sábado, 19 de abril de 2008

O CHORO DA MONTANHA

Quando eu era criança, falo da época em que tinha uns quatro ou cinco anos de idade, sonhava em ser poeta e compositor. Não tenho a mínima idéia do que me levava a isto. Talvez por ver meu pai tocando instrumentos e seus amigos cantando lá em casa nos finais de semana, ou por ter um irmão, doze anos mais velho do que eu, que já era letrista e poeta, mas tinha esse sonho dentro de mim. Além disto, tinha outra pretensão, queria ser astronauta. Na época, morava no interior, acho que em Juazeiro, da Bahia, aquele vizinho à Petrolina em Pernambuco, e vim passar férias aqui em Salvador na casa de meu tio José, um gozador e pirracento por excelência. Pouco antes da viagem, vi uma reportagem no Fantástico que me fez ver, mesmo naquela idade, o quanto ser astronauta estava distante de minhas possibilidades. Então decidi: -Serei um poeta e um compositor.

Durante as férias, num dia de descontração total, meu tio me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Metido à merda que era, respondi: -Não quero ser, eu já sou! Compositor e poeta! Ele então me desafiou. -Já que você já é, recite um poema, ou cante uma música que já tenha feito. Quase me caguei nas calças, nunca tinha escrito nem composto nada. Mas, para não perder a pose, de repente, cantei uma música com melodia e tudo, para demonstrar que não estava mentindo. Não lembro de tudo, mas, os primeiros versos, nunca me deixaram esquecer. Até hoje, com quase quarenta anos, ainda me gozam por causa deles. Eram os seguintes:

Não choras montanha
Pois a sua vida vai melhorar
Se estás com muita fome
Deixa que te dou um pouco de comida...

Daí em diante, inventei um monte de versos desencontrados, assim como estes, mas cantei uma música inteira, com melodia e tudo e ainda a intitulei de Choro da Montanha. Acho que por castigo, por causa desta mentira deslavada, aos quinze anos parei de escrever e fiquei totalmente bloqueado para tal. Virei professor de matemática, gerente financeiro, e agora, quase vinte e cinco anos depois, tento recuperar o tempo perdido. Será que vou conseguir?

8 comentários:

Lorena disse...

Olha, eu posso dizer que não foram versos nem tempo perdido, vc escreve divinamente! Adoro seus poemas, seus textos, acho de um sentimento absurdo! Não sabia que vc era professor de matemática, minha irmã faz matemática! E olha outra coincidência, meus pais moram na Bahia... hehehehe! Nasci no Espírito Santo, mudei pra Bahia aos 9 anos e há quase 5 moro em Minas; ou seja, sou do Brasil, quase uma cigana! =P

Adriano, eu adoro seus comentários, de verdade. Adorei o comentário no meu blog, é bom saber que vc compartilha de várias impressões comigo. Minas é mesmo uma terra encantadora, é realmente como a música diz, quem conhece não esquece jamais! Uma pena foi que eu não consegui ler seus outros posts, não sei porquê... Será que é porque estou usando o I. Explorer? Geralmente uso o Mozila, mas estou na casa dos meus avós e não quero instalar nada nesse computador, que não é meu... Se tiver alguma outra forma de vc me mandar os links pros seus posts, eu agradeço, quero muito lê-los!

Um abraço! espero que já estejas curtindo sua Júlia. =)

Humana disse...

Se vais conseguir Adriano?
Meu Deus, como consegues!
Será que sou suspeita no meu gostar? Não me parece...tens tantos leitores, seguidores, admiradores!Tens uma facilidade incrivel de te expressar, de exprimir sentimentos, de os pôr em prosa ou em verso e apesar de não te conhecer pessoalmente basta ler-te e olhar o teu rosto e sorriso franco e aberto para ver o ser humano que és!
Continua sempre a encantar-nos amigo!!!

Paulo Bono disse...

meu velho, nem se pergunte se vai conseguir ou não. nem pense. o negócio é não pensar de mais. apenas faça. como já está fazendo.
e como já fez. porque o verso da montanha é bacana.

abraço.

* escreva, escreva, escreva
e continue escrevendo.

Unknown disse...

Tu tem alguma dúvida??? Acho que o tempo perdido está em muito boa recuperação.
Já sou fã do poeta Adriano!
Passa lá no meu blog que eu deixei uma tarefinha pra tu, tá? ;)
Beijinhos.

Jacinta Dantas disse...

Ei Adriano,
engraçado isso: aliás seu texto me fez rir, acho muito legal quando a gente recorda de coisas tão importantes da nossa infância. Faz muito bem. E,sei lá, gosto de acolher o momento presente da vida com tudo o que vier. Então, cara, a hora é essa. Faça-a.
Nem é preciso dizer que gosto muito de vir aqui.
Abração
jacinta

Éverton Vidal Azevedo disse...

Já conseguiu meu amigo. Nao é à-toa que te peço um livro rs. Já tens um comprador, porque tem coisa boa, muita boa, nos poemas que você escreve, e ainda que nao as tivesse já valeria a pena, posto que é uma vida. A sua vida.

Tanto quanto seus poemas, suas crônicas, prosas, sao òtimas. Tudo indica que nao houve tempo perdido... só tempo necessário.

Mas... "Não choras montanha
Pois a sua vida vai melhorar
Se estás com muita fome
Deixa que te dou um pouco de comida..." Aos 4 ou 5 anos foi um pontapé inicial fantástico rs.

Inté!

Vênus disse...

Oi,Adriano
Uma coisa ficou parente:vc ,com cinco anos já possuia muita criatividade e iniciativa..Não deixou a peteca cair...e fez uns versos,seja como for...e matou a fome da montanha..bom menino!rs
E agora,vc já mostra que já é um um escritor ..já conseguiu,meu caro!Parabéns!
Bjs

Denis Barbosa Cacique disse...

Olá, Adriano. Como vai?
Muito engraçada sua história. Qdo eu era criança, vivia dizendo q seria mecânico. O problema é q hje eu num entendo nadinha de carro! É a vida! hahaaha
Choro da montanha!! hahaahahah