sábado, 7 de abril de 2007

ÔNIBUS ERRADO – PARTE II (Ônibus Errado, Linha Certa)

Na foto ao lado, Eu o Gauchinho e Leandro em 16/12/88

Cheguei em Porto Alegre, sábado, 10 de dezembro de 1988. No dia seguinte, tava eu com cara de tacho, morrendo de vergonha, sendo buscado por Seu Arcy e Suzana, no saudoso Voyage verde, na porta da rodoviária. Não tive outra opção. D. Celmira nos esperava em casa com uma lasanha maravilhosa. Vale lembrar que, as prendas culinárias, não eram o forte dela, mas sua lasanha era fantástica. O mais interessante de tudo é a forma como me senti quando entrei naquela casa. Cercado por tanto carinho, por tanta atenção, parecia estar na minha própria casa, com a minha própria família. Naquele momento, eu ainda não me dava conta, mas começava a brotar no meu coração, um amor tão grande, mas tão grande, que quilômetros e quilômetros não podem separar, muito menos acabar. Mais uma vez volto a usar uma frase do Richard Bach, "Podem os quilômetros separar-nos dos amigos?" Definitivamente não. De imediato lembrei de Edmundo, disse que o gaúcho era frio, só que, até aquele dia, nunca tinha recebido tanto calor humano.


Logo de cara Seu Arcy me conquistou. Uma pessoa equilibrada, coerente, marido exemplar, pai do mesmo modo, cozinheiro de mão cheia. A quantidade de qualidades que teria de descrever deste senhor, tornaria este texto deveras longo, por isso, para resumir, basta falar que hoje, adotei-o como segundo pai. Meu Paiúcho como digo. D. Celmira, alegre, simpática, com sua voz rouca e terna, também me conquistou no primeiro momento. Suky também foi de uma receptividade fantástica. Todos eles, sentindo o meu total embaraço, procuraram fazer com que me sentisse em casa. E conseguiram. Ali tava uma família que mais tarde também seria minha, com quem eu viveria as mais diversas experiências, dos momentos mais alegres aos mais tristes, que nesta, e em outras vidas, sempre farão parte da minha existência. Liane chegou domingo à noite. Fui buscá-la com seu pai na escola que ela trabalhava, estava viajando com os alunos. Acontece porém, que além daquela grande amiga, motivadora da minha viagem, eu já tava perdidamente fisgado pela amizade da sua família.


Foi só o começo. Tipo efeito dominó, comecei a conhecer um monte de gente entre parentes e amigos deles. Na semana seguinte, dia 15 de dezembro pra ser mais preciso, foi aniversário de Seu Arcy. Houve uma festa simples, contudo muito alegre. Aí eu conheci boa parte da família, em especial um cara que hoje é meu irmão. Coincidência ou não, homônino de um irmão verdadeiro, Luciano. Eu insisto em chamá-lo de Gauchinho, já que ele, pelo menos que me lembre, nunca pronunciou o meu nome. Sempre fui o Baianinho. Como o chamam seus familiares, Lucky. Nos gostamos de cara. Com todas as diferenças que nos separam, não vale a pena falar sobre elas, encontramos elementos em comum que nos uniram de uma forma muito especial. No dia seguinte, sob o pretexto que as gurias não me levariam à programas interessantes, ele me pegou, com seu primo Leandro, que por sinal foi a única vez que o vi, para darmos uma volta na cidade. Foi meu primeiro porre em terras gaúchas. Nasceu então uma amizade sincera, forte e verdadeira. Gosto muito da sua maneira de ser. Sem meias palavras, sem subterfúgios, sincero em suas convicções. Respeito e admiro muito a sua pessoa. É fácil entender tanta nobreza de caráter, conhecendo os seus pais, Celso e Cleusa(irmã do Sr Arcy), e seu irmão Marcelo.


Eu e o Gauchinho viajando de Porto Alegre para Florianópolis em Janeiro de 94

De lá para cá, muitas vezes voltei ao sul. Muitos deles vieram me visitar na Bahia. Nossa amizade se solidifica a cada dia. Aquela turma macanuda*, plantou em meu coração uma semente sólida e duradoura. Não vejo a hora de poder voltar lá, ou de tê-los aqui perto de mim. Não é a toa que saudade, é uma palavra sem tradução. Eu amo todos vocês. Eu amo o Rio Grande do Sul, eu amo Porto Alegre. Um baiano célebre, Caetano Veloso, já disse em sua música "Menino Deus", que fala do bairro onde seu Arcy morava naquela época, “...um Porto Alegre é bem mais que um Seguro".


Para finalizar, transcreverei as palavras que Liane me escreveu na dedicatória do livro “Longe é um lugar que não existe”, de Richard Bach, de onde tirei a frase transcrita acima, com o qual me presenteou em 10/11/90.

“Eu poderia escrever muitas coisas e provavelmente acabaria esquecendo algo. Por isso vou deixar que o livro fale por si. Tenho certeza que vais entender tudo que quero dizer te enviando este presentinho. Ah! Sei que não é teu aniversário, mas estive relendo o livro e me lembrei de ti. Achei ser um bom motivo para comemorar nossa amizade. Um super beijo, com carinho, Lika”
*Macanudo: adj. Bom, superior, poderoso, forte, prestigioso,
inteligente, belo, rico, admirável, excelente, respeitável.
Extraído do Minidicionário Guasca(Gaúchês) de Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes. Editora
Martins Livreiro, 1986.

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