Quando nasceu Edmundo, meu irmão mais velho, primeiro neto de Zé Ribeiro, meu finado avô poeta, ele entendeu que aquilo era sinal da chegada de sua velhice. Escreveu então os seguintes versos.
Noite e Dia
Eu tive cabedais extraordinários de sonhos
Num dilúvio de abastanças
Fui dentre sonhadores milionários
Um arquimilionário de esperanças
Esperanças que em mim tiveram vida
E viveram repletas de saúde
Tâo somente na noite denegrida
Dos cabelos da minha juventude
Depois da bancarrota meus amigos
Mendigo, mais mendigo que os mendigos
Pois estes ainda vivem de rogar
Com muito Deus lhe pague para dar
Esta casta portanto, se consola
E eu, por impossível que pareça,
Não acho quem me possa dar esmolas
Nem mesmo um simples Deus o favoreça
De cabeleira negra, os desenganos
Vivem de remoçar, não ficam calvos
Da decadência não padecem danos
Nem seu cabelos pretos ficam alvos
Os desenganos, vivo a maldizê-los
Para ver se de mim desaparecem
Enfadado de vê-los e revê-los
No sol posto dos sonhos que anoitecem
Sonhei dentro da noite dos cabelos
E hoje, os meus cabelos amanhecem
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