Quando o ônibus da Açailândia, Belém-Canaã, com quarenta minutos de atraso, finalmente entrou em movimento deixando a rodoviária, sem querer me peguei fazendo uma retrospectiva da minha vida deste último ano desde quando Júlia foi morar comigo até àquele momento quando eu a estava deixando com a mãe em Belém. Muitas imagens vieram à cabeça e, embora eu fingisse ler o "Caçador de Pipas", não conseguia assimilar uma linha sequer daquelas páginas, eu chorei. Chorei muito, chorei até ficar cansado e adormeci para os únicos trinta minutos de sono daquela angustiante viagem de treze horas que me separavam de Parauapebas, não o meu destino final, mas a cidade onde eu desceria. Me sentia como aquele cara da música de Djavan: "...sabe lé, o que é morrer de sede em frente ao mar?..." Quando acordei fui buscar forças no fundo da minha alma para me confortar com as sábias palavras de Richard Bach: "Não fique triste nas despedidas. Uma despedida é necessária antes de vocês poderem se encontrar outra vez. E se encontrar de novo, depois de momentos ou de vidas, é certo para os que são amigos." Difícil no entanto, é por em prática tal sabedoria. Contudo, imaginei que aquele forte abraço de Júlia, momentos antes quando a deixei na escola e me despedi dela, não foi o último, mas apenas o primeiro dos muitos que ainda iremos trocar. Me reconfortei um pouco, mas uma tristeza aguda foi minha companheira naquela longa viagem .
O abraço da despedida. "Eu te amo Júlia, nunca esqueça disso. Em nenhum momento sequer, papai vai deixar de pensar em você. Em breve nos veremos novamente".
As horas se arrastavam naquele ônibus sacolejante e fiquei me amaldiçoando por ter economizado uns míseros reais e transformado uma viagem de cinquenta minutos em treze horas. Viva Santos Dumond que inventou o avião e vaia para mim que comprei passagem de ônibus.
Durante a viagem não me restou outra alternativa senão forçar a vista e me afundar na leitura para não ver o tempo passar. A belíssima história de "O Caçador de Pipas", no entanto muito triste, aliada ao meu estado fragilizado, por várias vezes fazia com que insistentes lágrimas salgassem a minha tez. Foi uma viagem iterminável. Quando a noite caiu, a luz de leitura com defeito, fez com que eu largasse o livro de lado e as horas demorassem mais ainda de passar. Quando de repente acontece o milagre. A meia-noite em ponto o maldito "buzu" pára na rodoviária de Parauapebas. E, é óbvio, meu compadre Zé Filho não estava lá me aguardando. Previsível demais. Conhecendo meu amigo, compadre e irmão José Filho desde fevereiro de 1976, não podia esperar nenhuma pontualidade por parte dele. Nem tudo estava perdido. Em frente à estação, um barzinho que me pareceu interessante. Atravessei a rua e sentei no bar. Não acreditei quando na mesa ao lado avistei minha amiga Rose. Foi uma festa danada. Em outra mesa estava Verena, com o seu namorido Vicente que até então eu não conhecia, apenas de fotos e nome. Logo em seguida Zé Filho chegou e com eles tomei o primeiro dos muitos copos de cerveja que ainda tomaria no interior do Pará.
Vicente, Verena, eu e Rose no Bar Sportv em frente a Rodoviária de Parauapebas no exato momento da minha chegada.
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