Capa do primeiro cd de Josildo Sá, Virado Num Paletó Véio, criada por Ray Vianna. 1999.
"Adriano, você faz parte da inteira." Assim diz a dedicatória de Jô no cd que me deu neste carnaval.
Quando meu amigo Josildo Sá estava com seu primeiro cd, Virado Num Paletó Véio, pronto, perguntei se tinha arregimentado a banda para o show de lançamento. – Banda? Quem tem banda é Michael Jackson, eu tenho uma inteira! Esta expressão é a cara de Jô. Foi justamente na casa dele que passei um dos melhores carnavais da minha vida. Na época, morando em Recife, onde vive até hoje, no bairro da Boa Viagem, Jô nos recebeu, a mim, minha então namorada Cynthia, meus atuais compadres, Ray e Guta e outros agregados. Tal folia momesca, ficou marcada nas nossas memórias como o carnaval do bode, do forró e do frevo. Cada um há seu tempo chegará na história.
Comecemos pelo ponto de partida, Salvador-Ba. Sexta-feira de carnaval, 1999, eu e Cynthia saímos de casa às 8hs, passamos para pegar Guta num bairro vizinho, Ray iria no dia seguinte de avião, ocupado que estava com os trabalhos para os blocos, e às 9hs estávamos na estrada. Na bagagem, além de roupas, uma caixa de cerveja em latas quase empedradas num isopor cheio de gelo potável e uma garrafa de whisky. Nossa inocência achava que era pra tomar em terras pernambucanas. Não resistimos à primeira parada em terras sergipanas.
Planejamos a viagem por um roteiro alternativo, iríamos pela estrada do mar. Depois de Aracaju, seguindo pela BR 101, alguns quilômetros a frente, dobra-se à direita com destino a Neópolis, ainda em Sergipe. Lá, em uma balsa, atravessamos o rio e fomos dar em Penedo já em Alagoas, onde paramos para almoçar. Por causa desta parada, a viagem ficou dividida em duas partes significativas. AP (antes de Penedo) onde, exceto por um deslize em Estância-Se, já que lá entornamos uma dose do malte e duas inocentes latinhas, a viagem transcorreu normalmente sem maiores problemas, e DP (depois de Penedo) onde irresponsavelmente arriscamos a nossa e a vida dos outros, chapados que ficamos de tanta cachaça. De uma coisa tenho certeza, nunca mais na vida faço uma loucura dessas, já basta uma outra viagem a Sampa, anterior a esta, que depois contarei por aqui. No cardápio um peixe maravilhoso, cujo nome assim como do restaurante, não tenho a menor lembrança. Penedo é uma cidade linda, extremamente charmosa e foi irresistível pra nós, comer uma aguinha* por lá.
De Penedo a Maceió, segue-se por uma estrada beirando o litoral. Naquele ano, encontrava-se em perfeito estado diante de reforma recente. Por ela entra-se na capital alagoana pelas praias mais lindas de lá. Cynthia, até hoje, não se encontrou na direção, Guta, recém habilitada, sem experiência, não quis encarar a estrada. Sobrou pra mim a responsabilidade de guiar o Uno 95, sob o abusivo volume do som, as doses e latas. Minha comadre, que sentou ao meu lado na frente, depois de Penedo, assumiu a função de co-pilota. Perto de Maceió, já com a língua um tanto embolada, ela própria se promoveu a copilouca. Paramos por volta das 18hs na praia do Francês, em Maceió, no intuito de curar, se é que era possível, a cachaça num banho de mar. Água deliciosa, límpida e quente. Renovadas as energias, estávamos pronto pra retomar a 101 com destino a Recife. Até ali, sob dia claro numa estrada que conhecia bem, foi muito fácil. De lá em diante, já com a noite à porta, cheio de água na cabeça, por caminhos nunca dantes dirigidos, o inferno esteve próximo. Por várias vezes parei para molhar o rosto e reanimar. Prontamente a copilouca me servia de outra dose, já que as latas jaziam vazias num balde de lixo da praia do Francês.
Heroicamente, às 23hs, entramos no Recife. Meu compadre Zé Filho já diz que Deus protege os bêbados e as criancinhas, uma grande verdade. Intactos, sem conhecer as vias da cidade, quando demos conta estávamos na Boa Viagem. Por causa de uma pizzaria, Guta reconheceu que estávamos perto da casa de Jô. Este nos recebeu na porta, segurando na mão pendurado, algo que meu estado de embriaguez não me deixou reconhecer. Era uma banda inteira de um bode.
*Comer Água - Expressão típica da Bahia que significa tomar todas, encher a cara.
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