Depois daquela lavagem do Bomfim, a Timabalada alavancava seus hits e o primeiro disco ia muito bem. Agora já era a música “Beija Flor” (Zé Raimundo e Xexéu) que estava estourada nas rádios de todo o Brasil e o disco vendia feito água não tardando a receber o disco de ouro. O trabalho de Ray começava a aparecer pro país embora escondido por trás dos que realmente aparecem numa hora dessas; os que estão à frente do palco. Quase ninguém pega um disco pra o olhar o nome do sujeito que criou a capa. Poucos sabem que a grande identidade da Timbalada, a pintura dos corpos, foi criação dele. Naquele mesmo verão, houve um show histórico em Salvador, um show que emplacou um projeto, um espaço, e uma banda de uma só vez. Estamos falando do Pôr do Sol, da área verde do Hotel Othon Palace que até hoje é um espaço usado para grandes shows e da Timbalada, respectivamente. Nesta noite, sem a menor combinação, sem nenhum convite prévio, a não ser os que Brown fez do palco e de surpresa para os ilustres que estavam na platéia, subiram ao palco juntos nada menos que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Léo Gandelman, Nando Reis, Jorge Benjor e Álvaro Pietro do Biquíni Cavadão. Foi um êxtase. Cenário de Ray, mais uma vez driblando os poucos recursos da produção. Teve um impasse durante os ensaios, relativo ao figurino. Já não havia mais grana pra nada, mas Brown e Cícero naturalmente, queriam que a banda se apresentasse de maneira digna. Aí, o saudoso Pintado do Bongô, o mestre de Brown, que Deus o tenha no mais iluminado lugar lá do céu, falou: - Pra mim não precisa figurino. Eu vou nu e Ray me pinta. Tava criada a marca registrada da Timbalada. Na hora do show, de improviso, Ray pintou o peito nu de Pintado com aquelas linhas que jamais saíram do corpo dos Timbaleiros. O próprio Brown pegou carona e pintou os braços e o rosto.
Com o passar dos anos nossa amizade foi se fortalecendo assim como a minha amizade com Guta e Bia, esposa e filha dele. Já estávamos em 97 e eu trabalhava na Perto da Selva. A produtora que estourou o Araketu e Ivete Sangalo, ainda na Banda Eva. Tive o prazer de participar de perto e prestar a minha humilde colaboração para tal. Foi justamente num dos ensaios do Araketu, naquela época ainda no estacionamento do antigo Banco Econômico na Av. Carlos Gomes, que conheci uma pessoa que ia mudar a minha vida para sempre, Cynthia. Para aumentar os meus ganhos, estava juntando dinheiro para comprar um carro já que a dureza da época do desemprego levou o que eu tinha, montei uma barraquinha dentro dos ensaios, com um colega de trabalho, Marcelo Marinho, onde vendia espetinhos de “gato”. Um dia, eu tava na barraca tomando uma roska* de Umbu, para refrescar um pouco o calor da churrasqueira que era escaldante, chegou Cristiane, a recepcionista da Perto da Selva, acompanhada de Cynthia, uma paraense que passava férias em Salvador, pedindo pra que eu guardasse as suas bolsas na barraca. Cynthia perguntou o que eu tomava. Quando eu falei, ela se surpreendeu: - O que é rosca? Quer experimentar? Perguntei. A danada pegou o meu copo e tomou todo de vez. Eu nem sonhava que aquela devoradora de roscas viria a ser a mãe de Júlia, minha linda filha, meu maior tesouro.
Guta, a Copilouca.
Um ano depois, quando Cynthia veio morar em Salvador e começamos a namorar, ela também foi aprofundando laços de amizade com aquela família. Várias vezes saímos juntos, fizemos viagens e farras. Compartilhamos muitos momentos bons, alguns nem tanto. Fomos passar juntos o carnaval de 99 em Olinda, na verdade nos hospedamos em Recife na casa do nosso amigo Josildo Sá, o Jô. Ray que estava preso por compromissos de trabalho em função do carnaval, só poderia ir no sábado e ficou para ir de avião. Eu, Cynthia e Guta fomos na sexta no meu carro que, aquela altura do campeonato, já havia comprado. Esta viagem, por sinal, merece um texto só pra ela, e um dia contarei por aqui. Valeu a Guta um apelido, que ela mesma se colocou, Copilouca.
Foi um carnaval inesquecível, divertido a valer. Conhecemos figuras impagáveis, como o primo de Jô, Mersinho. Brincamos pelas ruas de Olinda em meio àquele fervilhão cultural, aos bonecos, às ladeiras e becos da cidade. Tomamos banho de mar na Boa Viagem, assistimos a um show de Geraldo Azevedo no Recife Antigo, interrompido, pelo menos pra mim, por um mal-estar de Cynthia (entenda-se excesso de cerveja), que tive de levá-la pra casa de taxi, já que deixei meu carro com Ray e Jô e as respectivas Guta e Aninha, esposa de Jô na época. Enfim, uma viagem maravilhosa. Não sei se nesse carnaval, ou se poucos dias depois que voltamos, na quarta de cinzas, mas foi por esse período com certeza, que a Preta, como chamo Júlia, foi encomendada.
Quando Cynthia contou-me que tava grávida eu enlouqueci de felicidade. É verdade que estávamos num momento difícil da relação, prestes a desabar, mas a notícia veio como uma bomba explodir meu coração de alegria. Aí juntamos nossos trapos e resolvemos tentar a vida juntos pra criar nosso rebento. Não deu certo, mas ficou uma amizade verdadeira, leal e uma filha maravilhosa que é hoje a razão da nossa existência. Eu sempre sonhei em ser pai e sempre quis ter uma filha. Imediatamente eu falei: - Vai ser menina! Cynthia achava que era um menino e fizemos uma aposta. Se fosse menina eu daria o nome sem a interferência dela e vice-versa. Só que ela não cumpriu a aposta. Nenhum nome que eu sugeria era do seu agrado e isto já tava virando uma briga até que um dia oferecemos um jantar, preparado por mim é claro, pra Ray, Guta e Bia. Naquela noite a controvérsia do nome voltou à tona. Eu, Ray, Cynthia e Guta dando várias sugestões sem chegarmos a um consenso até que Bia, na época com 10 anos, falou: -Vai se chamar Júlia. Tava aí o nome da Burra Preta.
Foi um carnaval inesquecível, divertido a valer. Conhecemos figuras impagáveis, como o primo de Jô, Mersinho. Brincamos pelas ruas de Olinda em meio àquele fervilhão cultural, aos bonecos, às ladeiras e becos da cidade. Tomamos banho de mar na Boa Viagem, assistimos a um show de Geraldo Azevedo no Recife Antigo, interrompido, pelo menos pra mim, por um mal-estar de Cynthia (entenda-se excesso de cerveja), que tive de levá-la pra casa de taxi, já que deixei meu carro com Ray e Jô e as respectivas Guta e Aninha, esposa de Jô na época. Enfim, uma viagem maravilhosa. Não sei se nesse carnaval, ou se poucos dias depois que voltamos, na quarta de cinzas, mas foi por esse período com certeza, que a Preta, como chamo Júlia, foi encomendada.
Quando Cynthia contou-me que tava grávida eu enlouqueci de felicidade. É verdade que estávamos num momento difícil da relação, prestes a desabar, mas a notícia veio como uma bomba explodir meu coração de alegria. Aí juntamos nossos trapos e resolvemos tentar a vida juntos pra criar nosso rebento. Não deu certo, mas ficou uma amizade verdadeira, leal e uma filha maravilhosa que é hoje a razão da nossa existência. Eu sempre sonhei em ser pai e sempre quis ter uma filha. Imediatamente eu falei: - Vai ser menina! Cynthia achava que era um menino e fizemos uma aposta. Se fosse menina eu daria o nome sem a interferência dela e vice-versa. Só que ela não cumpriu a aposta. Nenhum nome que eu sugeria era do seu agrado e isto já tava virando uma briga até que um dia oferecemos um jantar, preparado por mim é claro, pra Ray, Guta e Bia. Naquela noite a controvérsia do nome voltou à tona. Eu, Ray, Cynthia e Guta dando várias sugestões sem chegarmos a um consenso até que Bia, na época com 10 anos, falou: -Vai se chamar Júlia. Tava aí o nome da Burra Preta.
Bia, nesta foto aos 15 anos. A responsável pelo
nome de Júlia.
*Rosca: Na Bahia, o nome do drink que todo todo mundo chama de caipirinha, é diferenciado pelo tipo de bebida com que é feito. Caipirinha se feito com cachaça, Caipiríssima se feito com rum e caipirosca se feito com vodca. Normalmente a fruta usada é o limão. O nome rosca, é uma abreviação e o sabor, ou a fruta, é ao gosto do freguês.
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