A capa do DVD MTV AO VIVO 10 ANOS de Ivete Sangalo
A inauguração da Ilha foi um sucesso. As pessoas ficavam encantadas com a nova decoração, faziam questão de comentar e parabenizar Ray pelo resultado. No dia seguinte ele deu entrevista numa rádio local falando sobre a ilha e o seu trabalho. Foi convidado a visitar outras casas de shows que pretendiam investir na decoração. Ficamos mais dois dias em Porto Seguro. Não houve novos serviços por lá, exceto um ano depois quando voltamos para desmontagem do cenário, mas saímos com o doce sabor de dever cumprido. Sinto até hoje, um grande orgulho de ter participado daquele trabalho.
Na volta a Salvador, tivemos a primeira reunião com a produção de Ivete Sangalo e a única, pelo menos que eu tenha participado, com a presença dela. Foi na casa de Cíntia, a sua irmã. Ivete, que eu já conhecia pessoalmente da Perto da Selva, embora ela óbvio não lembrasse de mim, sempre a mesma pessoa que costumamos ver na televisão. Extrovertida, brincalhona, verdadeira, boca porca, fala um palavrão atrás do outro, e muito objetiva. Passou o briefing do projeto, ou seja, as instruções do que ela pensava sobre a cara do cenário. Lembro que ela foi taxativa: - Não sei como você vai fazer, mas quero um globo de boate. Globo este que Ray genialmente idealizou ser retrátil. Num determinado momento do show ele descia e virava a tela de projeção. Puta dor de cabeça este globo nos deu. Contratamos um engenheiro para calcular detalhadamente todos os elementos do mecanismo. Desde a potência do motor ao tamanho de cada peça. Nas vésperas do show, durante os primeiros ensaios, o primeiro problema. Ivete não ficou satisfeita com o globo, falou pra Ray: - Cara você me prometeu uma viagem pro Caribe e me levou pra Fernando de Noronha. De fuder, mas não é um globo de boate. O pior é que ela tinha razão. Pensando em não aumentar demais o peso da peça, Ray projetou o globo com um forro de lona e pedaços de acrílico espelhado colados. Tanto o formato, assim como a quantidade de espelhos, não deram o efeito desejado. Tanto é que tivemos de fazer depois a semi-bola de fibra de vidro e concentrar muito mais os pedaços de espelho. Aí Ivete foi ao delírio. Na madrugada que antecedeu ao show, durante os testes finais, o motor do globo queimou. Saímos com o dia quase amanhecendo do Parque de Exposições e, já às 7hs da manhã, estávamos reunidos na porta de Jorginho Estrela, que colou com a gente depois da ilha até o final do verão, decidindo as providências que resolveriam o problema. Entre globos e motores salvaram-se todos, foi um sucesso total.
Depois do cenário de Festa, Ray passou a fazer diversos trabalhos para Ivete, incluindo vários trios elétricos e o cenário da maior produção que já participei na vida, o show de Ivete na Fonte Nova para a gravação do seu primeiro DVD. Torcedor fanático do Bahia, freqüentador assíduo daquele estádio, sempre sonhei um dia visitar suas dependências. Nem imaginava que iria passar uma semana inteira quase morando lá dentro.
Engraçado que o show foi em 21 de dezembro de 2003 e, por causa do campeonato brasileiro, a Fonte Nova só foi liberada dia 15, segunda-feira, já que o Bahia daria seu último vexame do ano dia 14 ao perder de 7 X 0 para o Cruzeiro e ser rebaixado para a segunda divisão. Não me lembro exatamente porque, mas eu não fui ao estádio naquela segunda. Graças a Deus. Não suportaria ver o que Ray e Paulo Pipoca, ambos torcedores do Vitória, me relataram com todo o prazer. Camisas e bandeiras do meu time rasgadas e queimadas pelas arquibancadas, rádios estilhaçados, enfim, um cenário degradante.
A criação deste cenário específico, não foi de Ray e sim de Mônica Sangalo, outra irmã de Ivete. Na verdade Mônica mostrou a ele algumas ilustrações do que ela pensava, mas para virar um projeto executável, era preciso muitas alterações. A cara ficou a de Mônica, mas o dedo de Ray foi fundamental e acabou mudando completamente alguns elementos. A execução foi totalmente nossa mais uma vez contando com a equipe brilhante da JC sob a batuta do seu infalível maestro Carlinhos, sem contar boa parte da nossa equipe de Porto Seguro.
Neste cenário, dois grandes problemas poderiam ter atrapalhado o brilho da festa e posto abaixo o excelente trabalho de Ray, não fosse à agilidade e talento do nosso amigo Paulo Pipoca. Primeiro o elevador. Ivete entrava no palco de baixo, através de um elevador criado por Ray. Um grande círculo à frente, no centro do palco que tinha um formato de meia lua. Era suspenso por um desses carrinhos andaimes que comumente vimos em grandes atacados. Na sua base, dois semi-círculos de vidro bem grosso permitiriam a passagem de luz por baixo. Horas antes de começar o show, um dos vidros não suportou o calor dos holofotes e partiu. Com muita rapidez, Paulo colocou uma emenda de madeira que tapou o buraco, mas deixou um pequeno batente. Embora Ivete tivesse avisada, passamos o show inteiro apreensivos com medo que ela tropeçasse. Mais uma vez, Deus não permitiu o pior. Hoje, assistindo ao DVD, com os olhos clínicos de quem teve lá, em cada minuto daquela montagem, dá pra notar o pequeno armengue* que aquilo ficou, mas que salvou nossa pele.
Como se não bastasse o elevador, todos os pontos de força do palco eram de 220v. Porém os canhões que soltariam durante o show, a chuva de papel picado brilhante, eram 110v. Tivemos o cuidado de deixar um ponto com esta voltagem para ligar tais máquinas que já estavam inclusive testadas. Acontece que, enquanto nós almoçávamos, algum infeliz, simplesmente cortou nossos pontos 110v e desligou as máquinas. Mais uma vez Paulo, minutos antes do show começar, numa rapidez assustadora, arranjou fio e, sabe Deus de onde, puxou um ponto novo religando os canhões. Ainda bem. Foi justamente desta chuva de papel brilhante, que nasceu a foto da capa do DVD.
Na volta a Salvador, tivemos a primeira reunião com a produção de Ivete Sangalo e a única, pelo menos que eu tenha participado, com a presença dela. Foi na casa de Cíntia, a sua irmã. Ivete, que eu já conhecia pessoalmente da Perto da Selva, embora ela óbvio não lembrasse de mim, sempre a mesma pessoa que costumamos ver na televisão. Extrovertida, brincalhona, verdadeira, boca porca, fala um palavrão atrás do outro, e muito objetiva. Passou o briefing do projeto, ou seja, as instruções do que ela pensava sobre a cara do cenário. Lembro que ela foi taxativa: - Não sei como você vai fazer, mas quero um globo de boate. Globo este que Ray genialmente idealizou ser retrátil. Num determinado momento do show ele descia e virava a tela de projeção. Puta dor de cabeça este globo nos deu. Contratamos um engenheiro para calcular detalhadamente todos os elementos do mecanismo. Desde a potência do motor ao tamanho de cada peça. Nas vésperas do show, durante os primeiros ensaios, o primeiro problema. Ivete não ficou satisfeita com o globo, falou pra Ray: - Cara você me prometeu uma viagem pro Caribe e me levou pra Fernando de Noronha. De fuder, mas não é um globo de boate. O pior é que ela tinha razão. Pensando em não aumentar demais o peso da peça, Ray projetou o globo com um forro de lona e pedaços de acrílico espelhado colados. Tanto o formato, assim como a quantidade de espelhos, não deram o efeito desejado. Tanto é que tivemos de fazer depois a semi-bola de fibra de vidro e concentrar muito mais os pedaços de espelho. Aí Ivete foi ao delírio. Na madrugada que antecedeu ao show, durante os testes finais, o motor do globo queimou. Saímos com o dia quase amanhecendo do Parque de Exposições e, já às 7hs da manhã, estávamos reunidos na porta de Jorginho Estrela, que colou com a gente depois da ilha até o final do verão, decidindo as providências que resolveriam o problema. Entre globos e motores salvaram-se todos, foi um sucesso total.
Depois do cenário de Festa, Ray passou a fazer diversos trabalhos para Ivete, incluindo vários trios elétricos e o cenário da maior produção que já participei na vida, o show de Ivete na Fonte Nova para a gravação do seu primeiro DVD. Torcedor fanático do Bahia, freqüentador assíduo daquele estádio, sempre sonhei um dia visitar suas dependências. Nem imaginava que iria passar uma semana inteira quase morando lá dentro.
Engraçado que o show foi em 21 de dezembro de 2003 e, por causa do campeonato brasileiro, a Fonte Nova só foi liberada dia 15, segunda-feira, já que o Bahia daria seu último vexame do ano dia 14 ao perder de 7 X 0 para o Cruzeiro e ser rebaixado para a segunda divisão. Não me lembro exatamente porque, mas eu não fui ao estádio naquela segunda. Graças a Deus. Não suportaria ver o que Ray e Paulo Pipoca, ambos torcedores do Vitória, me relataram com todo o prazer. Camisas e bandeiras do meu time rasgadas e queimadas pelas arquibancadas, rádios estilhaçados, enfim, um cenário degradante.
A criação deste cenário específico, não foi de Ray e sim de Mônica Sangalo, outra irmã de Ivete. Na verdade Mônica mostrou a ele algumas ilustrações do que ela pensava, mas para virar um projeto executável, era preciso muitas alterações. A cara ficou a de Mônica, mas o dedo de Ray foi fundamental e acabou mudando completamente alguns elementos. A execução foi totalmente nossa mais uma vez contando com a equipe brilhante da JC sob a batuta do seu infalível maestro Carlinhos, sem contar boa parte da nossa equipe de Porto Seguro.
Neste cenário, dois grandes problemas poderiam ter atrapalhado o brilho da festa e posto abaixo o excelente trabalho de Ray, não fosse à agilidade e talento do nosso amigo Paulo Pipoca. Primeiro o elevador. Ivete entrava no palco de baixo, através de um elevador criado por Ray. Um grande círculo à frente, no centro do palco que tinha um formato de meia lua. Era suspenso por um desses carrinhos andaimes que comumente vimos em grandes atacados. Na sua base, dois semi-círculos de vidro bem grosso permitiriam a passagem de luz por baixo. Horas antes de começar o show, um dos vidros não suportou o calor dos holofotes e partiu. Com muita rapidez, Paulo colocou uma emenda de madeira que tapou o buraco, mas deixou um pequeno batente. Embora Ivete tivesse avisada, passamos o show inteiro apreensivos com medo que ela tropeçasse. Mais uma vez, Deus não permitiu o pior. Hoje, assistindo ao DVD, com os olhos clínicos de quem teve lá, em cada minuto daquela montagem, dá pra notar o pequeno armengue* que aquilo ficou, mas que salvou nossa pele.
Como se não bastasse o elevador, todos os pontos de força do palco eram de 220v. Porém os canhões que soltariam durante o show, a chuva de papel picado brilhante, eram 110v. Tivemos o cuidado de deixar um ponto com esta voltagem para ligar tais máquinas que já estavam inclusive testadas. Acontece que, enquanto nós almoçávamos, algum infeliz, simplesmente cortou nossos pontos 110v e desligou as máquinas. Mais uma vez Paulo, minutos antes do show começar, numa rapidez assustadora, arranjou fio e, sabe Deus de onde, puxou um ponto novo religando os canhões. Ainda bem. Foi justamente desta chuva de papel brilhante, que nasceu a foto da capa do DVD.
*Armengue: Expressão típica da Bahia que significa coisa mal feita ou sem acabamento.
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