Em abril de 95, encontrava-me numa dureza dessas que a gente não imagina existir pior. Desempregado desde outubro de 94, só vendo as dívidas acumularem-se e nada de trabalho pintar. Vivendo apenas de bicos que não cobriam as minhas despesas, estava à beira do desespero. Foi nesta situação que, junto com um grande amigo do peito cujo nome ainda não citei por aqui, fiz uma das maiores loucuras e irresponsabilidades da minha vida.
Este amigo, Adalberto, ou simplesmente Beto, ou ainda Marajá, ou, como gosto mesmo de chamá-lo, Gatão, é bem mais velho do que eu. Um sujeito espirituoso, de astral sempre elevado, também encontrava-se em situação financeira extremamente delicada. Sua empresa ía de mal a pior e ele virava-se do jeito que podia. Gatão é dessas pessoas que não desanimam e, se a maré não tá pra peixe, pesca cachorro. Inventa de tudo pra fazer, vende qualquer tipo de produto, até gelo no polo norte, desde que seja honestamente, para suprir o sustento da família, na época formada de esposa e duas filhas. Uma tinha seus dezesete anos e a outra, calculo, andava pelos cinco ou seis. Um dia me convidou para passar um final de semana em sua casa na Barra do Pote, uma praia da Ilha de Itaparica. Sabia que, assim como ele, estava em dificuldades e tentava com isso levantar meu astral. Ele sempre conseguia. Afinal, eu, solteiro, sem um pinto pra dar de comer, ficava a queixar-me das minhas agruras, quando ele que já havia experimentado uma situação monetária confortavelmente estável, e isto é um diferencial de significativa importância, dizia pra mim: - Gatão (ele chama todo mundo assim e por isso acabou ganhando tal apelido), esta vida dá voltas, nada como um dia após o outro. Somos pessoas honestas e trabalhadoras, nossa vez vai chegar! Enquanto falava, estampava no rosto um sorriso bonito e sincero. Não dá pra ficar de baixo astral ao lado de uma pessoa assim.
Neste tal fim de semana na ilha, ele me saiu com uma que quase me fez ter um colapso de tanto rir. Era noite de sábado e colocamos cadeiras na porta de casa para ficar conversando, vendo a lua e curtindo a brisa. Aí chegou um rapaz procurando Charliene, sua filha mais velha. Era um namoradinho dela. Ela veio recebê-lo e, depois de ficarem algum tempo conversando sozinhos na varanda, pediu pra dar uma volta na rua com o menino. Ele e D. Gracinha, sua esposa, consentiram. Ficamos observando os dois saírem e vimos que, após alguns metros, eles deram a mão. No mesmo instante Gatão falou: - É por isso que eu digo que é melhor criar galinha do que filha mulher. Galinha a gente cria e come. O cara é assim.
No domingo, quando voltamos da praia, ficamos na varanda bebericando umas cervejinhas e pensando em atitudes que pudéssemos tomar parar levantar um capital de forma mais imediata. Foi aí que ele teve a idéia de irmos pra São Paulo comprar mercadorias para revender em Salvador e pelo interior da Bahia. Haviam alguns obstáculos que foram sendo derrubados um a um. Primeiro, o carro. O seu, uma lata velha digina do Caldeirão do Huck, com o licenciamento atrasado e sem nenhuma condição de enfrentar esta viagem de aproximadamente dois mil kilômetros. O meu, embora tivesse em ótimo estado mecânico e em dias com a documentação, precisava urgente de, pelo menos, dois pneus. Colocaríamos dois pneus recauchutados na frente pagando com cartão de crédito e os dois melhores que haviam, iriam para traseira. Resolvido o primeiro problema. Segundo, alimentação, hospedagem e combustível na estrada. Levaríamos lanches e comida conosco e dormiríamos em hotéis baratos, mais uma vez contando com o milagroso cartão. Terceiro: hospedagem e alimentação em Sampa. Este foi o mais fácil. Na época eu namorava com uma paulista que conseguiu acomodação pra gente em casa de seus pais. Já contei por aqui minha ligação com São Paulo. E, por último e mais difícil, dinheiro pra comprar a mercadoria a ser revendida. Mais uma vez o cartão foi uma das soluções, ele venderia uma ovelha e eu tentaria um empréstimo junto a meu pai. Contávamos com o resultado financeiro desta investida para honrar todos os débitos que iríamos contrair. No meio daquela conversa etílica, achávamos ter resolvido todos os problemas que poderiam impedir a viagem, e calculamos até os números e resultados daquele nosso investimento. Nem imaginávamos o que nos esperava.
Este amigo, Adalberto, ou simplesmente Beto, ou ainda Marajá, ou, como gosto mesmo de chamá-lo, Gatão, é bem mais velho do que eu. Um sujeito espirituoso, de astral sempre elevado, também encontrava-se em situação financeira extremamente delicada. Sua empresa ía de mal a pior e ele virava-se do jeito que podia. Gatão é dessas pessoas que não desanimam e, se a maré não tá pra peixe, pesca cachorro. Inventa de tudo pra fazer, vende qualquer tipo de produto, até gelo no polo norte, desde que seja honestamente, para suprir o sustento da família, na época formada de esposa e duas filhas. Uma tinha seus dezesete anos e a outra, calculo, andava pelos cinco ou seis. Um dia me convidou para passar um final de semana em sua casa na Barra do Pote, uma praia da Ilha de Itaparica. Sabia que, assim como ele, estava em dificuldades e tentava com isso levantar meu astral. Ele sempre conseguia. Afinal, eu, solteiro, sem um pinto pra dar de comer, ficava a queixar-me das minhas agruras, quando ele que já havia experimentado uma situação monetária confortavelmente estável, e isto é um diferencial de significativa importância, dizia pra mim: - Gatão (ele chama todo mundo assim e por isso acabou ganhando tal apelido), esta vida dá voltas, nada como um dia após o outro. Somos pessoas honestas e trabalhadoras, nossa vez vai chegar! Enquanto falava, estampava no rosto um sorriso bonito e sincero. Não dá pra ficar de baixo astral ao lado de uma pessoa assim.
Neste tal fim de semana na ilha, ele me saiu com uma que quase me fez ter um colapso de tanto rir. Era noite de sábado e colocamos cadeiras na porta de casa para ficar conversando, vendo a lua e curtindo a brisa. Aí chegou um rapaz procurando Charliene, sua filha mais velha. Era um namoradinho dela. Ela veio recebê-lo e, depois de ficarem algum tempo conversando sozinhos na varanda, pediu pra dar uma volta na rua com o menino. Ele e D. Gracinha, sua esposa, consentiram. Ficamos observando os dois saírem e vimos que, após alguns metros, eles deram a mão. No mesmo instante Gatão falou: - É por isso que eu digo que é melhor criar galinha do que filha mulher. Galinha a gente cria e come. O cara é assim.
No domingo, quando voltamos da praia, ficamos na varanda bebericando umas cervejinhas e pensando em atitudes que pudéssemos tomar parar levantar um capital de forma mais imediata. Foi aí que ele teve a idéia de irmos pra São Paulo comprar mercadorias para revender em Salvador e pelo interior da Bahia. Haviam alguns obstáculos que foram sendo derrubados um a um. Primeiro, o carro. O seu, uma lata velha digina do Caldeirão do Huck, com o licenciamento atrasado e sem nenhuma condição de enfrentar esta viagem de aproximadamente dois mil kilômetros. O meu, embora tivesse em ótimo estado mecânico e em dias com a documentação, precisava urgente de, pelo menos, dois pneus. Colocaríamos dois pneus recauchutados na frente pagando com cartão de crédito e os dois melhores que haviam, iriam para traseira. Resolvido o primeiro problema. Segundo, alimentação, hospedagem e combustível na estrada. Levaríamos lanches e comida conosco e dormiríamos em hotéis baratos, mais uma vez contando com o milagroso cartão. Terceiro: hospedagem e alimentação em Sampa. Este foi o mais fácil. Na época eu namorava com uma paulista que conseguiu acomodação pra gente em casa de seus pais. Já contei por aqui minha ligação com São Paulo. E, por último e mais difícil, dinheiro pra comprar a mercadoria a ser revendida. Mais uma vez o cartão foi uma das soluções, ele venderia uma ovelha e eu tentaria um empréstimo junto a meu pai. Contávamos com o resultado financeiro desta investida para honrar todos os débitos que iríamos contrair. No meio daquela conversa etílica, achávamos ter resolvido todos os problemas que poderiam impedir a viagem, e calculamos até os números e resultados daquele nosso investimento. Nem imaginávamos o que nos esperava.
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