quinta-feira, 26 de julho de 2007

ROBERTO CARLOS - A Biografia Proibida


Esta é a capa da biografia.

Acabo de ler a tão falada biografia não autorizada, Roberto Carlos em Detalhes e, cada vez mais, entendo menos o porque do cantor ter brigado tanto para retirar o livro das livrarias. Uma celebridade como Roberto, o artista de maior peso de todo o Brasil, deveria ter sido mais coerente e humano. Sim, estou usando a palavra humano pois achei uma desumanidade jogar por terra anos de pesquisa séria, um trabalho brilhante realizado pelo baiano Paulo César de Araújo.

Fã do cantor, assim como a maioria dos brasileiros, o autor faz uma abordagem carinhosa, séria, respeitando a pessoa do artista sem desnudar com sensacionalismo sua privacidade. É natural que o Brasil e o mundo tenham interesse em saber da vida do rei. E ele que tanto fez para chegar onde chegou deveria saber e respeitar este desejo. Pois Paulo César realizou o sonho de milhões e milhões de pessoas ao escrever este livro, aí vem Roberto Carlos e joga areia no brinquedo da mesma multidão que o colocou onde ele está. Uma maldade.

O livro é uma delícia. Um texto claro, fluente, com depoimentos históricos de pessoas que de alguma forma passaram pela vida de Roberto. Uns mais próximos, outros nem tanto assim. Tem também depoimentos do próprio Roberto Carlos extraídos de entrevistas fornecidas às mais diversas fontes inclusive ao próprio autor, além de muitas fotos interessantes. Sob todas as óticas que procurei observar o livro, desde a abordagem jornalística até a invasão da privacidade de alguém, não encontrei motivos que justificassem tal atitude. Que pena!

Não estou crucificando Roberto, de maneira nenhuma. Ele é humano como todos nós e portanto está passível de cometer erros. Neste caso, eu acho que ele errou. Por outro lado só alvoroçou mais a curiosidade de milhões de pessoas. Hoje o livro está por aí, passeando mundo afora em sua íntegra pela internet, e, quem não teve a felicidade de encontrar um exemplar adquirido antes da proibição, como eu, está tendo toda condição de lê-lo. No fim das contas acho que foi até uma espécie de promoção para o livro, pena que não valerá o pagamento de direitos autorais ao escritor, os mesmos direitos autorais que ajudaram a fazer de Roberto Carlos, uma das maiores fortunas do Brasil.

Não sou o único a reclamar, o jornalista Luís Perez, em artigo(leia aqui) publicado no Interpress Motor, defende: “Belíssimo tributo à vida e à obra de Roberto Carlos o livro “Roberto Carlos em Detalhes”, de Paulo César de Araújo. Não que não haja defeitos. Como fã declarado do cantor – e todos que me conhecem sabem disso –, encontrei inúmeras imprecisões, mesmo em transcrições de letras. Mas nada que comprometa o documento histórico (afinal, história é feita de versões, não de “verdades factuais”) que é o livro, que narra o processo de formação desse ídolo nacional, mas não sem trazer à tona minúcias bastante reveladoras. Uma das passagens mais interessantes é a forma como esse livro que o cantor tanto quer proibir aborda um ponto que permeia toda a obra de Roberto Carlos…”.

Li na veja que Roberto não ganhou a ação e sim fechou um acordo com a editora e o autor. Este não foi favorável mas diante da pressão da editora e seus advogados acabou cedendo. Parece que hoje está arrependido. Segundo a reportagem Roberto pagou uma verdadeira fortuna e é claro que Paulo César recebeu uma gorda comissão. No entanto acho que dinheiro nenhum paga a satisfação de um autor que dedica anos da sua vida num projeto para ver o reconhecimento do público por aquele trabalho traduzido na compra dos seus exemplares. Paulo não terá este prazer. Contudo, acho sinceramente que escreveu o livro muito mais pela admiração que sempre sentiu por Roberto do que antevendo generosos proventos com ele.

Fã de Roberto Carlos que sou, principalmente pelo seu trabalho do fim da década de 60 e toda a de 70, fiquei deliciado com a leitura. Pra mim valeu também para descobrir muitas outras coisas da história da nossa música, algumas nem têm tanto haver com Roberto Carlos assim. Estou sentindo uma tristeza imensa por ter terminado aquelas páginas. Fizeram-me uma grata companhia nos últimos dias e acabei me afeiçoando muito a elas. Eu ainda acredito que, mais cedo ou mais tarde, Roberto vai voltar atrás, pedir desculpas ao público e liberar a publicação. Uma imensa multidão ficará agradecida.

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Trechos do Livro

Para quem contesta a sua popularidade e o seu reinado...

"....Roberto Carlos é o mais popular cantor brasileiro de todos os tempos - e nenhuma celebridade deste país pode ser considerada mais conhecida ou mais adorada pelo público. Quando começou a fazer sucesso, o homem ainda não havia chegado à Lua, os Beatles ainda não haviam conquistado o mundo, a Guerra Fria ainda dividia o planeta, e o Brasil era apenas bicampeão mundial de futebol. Pois bem: o homem foi e voltou à Lua, os Beatles viraram lenda, a União Soviética acabou, o Brasil já conquistou o pentacampeonato e Roberto Carlos continua fazendo sucesso...."

Para os que acham que tudo foi fácil pra ele...

"...Já com Roberto Carlos não foi assim. Ninguém o convidou para nada. Quando chegou ao Rio de Janeiro, não tinha nenhum contato, nenhum conhecido no meio, nenhum parente importante. Chegou para arriscar a sorte, e apenas com a fé e um violão..."

"...Escaldado pelo fracasso do primeiro disco na Polydor, Roberto Carlos resolveu arregaçar as mangas e trabalhar mais pela divulgação de seu novo trabalho, sem esperar apenas pela gravadora. Diariamente ele percorria as emissoras de rádio, especialmente o programa do Chacrinha, na Rádio Mauá. "Eu pedi ao Othon Russo que desse mais trabalho a Roberto na CBS para ver se assim ele sossegava e espaçava as visitas diárias para três vezes por semana", afirma o apresentador. Paralelamente à sua atuação no rádio, na época Chacrinha comandava seu programa na TV Tupi, e lá também estava Roberto Carlos, participando do quadro "Adivinha quem é o cantor mascarado?". Roberto Carlos entrava de tarja preta no rosto, sentava em um banquinho e cantava ao violão Brotinho sem juízo. Em seguida, Chacrinha criava uma onda danada, perguntando ao público quem era aquele cantor. Ninguém tinha dúvida na resposta... era João Gilberto. Quando Roberto tirava a máscara, o público fazia oh!!!!!!!!!!, sem entender nada...."

Para os que acham que tudo foram flores para ele...

"...Roberto Carlos estava segurando as mãos de Maria Rita quando o coração dela parou, às 23 horas de domingo, dia 19 de dezembro de 1999. O artista chorou e rezou abraçado ao corpo de sua mulher, que viveu apenas 38 anos, oito meses e quatro dias. "A imagem de meu pai foi a coisa mais desoladora que vi na minha vida. Nessa hora, tive a dimensão real de sua dor. Até aquele momento, tinha sido uma coisa de luta, de vamos lá que tudo vai dar certo. Aí percebi que não seria do dia para a noite que ele iria superar aquilo", afirma Dudu Braga...."

"....Os médicos da Pro-Matre foram então chamados para examinar a criança e deram o diagnóstico: infelizmente, os olhos de Segundinho
(Dudu Braga) não haviam nascido perfeitos. Estavam com 40 de pressão, quando o normal é 15. E essa doença tem um nome: glaucoma congénito - que acarreta perturbações visuais transitórias ou definitivas. Glaucoma: infecção dos olhos, assim chamada pela cor esverdeada que toma a pupila (do grego glaukós - verde), caracterizada pelo aumento de pressão intra-ocular, dureza do globo do olho e atrofia da pupila ótica.

Naquele momento, Roberto Carlos estava envolvido no lançamento de seu novo álbum, O inimitável, e o diagnóstico dos médicos bateu como uma paulada em seu coração. Como normalmente acontece em casos que envolvem celebridades, o boato rapidamente se espalhou pelo Brasil: o filho de Roberto Carlos tinha nascido cego...."

Muitos não acreditaram nele e previram o seu fim...

"...Na contramão da comoção popular que o artista despertava, muito se especulou sobre a possível queda do rei. Diziam que ele não aguentaria muito tempo, que o sucesso acabaria no inverno seguinte, que era falso demais para perdurar. O jornalista David Nasser relatou: "Ninguém pensava, naquele início dos anos 60, que o moço triste de Cachoeiro de Itapemirim tinha vindo para ficar por tanto tempo. Eu também, quando o vi pela primeira vez, calculei que não passasse de um dos muitos passageiros da música". Opinião semelhante à que teve o jornalista e exgovernador da Guanabara Carlos Lacerda. "Pensei, pensaram muitos, que ele ia afundar nas margens plácidas de um Ipiranga de glória passageira."..."

"...Depois de fracassar com seu primeiro disco na Polydor, foi dispensado sem segunda chance da gravadora. "Ninguém tem uma bola de cristal para saber o futuro de um artista. Ele gravou, não vendeu e foi desligado", explica João Araújo, que assumiu o comando da gravadora logo após a saída de Roberto Carlos.

É curioso que, para Roberto Carlos, ninguém teve bola de cristal. Os radialistas só passaram a tocar suas canções depois que ele foi contratado pela CBS - como tocavam vários outros cantores que sumiram no tempo. O importante é identificar quem acreditou em Roberto Carlos antes de ele gravar seus primeiros discos naquela gravadora - quando era apenas um cantor de rádio ou da noite. E nesse papel só houve Carlos Imperial. Mesmo Chacrinha, só ajudou Roberto por insistência de Imperial. "O Imperial foi a minha bengala branca. Ele me levou pela mão através dos corredores das emissoras, das redações dos jornais, das fábricas gravadoras", afirmou o cantor numa entrevista nos anos 60...."

"...Em meio à polémica em torno da ascensão de Paulo Sérgio, e a queda de audiência de seu programa na televisão, não faltaram análises apocalípticas sobre a queda do ídolo. Os sociólogos de plantão também foram chamados a se manifestar sobre o fato. Marialice Foracchi, socióloga da Universidade de São Paulo, afirmou que Roberto Carlos se transformara em consumo e, por conseguinte, havia se desgastado. "Ele acabou se perdendo porque, generosamente, distribuiu as características que o tornavam tão especial. O seu modo de vestir, compor e falar foi partilhado por todos, imitado por todos. As diferenças gradativamente se anularam. A distância que, no palco, mantinha Roberto Carlos afastado mas ao mesmo tempo ao alcance de seu público dissolveu-se. Confundindo-se com o público, o ídolo adquiriu forma humana...", e por aí seguia toda uma tese sociológica para explicar por que teria se exaurido o mito Roberto Carlos.

O que ninguém analisava era se as canções de Roberto Carlos continuavam atingindo o grande público. Nota-se que, naquela época, o critério de avaliação do poder de Roberto Carlos estava no índice de audiência de seus programas, como se ele fosse essencialmente um apresentador de televisão, e não um cantor-compositor...."

Para os que não visualizam a dimensão da sua grandeza e do seu sucesso...

"...Nos demais países não houve um grupo ou cantor jovem com poder de fogo maior do que os Beatles. O Brasil talvez tenha sido o único país no qual, nos anos 60, os Beatles não foram os principais ídolos e vendedores de discos. Aqui quem mandava era Roberto Carlos e sua turma. Fenômeno que vai se repetir depois com o aparecimento do espanhol Júlio Iglesias. O que levou Caetano Veloso a afirmar que Roberto Carlos era o nosso ministro da Defesa.

O fenômeno Roberto Carlos chamava a atenção de todas as subsidiárias da CBS. Mensalmente fazia-se uma lista de best-sellers locais. Cada subsidiária tinha sua lista e a enviava com a quantidade de discos vendidos e a data de lançamento. Quando a matriz começou a ver o número de discos vendidos por Roberto Carlos, ficou estupefata. Nenhuma das outras subsidiárias conseguia vender tanto...."

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É por tudo isso que concordo plenamente com Paulo César de Araújo, dentre as razões para um sucesso tão sólido e duradouro, uma das mais importantes é a imensa qualidade do seu repertório, principalmente nas canções da dupla Roberto e Erasmo. Canções que atravessaram o tempo, de geração em geração, ditaduras, manifestações, exílios, anistia, democracia, etc e, até hoje, estão vivas e atuais encantando o público das mais diversas classes sociais sem importar a faixa etária. Roberto Carlos, para mim, é uma unanimidade.

Como prova irrefutável de tal fato, estão aí "...Detalhes, Se você pensa, Outra vez, Cavalgada, Emoções, Fera ferida, Nossa canção, Olha, De tanto amor, Como vai você, O portão, Jesus Cristo, As curvas da estrada de Santos... E ainda, Sua estupidez, Café da manhã, Nossa Senhora, Proposta, As canções que você fez pra mim, Como é grande o meu amor por você..." dentre tantas outras que não caberiam neste relato. O cara é mesmo o REI!!!

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