No meio da madrugada, como era de costume, acordou com vontade de ir ao banheiro, como se diz em linguagem popular, de tirar a água do joelho. Mas o vício, este vilão iconoclasta, fez com que, antes das necessidades, fosse à sacada do quarto pitar um cigarrinho. A casa era de dois andares, com uma sacada privada, uma espécie de varanda, em cada quarto.
Separando a sacada do quarto, uma porta de correr envidraçada. Ele levanta, tira um cigarro da carteira, pega o isqueiro e vai fumar na varanda. Preocupado com a filha, pai zeloso que é, evitando que a fumaça entrasse quarto adentro, desliza a porta da sacada até fechá-la.
Acende o "crivo". Que tragada maravilhosa! Pitando seu cigarro, admira a noite, a beleza do lugar e o frescor da madrugada. Pensa na vida e nas perdas daquele momento e, mesmo com tudo isso, sente-se muito feliz. De bicicleta, dois amigáveis seguranças, passam em ronda noturna e acenam para o rapaz. A retribuição foi calorosa e sincera.
Depois de consumado o cigarro, lembra desesperadamente que precisa ir ao banheiro e, sonolentamente, que deve voltar a dormir. Foi aí que tudo começou. O seu suplício, o seu vexame.
A tal porta de correr envidraçada, a desgraçada porta, estava travada e não abria por fora. O que fazer? Começou por bater levemente no vidro e baixinho chamar pela filha. Porém, o sono pesado da menina não deixou a pequena se mexer. Passou então a forçar a porta, quando os mesmos amigáveis seguranças, agora não tão amigáveis assim, apontaram-lhe um facho de lanterna e, sabe Deus, o que mais. As indefectíveis bicicletas, agora transportavam educados seguranças, cheios de receios e desconfianças.
Tentou explicar a situação. Quanto mais falava, menos os convencia, mais se enrolava. Naquele momento, já revia a sua vida e pedia perdão por seus pecados esperando o tiro de misericórdia. Foi então que chegou a viatura com mais dois seguranças e acordou a primeira vizinha. O segurança falou: - O que está acontecendo senhor? A vizinha respondeu: - Manda bala neste filho da puta. Ele está forçando a porta! Nas casas vizinhas, luzes começaram a acender e intermináveis janelas se abriam com curiosos de plantão. Apenas com short de dormir, sem camisa, àquela hora da madrugada, o suposto ladrão, verdadeiro visitante, catatônico, envergonhado, quase molha as calças. Estava difícil segurar a bexiga.
A segurança, via rádio, solicitou à guarita que ligasse para residência, no intuito de acordar alguém para tirar o babaca da sacada, daquela situação humilhante e vexatória. Tudo em vão. Casa de dois andares, telefones só em baixo, quartos só em cima, ninguém acordou para salvar o imbecil. Outro grito ecoou da vizinhança: - Prende este marginal, está roubando nosso sossego! Foi então que uma alma iluminada apareceu em outra casa vizinha: - Aí no andar de baixo, ao lado da garagem, dorme um senhor. Será mais fácil acordá-lo. Pede pra ele subir e soltar o rapaz! Foi a única viv'alma que acreditou ser ele um visitante e não um ladrão. Um beócio, mas não um ladrão.
Exatamente neste momente, sem entender nada do que se passava, sua filha, num gesto sonolento, rápido, simples e salvador, levantou e abriu a porta, voltando à dormir como se nada estivesse acontecendo. Ele agradeceu aos educados e pacientes seguranças e, só então lembrou que estava morrendo de vontade de urinar. Saiu se contorcendo até o próximo banheiro. Foi a mijada mais gostosa da sua vida. Quando voltou a dormir, excitado pelo acontecido à pouco, sonhou com o dono da casa sendo inquirido e cobrado pelo incidente da noite anterior. Pela manhã, ao acordar, envergonhado, alvo de gozações e piadas mais do que justas, o rapaz pensou: - Toda essa merda por causa do cigarro. O jeito é deixar de fumar! Tomara que ele consiga.
Seria até engraçado se não fosse uma história
real!
4 comentários:
kkkkkkkkkkkk
Parece ate uma das minhas historias!!!...
Caraca por isso que falo "cigarro é um mal dos infernos!!" Sempre dou Graças a Deus a minha alergia a tabaco..rsrs
Mas que situação hein!!!..rsrsrsrs
beijo grande
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!
Eu não acredito que isto aconteceu com você Adriano, parece cena de filme, que bom que tudo terminou bem.
Beijos e flores!!
"Seria até engraçado se não fosse uma história real!"
Mas a graça é justamente essa, ter sido real. E o mais divertido, ter acontecido com este fumante q a partir de agora deverá ser corrigível (pelo tamanho do vexame)... rsrsrsrs
Só vc mesmo, Adriano p provocar um episódio ilário como este.
Beijo grande, saudades, volta logo.
Eu ri desgraçadamente aqui no cyber café lendo esse seu texto rsrs.
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