Eu devedor me confesso a ela.
De alma para alma,
Quando da partida de mamãe
Destas para as plagas da eternidade,
Em treze de abril de mil novecentos e sessenta e um.
Somando a conta dos pegados meus
É que chorando com saudades dela
Eu, pecador me confessando à Deus,
Sou devedor me confessando à ela.
Devedor, me confesso arrependido,
De tanto te dever sem te embolsar,
Não fosse o teu desvelo, era um falido
Pelas ruas da vida a mendigar
Um naco de afeição como um vencido,
Indigente de estima salutar.
Todavia, de ti sendo querido
A indigência não pôde me chegar
Dos céus, a casa madre,
Onde com palmas é sempre recebida a geretriz,
Levendo a filial dentro em tua alma
Agora tu te vais rumo a matriz.
Sou portanto infinito devedor
Que teus cheques pagaste aqui no mundo
No guichê do teu banco interior
E que cheques mamãe? Cheques sem fundos!
Selada com a estampilha do perdão
A gente se hipoteque a liquidar,
Nem mesmo recebendo a quitação
Não deixa de ficar hipotecada.
Credora vitalícia, cofre aberto,
No teu peito tesouro iluminado
Saquei dia após dia em descoberto
Numerário de afetos e assim fiquei,
Toda a vida contigo endividado
E nunca nem os juros te paguei.
Porque para dispor nesta carcaça
Só tenho um coração desses maduros
Pulsando dentro em mim a ti chorar.
Que para te pagar levado à praça
Não dá para pagar-te nem os juros
Dos juros que fiquei sem te pagar
Um comentário:
Ei Adriano,
parabéns pela escolha desse poema. Bonito, denso e, a mim, propõe reflexão. Que bom!
Sou mais uma na lista de filhos. Mas a minha mãe...
É só minha
mesmo sendo mãe de tantos outros.
Bjos
Jacinta
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