terça-feira, 1 de maio de 2007

FUTEBOL - Não Dá Pra Ir de Encontro À Chico Buarque

A Torcida do Baêêêêaaaaa.......Na Fonte Nova


O futebol é coisa dos apaixonados. Mesmo que ele acabe casamentos, toda mulher devia saber que um fanático por futebol, tem um grande potencial de homem carinhoso. O problema é que a comparação entre a importância do esporte e da esposa, é inevitável na cabeça das mulheres que, enciumadas, teimam em relacionar o futebol com puladas de cercas ou coisas do gênero.

A ausência do marido enquanto ulula insanamente no estádio, é sempre relacionada com a traição. Não vejo a coisa assim. Apiaxonado por futebol que sou, frequentador de estádios e farrista de primeira, sofri na pele esta questão. Nunca usei o futebol como pretexto de fuga da mulher amada, até porquê se você ama realmente, não foge, leva ela com você. O problema é que ela quase nunca quer. Ou então perderia o pretexto da reclamação, ou acha ridícula nossa atitude perante a comoção fanática do torcedor. E quase sempre não quer que você vá. Não importa.

Não podemos forçar a mulher a sentir a mesma emoção, assim como elas não podem forçar-nos a abdicar de algo que faz parte do nosso íntimo, da nossa paixão, que não está dedicada exclusivamente à ela, sem precisar mensurar o que é mais ou o que é menos. É claro que ela é sempre mais.

Se há uma relação verdadeira, tem que haver concessões, um tem que compreender o outro. Sempre sonhei em ter a minha mulher como companheira de estádio, e fiz tudo pra que isso acontecesse. O problema é que, a única vez que casei, arranjei logo uma torcedora do Payssandu para o sacramento, informal mas sacramento. Tentei de todo jeito mas não consegui transformá-la em Bahia.

Ainda tentei aliciar a minha filha para tal, levando-a nos estádios desde pequena, fantasiada do meu time de coração e, naquela época, com uns três anos, até que gostava. Acontece que Júlia é ela mesma, personalidade muito forte, e ninguém vai conseguir influenciá-la. Hoje simplesmente detesta futebol. Tenho pena do seu futuro marido, vai precisar de muito jogo de cintura. Mesmo assim, a sua nobreza de caráter a faz ficar feliz toda vez que meu Bahia ganha, ela comemora pela felicidade do pai. É uma filha retada de bôa.
Hoje, desiludido que estou com as agruras que tenho passado com meu time, estou um pouco arredio do futebol. Sei no entanto, que isto é um paiol interior. Basta uma faísca e a explosão é inevitável.

O Futebol
(Chico Buarque)
Para Mané, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro

Para estufar esse filó
Como eu sonhei
Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu

Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga
(Para Mané, para Didi, para Mané, Mané para Didi, para Mané para Didi, para Pagão para Pelé e Canhoteiro)


Nenhum comentário: