quinta-feira, 6 de março de 2008

JORNADA NAS ESTRELAS - De Trovão Azul à Interprise!

Pinte este carro de azul e você verá o Trovão.

Quando Muriçoca conheceu Zezinho, os dois ainda eram muito novos. O primeiro com sete anos e o outro chegando aos nove. A antipatia foi instantânea. Muriçoca, como o apelido sugere, era um moleque franzino, magrelo e, como é até hoje, um covarde para brigas braçais. Já Zezinho, um menino forte, brigador, daqueles que não levam desaforo pra casa. Era um "baba", ou uma "pelada" como se chamam em outros lugares. Traduzindo, um bando de pernas de pau tentando jogar futebol. Zezinho era muito melhor que Muriçoca, este um verdadeiro fracasso com a bola. Ninguém o queria em seu time. No meio daquela partida os dois discutiram. Muriçoca, vendo o tamanho de Zezinho tratou de desconversar e sair de fininho, não queria apanhar, e achou o cara um boçal. Durante um tempo andaram se estranhando. Zezinho sempre provocava e Muriçoca corria do pau. Nenhum dos dois imaginava que daquela rusga momentânea, nasceria uma amizade de vida, um amor de irmãos.

O tempo passou e fez com que os dois fossem colegas de escola. Não da mesma sala, mas se encontravam diariamente. Nenhum deles sabe porque mas algo fez com que eles se aproximassem. Aí as diferenças entre eles começaram a ser mais aparentes. Além da força física, tinha o lado social. Zezinho, muito podre, já trabalhava naquela época. Era empacotador de um supermercado. Muriçoca, era filho de uma cara "remediado", classe média, mas destes que todos, em cidades pequenas, acham que são ricos. Na verdade, comparado com Zezinho, ele era rico mesmo. Outra diferença foi gritante entre os dois: o gosto pelos estudos. Muriçoca era daqueles que sempre estavam entre os melhores da classe enquanto Zezinho não tava nem aí pra nada. Foram muitas as vezes que ele tentou botar o outro nos eixos. Com conselhos, aulas, estudos coletivos, mas não havia jeito. Zezinho só queria saber de "farra". Até os livros e cadernos, dava aos colegas pra levarem pra casa e trazer no outro dia. Sempre achava um besta para fazer os seus deveres. No entanto ele era um menino obstinado e tinha muitos sonhos na vida. Naquela época pareciam sonhos, depois todos iriam descobrir que eram objetivos.

Dentre os seus sonhos, o que ele mais falava, era sobre carros. Sonhava em ter um Opala quatro portas todo equipado. Mas, com o seu salário de empacotador, isso parecia muito distante. Num dia muito triste, seu pai faleceu. Deixou uma viúva desempregada com quatro filhos para criar e, de bem mesmo, só o casebre onde moravam. Foi então que D. Leninha, mãe de Zezinho, mostrou ser uma mulher retada. Arranjou emprego e, sozinha, tocou a criação e educação dos meninos a ferro e fogo. Aos poucos, reformou o pequeno casebre e o transformou numa casa decente e bonita. E mais do que o lado material, foi dando a eles um alicerce de caráter e dignidade. Assim Zezinho começou a progredir. Seu primeiro passo foi quando saiu do supermercado e foi trabalhar como balconista de farmácia. Tinha um salário melhor e ainda as comissões. Muriçoca continuava com o esteio do seu pai. Estudando muito, mas ainda não ganhava o seu próprio quinhão.

Os dois juntos viveram aventuras incríveis. Durante o ano, Zezinho economizava o que podia e Muriçoca também, das mesadas e, às vezes, de umas aulas particulares que dava. Gastavam tudo nas férias com viagens. A Chapada Diamantina era o destino predileto. E assim cresceram, viraram adolescentes e, sempre juntos, bateram na porta da fase adulta. Muriçoca já não morava na mesma cidade, mas isto não impediu que a amizade prosperasse. Um belo dia, na cidade onde morava Muriçoca, estavam os dois bêbados na piscina quando o telefone tocou. Era a irmã de Zezinho dizendo que ele tinha sido aprovado no teste que fizera para uma grande companhia estatal. Que ele precisava voltar urgente, com fotos e documentos a postos. Nas pressas, Zezinho arrumou as malas e, ainda bêbado, saiu pra tirar as fotos e pegar o primeiro ônibus. Foi com cara de chapado que Zezinho saiu no seu primeiro crachá daquele emprego que seria então o início da realização dos seus sonhos e das conquistas dos seus objetivos.

Aí entra na história o Trovão Azul. Foi o primeiro carro de Zezinho. Comprado pela mãe é bem verdade, mas destinado a ele. Muriçoca então o ajudou nas aulas de direção. O coitado do Trovão sofreu na mão daquele barbeiro até que ele tivesse mesmo condição de dirigir. Só por curiosidade, Trovão Azul era um chevete ano mil novecentos e antigamente, daquele modelo mais velho, cuja frente tinha a inclinação para dentro, ou seja, da parte superior para inferior. O nome veio por causa da sua cor. Um azul "cheguei" de doer os olhos. São muitas histórias que Zezinho e Muriçoca poderiam contar daquele carro. No entanto os dois preferem deixá-las no anonimato. Assim é melhor pra muita gente.

Muitos anos se passaram. Os dois constituíram famílias, tiveram filhos e a amizade estava lá. Não sem os seus percalços, mas estava lá. Zezinho foi transferido para muito longe e então começaram a se ver e se falar muito pouco. Agora, Zezinho e Muriçoca, cada um no seu lugar, seguiam suas jornadas separadamente. De longe Muriçoca acompanhava os sonhos de Zezinho se realizando. Opala quatro portas já era obsoleto. Caminhonete cabine dupla seria uma boa opção. Com o progresso automotivo, Zezinho trocou o alvo do seu sonho e chegou lá . Teve vários tipos de carro, mas enfim chegou a uma S10 cabine dupla. Todo mundo pensou: agora sua vida está completa.

Mas Zezinho não se limitou a isto. Voltou a estudar, fez faculdade e brevemente se formará em administrador. Trabalhando até hoje na estatal, já tem um outro emprego e administra uma empresa mesmo antes de se formar. Seus ganhos se multiplicaram e seus sonhos também. A S10 ficou pequena. Comprou então uma Hillux topo de linha. Câmbio automático e o escambal. Todos os acessórios possíveis e imagináveis. Ligou para Muriçoca contando a novidade. Este perguntou: -Como é dirigir esta máquina? -A bicha é uma Nave! -Pronto, só pode ser a Interprise!

Se a gente pensar bem, a vida de Zezinho foi uma jornada nas estrelas e ele o comandante desta nave. Mesmo de longe, Muriçoca o admira e sente muito orgulho desse amigo que é um grande vencedor! Mas o que mais o valoriza, carros e dinheiro à parte, é sua dignidade e o seu caráter. Agora o próximo sonho, é uma incógnita. Se Muriçoca tivesse que apostar o seu rico dinheirinho, diria que é um foguete. Um dia, Zezinho chega na lua!A INTERPRISE pronta para a sua Jornada Nas Estrelas!

Um comentário:

Anônimo disse...

Não vou comentar sobre o texto, pois na verdade não o li...fiquei com preguiça. É só para dizer que vi 'namorando' no seu perfil e iquei contente...um namoro ajuda um pouco a aguentar as saudades...