sábado, 7 de abril de 2007

NOITE E DIA(Cabelos Brancos)

Quando nasceu Edmundo, meu irmão mais velho, primeiro neto de Zé Ribeiro, meu finado avô poeta, ele entendeu que aquilo era sinal da chegada de sua velhice. Escreveu então os seguintes versos.

Noite e Dia

Eu tive cabedais extraordinários de sonhos
Num dilúvio de abastanças
Fui dentre sonhadores milionários
Um arquimilionário de esperanças

Esperanças que em mim tiveram vida
E viveram repletas de saúde
Tâo somente na noite denegrida
Dos cabelos da minha juventude

Depois da bancarrota meus amigos
Mendigo, mais mendigo que os mendigos
Pois estes ainda vivem de rogar
Com muito Deus lhe pague para dar

Esta casta portanto, se consola
E eu, por impossível que pareça,
Não acho quem me possa dar esmolas
Nem mesmo um simples Deus o favoreça

De cabeleira negra, os desenganos
Vivem de remoçar, não ficam calvos
Da decadência não padecem danos
Nem seu cabelos pretos ficam alvos

Os desenganos, vivo a maldizê-los
Para ver se de mim desaparecem
Enfadado de vê-los e revê-los
No sol posto dos sonhos que anoitecem

Sonhei dentro da noite dos cabelos
E hoje, os meus cabelos amanhecem

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