus primeiros acordes, Régis levantou com Simone e se embrenhou nos campos que circundavam a pousada. Alano logo entoou: "Agora, justamente agora, agora que eu penso em ir embora você me sorri, me sorri...ele foi embora, nem faz uma hora...tolo, pensou que beijar sua boca foi consolo... se não fez amor com você, faço eu!" Uma lágrima rolou no rosto de Martha. Alano a secou com "Se você quiser ser minha namorada, ah! que linda namorada, você poderia ser..." Quando a música terminou ele disse: "-Martha. Venha comigo, quero lhe mostrar uma coisa!" Ela atendeu e saíram juntos, em vez dos campos, tomaram o sentido oposto, e foram para a margem do rio. A lua cheia, com a antecedência devida encomendada pelo rapaz, iluminava e fazia brilhar os rostos que agora muito próximos se encontravam. "-Martha você precisa e precisa com urgência, ser a mulher forte e maravilhosa que carregas, mas que nunca deixa aflorar." Beijou-lhe com intensidade, com desejo e volúpia. E ali, naquela calma e bela margem de rio, pela primeira vez, os dois fizeram amor.