sexta-feira, 27 de abril de 2007

ILHA DO PIRATA – Quando Aparece Ivete Sangalo – V

O Show Festa de Ivete Sangalo - Parque de Exposições Salvador-Ba, 22 de Dezembro de 2001.

Não que João tenha feito algo pra me separar de Ray, é bom esclarecer bem este fato. É que suas idéias e um pequeno incidente num trabalho que fizemos juntos, com certeza ajudaram meu compadre a tomar a decisão de acabar nossa parceria.

João que também é artista plástico, chamou Ray pra dividir um trabalho que ele estava prestes a pegar, a decoração da cidade de São Gonçalo dos Campos-Ba, para o São João de 2005. Não foi o primeiro que fizeram juntos depois que eu estava com Ray, mas foi o último já que saí logo depois. Hoje eles continuam com esta parceria em alguns trabalhos que, de tanto talento, só pode ir muito longe. Na primeira vez, chamei João e expliquei a ele como era meu acordo com Ray, que era comissionado mas que tal comissão estava embutida no preço de cada serviço e que, cada desconto cedido pro cliente, automaticamente significava um desconto na minha remuneração. Ele aceitou prontamente e sequer cogitou a possibilidade de me propor algo diferente. Naquele São João, executamos o serviço em Amélia Rodrigues, cidade mais próxima de São Gonçalo onde João tem um sítio e mantém um atelier, bem perto de Feira de Santana, que tem um comércio muito bom sendo às vezes até melhor e mais barato que o de Salvador.

Passamos semanas no sítio de João e tivemos sérios problemas com o contratante que estava dando trabalho para pagar as parcelas acordadas no contrato. Isto deixou-nos com os nervos a flor da pele e numa noite, durante um balanço financeiro, João disse achar que na comissão, eu estava ganhando demais. Pensava ele que eu, assim como todos os outros deveria ter um cachê específico previamente acordado. Ray concordou e falou que precisávamos revisar nosso acerto. Imediatamente fui contra. Não achava justo ele concordar , e não acho até hoje. Sei da importância da minha colaboração e para mim aquilo era uma desvalorização ao meu trabalho que jamais poderia aceitar. Os tons até se alteraram um pouco mas logo contornamos a situação. A verdade é que naquela mesa, meu destino profissional começou a mudar. Concluído aquele trabalho, um mês depois Ray dissolveu a nossa parceria, mas nunca a nossa amizade.

Sei que este não era o momento, mas já que João entrou na história, resolvi completar a informação. Voltemos pra Porto Seguro de onde não deveríamos ter saído.

Enquanto a equipe trabalhava sem descanso em Salvador, voltei sozinho a Porto para tomar umas providências necessárias a nossa chegada com a equipe e o material. Alugar uma casa para hospedar a galera, contratar secretária para fazer café da manhã, janta e lavar a roupa do pessoal, combinar com a equipe da ilha como seria a montagem e permanência do material por lá, contratar um barco para o nosso deslocamento diário pra ilha bem como o transporte do material e equipamentos, acertar o fornecimento de almoço durante a montagem, pesquisar o comércio local e essas coisas de produção. Tudo resolvido voltei para Salvador me reintegrando à turma até estar tudo pronto para o embarque final.

Eu, Carlinhos e Renato fomos de carro, se não me falha a memória em 20 de setembro de 2001. Saímos cedo e entramos em Porto Seguro às 21hs. Ray foi de avião dois dias depois pois estava entregando um cenário para televisão que acabara de concluir, Paulo foi conversando sem parar durante toda a viagem com o motorista, na boléia do caminhão que levou as peças e equipamemtos e o resto do grupo de ônibus. No dia seguinte à nossa chegada, os meninos e o caminhão desembarcaram e imediatamente arregaçamos as mangas e botamos a mão na massa.

Durante os trinta e três dias que duraram a montagem, eu e a equipe íamos cedinho pra ilha. Estacionava meu carro no cais e ía de barco com a turma. Quando precisava de qualquer coisa, pegava a lanchinha que era de propriedade da ilha e ía pra cidade comprar. Quando o almoço chegava também atravessava o mar para ir buscar no continente. De tanto que rodei lá dentro, acabei conhecendo a cidade melhor do que muito morador. Costumava até brincar que já poderia ser motorista de taxi por lá. Só não conheci praia e pontos turísticos, mas o centro, a periferia e todo o comércio, virei de cabeça pra baixo.

Aqui abro um parêntese para falar da Ilha. Que lugar maravilhoso. Uma ilha temática, cheia de aquários imensos, com peixes de diversas espécies, tubarões, arraias e tantos outros. Na verdade, uma multi-casa de shows. Lá tinha festas todas as terças e eu, como bom noctívago, não perdi uma sequer. Lá existem vários ambientes. Um espaço para forró, outro para MPB, o meu preferido, uma boate, bares, restaurantes, lojinhas de souvenirs e um palco central para grandes shows. A noite, quando iluminada, principalmente os aquários, ficava deslumbrante. Nos dias de show a ilha enchia de turistas que muitas vezes se excediam. Era comum na manhã seguinte, encontrarmos camisinhas usadas e pontas de cigarro de maconha pela chão. Nunca vi tantas mulheres bonitas reunidas num mesmo lugar como naquelas noites de terça.

Faltando umas duas semanas para inauguração, eu estava junto de Ray quando o celular dele tocou. Vi que ele estava explicando para o interlocutor estar ocupado no momento por causa do trabalho em Porto Seguro mas assim que voltasse a Salvador manteria contato para falar sobre o assunto. Era Cíntia Sangalo, irmã de Ivete que queria contratá-lo para criar e executar o cenário do show de lançamento do seu próximo cd, FESTA.


O cenário de Festa antes do show.

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