sábado, 21 de abril de 2007

O BLOG DE EDMUNDO - Papos Com Adriano IV

"De Como O Velho Diu, Numa Tática Sutil e Internacional, Prova Por A + B Que Existe A Metafísica Mesmo na Cidade da Bahia"

SSA 19/04/07
Edmundinho,
Desculpe se destilei minha maldade sem dó nem piedade, mas a indignação e o estado de humor, que não estavam dos melhores quando lhe respondi não me deixaram fazer diferente. Um erro não justifica o outro, algum sábio já falou. Lavemos nossa roupa em casa e deixemos os malucos, digo leitores, que nos acompanham, já que eles existem mesmo, os comentários não me deixam mentir, livres dessa pendenga. Por mim também não haverá mais vasos, torneirinhas, sofás, cigarros, sons, dvds, nada mais ligado no blog, mesmo que fiquem ligados em casa.

Fiquei feliz ao ver você elogiando o meu texto. Devorador de livros e, para mim, um escritor de excelente nível, sua opinião me soa técnica e, como te conheço muito bem, bastante sincera. Isto me incentiva a continuar com o blog, empenhando meus mais heróicos esforços no sentido de tornar maduras as linhas de tal dissertação. Tenho consciência que preciso ler bem mais para isto, o que não tenho feito muito ultimamente. Continuar escrevendo também, é um bom caminho.

Embora sejamos irmãos, acredito que mutuamente, muita coisa desconhecemos um do outro. Minha vontade de escrever sempre foi muito grande embora eu não falasse sobre tal. Por diversas vezes botei no papel palavras que se perderam nas lixeiras dos escritórios, rodoviárias e aeroportos. Depois do seu blog, que chegou num momento onde esta vontade latejava com força dentro de mim, depois do Cozinhar Faz Bem onde extrapolei a fronteira da receita simples e pura, inserindo alguns textos no contexto geral(quanto texto!), senti coragem de expor a cara a tapa e publicar os meus rabiscos. Como conversávamos ontem, o blog não deixa margens a arrependimentos, clicou em publicar foi. Pode tá ruim como for, não dá pra voltar atrás. Isto é de certa maneira bom. Escondido por trás de um monitor, sem mirar os olhos de outrem, fica mais fácil se expor. É como aquele cara que namora pela internet, onde sempre é malhado, bonito e alegre, com a menina loira de olhos azuis (não sei quem inventou este estereótipo de beleza, maluquice), corpo perfeito e sorriso encantador. Assim eu me sinto postando no blog.

Às vezes bate o arrependimento. Quando publiquei a crônica Reservado para Idosos, Gestantes e Deficientes deu até vontade de deletar. Não senti firmeza no texto, mas resolvi deixar. Horas depois, já consegui ler com ouvidos de quem não era autor, até que gostei. Este talvez tenha sido o texto que você mais elogiou. Justamente um dos que mais me deixaram inseguro. Hoje recebi um e-mail de uma antiga colega de SENAC, elogiando meu blog, usou o termo "maravilhoso". Sei que aí tem um bocado de gentileza, não precisava tanto, mas conheço a peça e sei também que gostando ela tá. Pena que me mandou por e-mail, não expôs aos quatros ventos através de um comentário. Todo mundo tem direito a um pouquinho de vaidade, não seria eu a Madre Teresa.
Um beijo do irmão arrependido mais nem tanto,
Aline.
P.S. Você tanto fez que venceu. Assumo publicamente o compromisso de uma noite por semana de sofá livre pra você. Aproveite logo a de hoje que chegarei tarde em casa já que vou sofrer com meu Baêêêêêêêêêêêêêêêaaa, e assista inteiro O Perfume, uma excelente adaptação do livro. Li aos 18 anos mas, depois do filme, voltarei àquelas páginas geniais.

SSA, 19/04/07
Cara:
Acabei de vir do Aurélio, você foi longe. Nunca ouvi esta palavra antes.
Sentina. (Do lat. sentina) S. f. 1. Ant. O porão das galés. 2. V. latrina (1). 3. Fig. Lugar muito sujo, imundo. 4. Fig. Pessoa viciosa.
Valeu!

Adriano
SSA, 21/04/07
Querido Adriano, não há alternativas para o fato de escrever. Ou você escreve ou não escreve. Uns mais, outros menos. E você e eu estamos no grupo dos que fazem - ainda que dos que fazem menos; mas escrevemos. O resto, já que não somos tão especiais, é ralar a bunda no cimento pra ver se lustra e nunca parar de trabalhar para afiar a peixeira. Continue que, com o tempo, verá resultados cada vez melhores.
Sabe que você tem razão? Apesar de irmãos, em alguns pontos, pouco sabemos um do outro. Por isso vamos tratar de consertar essa coisa aqui e aí no seu blog. Sei que voltaremos muitas vezes a esse assunto, que se promete tão rico.
Mas, querido irmão, eu não queria tratar disso aqui em carta tão carinhosa e espero que você me perdoe, não se zangando por, sem querer, macular um pouco esse momento de troca-confetes que se abateu sobre nós – irmãos unidos, na carne, na vida e no sangue, com tantas histórias juntos que é até difícil acreditar pela nossa diferença de idade.
Velho Diu, voltando à questiúncula, a esse reles detalhe que a minha imperfeição de caráter teima em retornar, devo esclarecer que fico deveras emocionado com tanta nobreza de espírito na questão do sofá porque sei que, em se tratando de você, me franquear uma migalha de direito já é um avanço digno de nota. E não sou soberbo para, mesmo lidando com esse universo mais micro do que o da nanotecnologia, desdenhar das dádivas que me chegam. É claro que me sinto honrado com tanta concessão, mas o que me outorga sua beneficência meu senso de oportunidade já tem desde que cheguei aqui na casa de Mame Blue, quando descobri que sofá nenhum teria se assim não agisse.
Não estou falando de locupletar-me do seu dito cujo enquanto Vossa Excelência está nos pastos enchendo a cara. Pois, já que você não está em casa e dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço e ainda não ficou provado que você tenha (ou venha a ter) o dom da ubiqüidade, é natural que eu ocupe aquele espaço vazio já que vossa pessoa está na rua.
Não. Não é disso que falo meu amado irmão. Falo da sublimação interior que permite a alguém abdicar, pelo menos por umas poucas horas, das coisas essenciais em favor dos outros e – principalmente - dos mais descamisados (detesto esse termo) e desprotegidos da sociedade.
Sei que é difícil pôr estas sugestões em prática, pois também me apego a tudo - inclusive a você que amo muito. Mas ficaria mais feliz e satisfeito se o visse, ao menos um dia no ano (uma vez por semana seria o ideal), me permitir lá deitar para assistir o meu filme quando você estivesse em casa. Fazer o sacrifício de ir ler no seu quarto decorativo, rolando de insônia e ódio, babando por meu pescoço e minhas vértebras, enquanto eu me deleito na película é que se chama caridade. Intoxicar-se de amor ao próximo sem esperar retorno algum. Não estou cagando regras porque também sou um desastre nesses quesitos que cobro de você, mas quero deixar expressa - com argumentos claros - a lógica da minha recusa de sua concessão metafísica (o que vem a ser o mesmo que concessão nenhuma).
Deitar no sofá enquanto você vai ver o seu Baêêêêêêêêêêa não está me dizendo nada porque isso eu já tenho. E por falar no seu time, que só dou a ousadia de citar no meu blog porque você pôs – sem nenhum transtorno aparente - o meu no seu, confesso que não li na sua amável resposta nem uma vírgula sobre a questão do meu fígado e dos jogos do Vitória fora de casa aos domingos e feriados.
Esperando algo mais concreto, da próxima vez que você se manifestar, despeço-me carinhosamente.
Bode Zé
P.S. Um dia, depois das 22:00hs, já sem criança na sala, te falo sobre as loiras de olhos azuis. Me lembre. E, sobre O Perfume, um dia talvez eu te fale sobre olfatos, mas aí os velhos também terão de sair da sala junto com as criancinhas.

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