segunda-feira, 14 de abril de 2008

A PIZZA DO BONNO - ADELAIDE

Parque Marinha do Brasil - Porto Alegre-Rs
Foto: José Adilson Rocha da Rosa

Era Dezembro de 1989 e, como de costume, passava minhas férias de final de ano em Porto Alegre. Sempre ficava hospedado na Peri Machado em Menino Deus, um bairro charmoso, arborizado e muito bonito, assim como a maioria da cidade. O Shopping Praia de Belas ainda estava em construção valorizando meteoricamente toda aquela área. A tarde estava num calor escaldante e abafado. O calor de Porto Alegre é muito pior que o do nordeste. Lá, quando fica quente, sem a brisa do mar pra amenizar, é um calor desses que dá vontade de sair correndo nu e mergulhar na primeira poça de água que você encontrar. Estava sozinho, em casa, todos estavam trabalhando, ali só eu estava de férias, relendo Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marquez, o melhor livro de ficção que já li, e suando em bicas já que o ventilador não dava vencimento. Fiquei agoniado e saí pra dar uma caminhada pelo Marinha, na tentativa de amenizar o calor, e brindar os olhos com as gaúchas maravilhosas que gostam de fazer cooper ou caminhar no parque nos finais de tarde. Se bem que era só pra botar colírio nos olhos mesmo, porque um baiano, provinciano, magro-esquelético e pobre, não tinha a menor chance com as mulheres em POA. Isto era o que eu achava até aquele dia. Precisava existir uma maluca para a minha teoria ser desbancada. Ainda bem que existia.

Ontem eu estava lendo o Espalitando Dente de Paulo Bonno, um blog de contos e crônicas de uma baiano escrachado que escreve bem pra caralho. O conto se chama A Buceta Amiga, e uma passagem do texto, me fez de imediato, lembrar de Adelaide. O cara, assim como eu, detesta azeitonas, e, depois do sexo conversando com a parceira diz: - Flavinha, minha filha. Buceta, pra mim, é que nem pizza sem azeitona. Eu como todas. Foi exatamente aí que me lembrei de Adelaide e da estranha coincidência que se deu entre azeitonas, pizzas e seus sabores.

Eu adoro pizzas, gosto de qualquer sabor, mas sempre que vou à uma pizzaria, olho o cardápio insistentemente e acabo pedindo sempre o mesmo sabor: Portuguesa. Sempre com a mesma ressalva: - Sem azeitonas por favor! Para mim a azeitona com seu gosto forte e enjoativo, tira o sabor de qualquer coisa, quanto mais de uma portuguesa, que é um dos sabores que mais gosto na vida.

Tomei um banho frio, botei um short, um tênis e uma camiseta e, com minhas pernas de sabiá, walkman na cintura e fones nos ouvidos, fui andar no Marinha. Observava os traseuntes, principalmente as mulheres. Muitos casais com seus filhos brincando, sentavam naquelas cadeiras desmontáveis, tomando chimarrão e conversando. Eu iá e vinha em passos lentos, só observando e e ouvindo música. A tarde começava a ir embora então caminhei até as margens do Guaíba para apreciar o pôr-do-sol. É uma das melhores imagens do pôr-do-sol que já vi na vida. Na beira do Guaíba. Certa feita teve uma eleição no Zero Hora, o maior jornal da cidade, patrocinada por um grande banco, para eleger o mais bonito cartão postal de lá. Ganhou a estátua do Laçador. Fiquei indignado já que votei várias vezes no pôr-do-sol do Guaíba. Depois parei pra pensar. Que porra eu tinha de ficar indignado se nem de Porto Alegre eu era? Mas fiquei!
Pôr-do-sol no Guaíba - Deslumbrante

Na beira do rio, sentei numa extremidade de um tronco comprido onde na outra, não tive nenhuma intenção maldosa até o momento, estava uma menina tomando chimarrão e apreciando a paisagem. Acendi um cigarro e olhei o horizonte. Aí a guria se aproximou perguntando se eu tinha fogo. É claro que eu tinha fogo, acabei de acender um cigarro, que pergunta idiota! Pensei. Sabiamente não disse nada. Puxei o isqueiro do bolso e dei pra ela. Ela tirou da bolsa um cigarro de maconha. Eu já tinha tido experiências anteriores mas nunca tinha visto um baseado daquele tamanho, muito menos daquele diâmetro. Ela acendeu e perguntou: - Te incomoda? -Não. Respondi. Ela sentou a meu lado e começou a puxar papo. Eu fumando meu cigarro, ela fumando seu bagulho. Logo ela começou a rir do meu sotaque. Disse que eu falava de um jeito engraçado. No início eu ficava puto com essas coisas mas depois me acostumei. Percebi que as pessoas não falavam por mal e eu no fundo, também achava engraçado o jeito deles falarem. Quanto mais ela fumava, mais ela ria de mim. Perguntou se eu queria dar um trago. Aceitei. Puxei duas vezes mas me arrependi. Fiquei na paranóia de dar revertério. Eu não era acostumado, muito menos com um daquele tamanho.

Ela se levantou algumas vezes, e percebi que, se não fosse pela total falta de bunda, ela seria uma mulher perfeita. Era alta, bonita, pele clara como algodão, cabelos pretos, longos e lisos. Os olhos de um verde faiscante mas o que mais me chamava atenção eram os seus seios médios, na blusa fina de malha sem sutiã, desafiando a teoria de Newton sem nenhum pudor. Conversamos muito tempo. Falamos muito sobre, música, literatura, poetas e tantos outros assuntos e percebemos que tínhamos muitas coisas em comum. Tomei chimarrão com ela e, àquela altura, já estava totalmente envolvido pela beleza de Adelaide. O tempo passou rápido e quando notamos já havia escurecido. Fica perigoso quando cai a noite ali. Ela então sugeriu uma pizza para matar a larica. De pronto eu aceitei. Não pela fome, que nem tava grande assim, mas pela companhia maravilhosa que ela se mostrou ser. Pegamos um ônibus e em pouco tempo estávamos sentados na mesa de uma pizzaria pequena, mas aconchegante, lá mesmo em Menino Deus. Como cavalheiro que sou, falei para ela escolher seu sabor primeiro. Ela nem olhou o cardápio. - Frango com Catupiry. Fiquei me perguntando o que leva um ser humano a sentar numa pizzaria e pedir frango com catupiry. Gosto é foda! Eu, olhei o cardápio atentamente por longos minutos até que decidi: -Portuguesa. Sem azeitonas por favor! - Você gosta de comer uma portuguesa, né? Falou com um sorriso irônico, lindo e malicioso nos lábios. - Gosto. - Sabia que eu, nasci em Lisbôa? Se Paulo Bonno tivesse escrevendo esse conto iria logo falar. - Essa putinha safada tá querendo me dar. Foi o que pensei.

Na mesa voltamos a conversar sobre música e ela perguntou se eu conhecia Nei Lisbôa. Falei que conhecia pouco, mas que amava a música "Verão em Calcutá". - Vamos pra minha casa, vou te apresentar o trabalho dele completo você vai amar. Não fui nem louco de pensar em dizer não. Pegamos outro ônibus e fomos pro bairro de Santana, muito perto dali. Ela morava sozinha num apartamento pequeno de um prédio antigo numa rua calma. O ap era milimetricamente arrumado e decorado com muito bom gosto. Ela botou um LP de Nei, o Noves Fora, e começamos a discutir sobre o som, interpretar as letras e, ao som de "Verdes Anos", trocamos o primeiro beijo. Não resisti à tentação de por a mão em cima daqueles seios, por baixo da camiseta que não oferecia qualquer resistência ao ato. Sem perceber, ali na sala mesmo, em cima do tapete macio, tiramos a roupa e comecei a beijar inteiramente aquela pele branca e macia. Quando cheguei no seu sexo, quase me embriaguei com o cheiro. Um cheiro maravilhoso de buceta. O melhor cheiro do mundo. Comecei a chupar com volúpia aquele sexo molhado, sedento e cheiroso. Acho que ela gozou muito pois gritava e tremia feito uma louca, suas pernas me apertavam como se fossem me sufocar. Foi aí que percebi que a agulha do disco tinha enganchado. "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...".

De repente ela pediu para eu parar, implorou na verdade, gritando feito uma insana, -Pára filho da puta gostoso! Pára! Eu parei. Ela veio pra cima de mim e me beijou como se fôssemos amantes a muito tempo. Com muito carinho. Tinha nos olhos o brilho da felicidade. O som rolando "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...", "...transa sensual, calor, corag...". Levantei e pus outro disco. Revirei sua discoteca e escolhi Cores e Nomes de Caetano. Enquanto trocava de disco ela foi na cozinha e voltou com uma bandeja que eu nem percebi o que continha. Pegou uma toalha imensa, dessas de praia, estendeu em cima do tapete e disse: - Vem aqui! Obedeci prontamente. Da bandeja, ela tirou um copo cheio de gelo e começou a passsar pelo corpo bem devagar, parou um bom tempo em cima do bico dos seios e depois de bem molhada pediu para eu lamber. Mais uma vez obedeci. Pegou a já diminuta pedra de gelo e pôs dentro do umbigo. Tirou outra pedra do copo e colocou dentro da vagina. Eu enlouqueci com aquela cena. Quase como se desse uma ordem a um escravo mandou que eu chupasse de novo até o gelo derreter. Obedeci novamente. Depois foi a vez dos pêssegos em caldas. Ela se lambuzou toda, e eu amo pêssego em caldas. Acho que era uma tara da guria, das mais gostosas por sinal. Foi aí que tudo aconteceu. Depois que, com a língua, limpei toda a calda de pêssegos do seu corpo e comi todos os pedaços que estavam por cima dele, dividindo com ela de quando em vez, levando pedaços pra sua boca, fornecidos através de beijos carinhosos. A próxima especiaria daquela lambuzada foi um copo pequeno de azeitonas em conservas que ela derramou inteiro sobre o corpo. Na mesma hora meu pau broxou. Eu ainda não havia penetrado na menina. - Que coisa feia! Foi isso que a filha da puta falou. - Venha ver que azeitona não é tão ruim assim! Colocou uma dentro da vagina e mandou eu comer quase aos berros. - Coma essa porra dessa azeitona seu filho da puta! E eu comi. Comi a única azeitona gostosa da minha vida. Tão gostosa que fez meu pau subir novamente. Depois fomos pro banheiro e transamos loucamente. Adelaide era uma máquina insaciável, quase morri do coração naquele dia.

Duas horas da manhã, desci do taxi na Peri Machado. Imaginei como os meus anfitriões deviam estar preocupados. Não tinha avisado nada. Quando abri a porta do apartamento, minha mãeúcha estava no sofá fumando um cigarro com uma cara de quem tava puta da vida. - Tá "gambá" baiano safado? - Não, só não sabia que azeitona podia ser gostosa.

Dedicado a Paulo Bonno

5 comentários:

Paulo Bono disse...

porra! um conto dedicado a mim?
que honra, caroso. valeu mesmo.
mas orgulho mesmo é saber que você comeu essa putinha gaucha apesar da peste da azeitona. barbaridade!

abração

Ana Casanova disse...

Olá Adriano,
Sei que não li todos os teus poemas e textos mas os que li eram todos tão poéticos e maravilhosos que fiquei sem palavras agora.Juro que depois elas voltam!Não sou púdica, achei interessante a forma como descreves a cena erótica e todo o texto aliás.Houve passagens que me fizeram até rir! Ficaste ou não a gostar de azeitonas? Lol
Eu por acaso adoro as pretas. As verdes acho muito ácidas.
Ah e nós aqui não temos nenhuma pizza com o nome de portuguesa, só Napolitana, Americana, Mexicana.Que ingredientes leva a portuguesa? Fiquei curiosa!
Beijinhos amigo e fiquei a conhecer uma nova faceta tua, ou pelo menos que eu desconhecia.Mas gostei.

.. disse...

Cara,que coisa mais danado de bom esse seu blog....essa Adelaide não é mesmo fácil..e aí?Passou a gostar de azeitonas?

Gosto de quem escreve assim,sem pudor sem puritanismo...
Eu e Clau estamos esquentando as turbinas e vamos apimentar aquilo lá..
Linkei seu Blog com muita safisfação.
bjs

Vênus disse...

Boa noite Adiano
enconteri seu Blog linkado lá no Biscuit da Jô e Clau e vim conferir.
Fiquei surpresa quando vc falou da Praia do belas..Eu sou Gaúcha e nasci por aquelas banda...Ah,o por de sol de Guaíba..tudo de bom..muitas saudades!
O conto "Buceta amiga" de Paulo Bonno é demais.Vou conhecer o Blog dele.
E vou linkar tb o seu Blog para lembrar de voltar aqui.
beijão e se quiser,vá me visitar..Voltarei aqui!

Anônimo disse...

hahahahahahahaha...
Eu espero sinceramente que isso tudo tenha acontecido na realidade... Assim, mantém a famosa fama das gaúchas (eu particularmente acho exagerada, mas me divirto com isso).
Pois é... existem gaúchas que fazem o cara quebrar os paradigmas mais absurdos!
Azeitonas! Quem diria, Adriano! rsss

PS: Adoro caminhar no marinha nos finais de semana!