sábado, 4 de agosto de 2007

SALVADOR - SÃO PAULO - A Correção

Depois de ler a história podre da nossa viagem que eu publiquei aqui com a devida autorização dele, meu amigo Gatão ressalvou o fato de eu ter omitido três episódios importantes de tal aventura. Dois deles foram omissões propositais e continuarão assim, mas um deveu-se a um lapso de memória infeliz. Não é que tivesse esquecido do fato, estava apenas associando o acontecido a uma outra viagem da qual Gatão não participou. Não lembrei que ele estava presente e, além de testemunha, foi protagonista da história que seria o primeiro risco real de vida a que nos expusemos naquela fatídica jornada.

Afirmei aqui que, na noite do Rio de Janeiro, não fomos à rua por falta de recursos. Uma meia verdade já que o dinheiro estava realmente muito curto. No entanto, enquanto comíamos a pizza liguei para um grande amigo que conhecia há muito, desde os tempos em que trabalhei na Timbalada. Era Cosme Anchieta, o gerente da editora musical da Universal Music, com quem fiz sólida amizade enquanto trabalhei no meio. Por causa do seu trabalho, Cosme vinha muito a Salvador e fui apresentado a ele por meu irmão Edmundo. Compositor que é Edmundo estava editando a maioria das suas músicas com Cosme além do fato da Timbalada ser artista da Universal e ter várias canções no catálogo da editora. A simpatia foi mútua. Gostei dele de cara e acho que a recíproca foi verdadeira. Lembro da primeira vez que saímos juntos numa noitada em Salvador. Eu, com meu Fiat 147, apelidado por meu compadre Zé Filho de O Maestro, “um conserto em cada esquina”, levei o amigo para tomar umas geladas e comer uns petiscos no mercado do Rio Vermelho, mais conhecido como mercado do peixe. O resultado daquela noite foi que o deixei às 6hs da manhã no hotel e o nascimento de uma grande amizade.

Quando liguei pra ele, agora lembro muito bem, logo se prontificou a levar os paraíbas num passeio noturno pela cidade maravilhosa. Não lembro muito bem dos detalhes, mas sei que Cosme e a esposa nos pegaram na pizzaria e saímos pela noite. Logo percebi que o clima entre os dois não estava dos melhores, mas a refinada educação não deixou que passassem para nós as suas desavenças de casais. Depois de passarmos por alguns pontos da noite, paramos num bar chamado Petisco da Vila, reduto do renomado sambista Martinho na Vila Isabel. Lá degustamos várias geladas e algumas caipiroscas que Cosme insiste em chamar de caipirinha. Coisas da linguagem de cada estado. Noutro texto deste blog, explico como o baiano diferencia cada uma delas. Degustamos também um prato de nome desconhecido pra nós, mas de sabor extremamente familiar, o Osso Buco.

Depois de várias cervejas e caipirinhas, respeitando a linguagem dos nossos amigos, o clima entre os dois esquentou e nossa noite prematuramente terminou. Cosme pediu-nos desculpas e nos levou para casa. Acontece que meu amigo estava o que na Bahia chamaríamos de muito retado e saiu em disparada pelas ruas do Rio. Num determinado ponto do trajeto, havia uma blitz policial, com soldados ostentando armas exuberantes e assustadoras, que sinalizou para pararmos o carro. Em plena madrugada do Rio de Janeiro, Cosme acelerou e, contrariando as ordens policiais, furou o bloqueio e passou batido. Até hoje não entendo porque os policiais não atiraram no carro nem iniciaram uma perseguição cinematográfica. A verdade é que chegamos ilesos à casa de Kantney e, Cosme e esposa acertaram seus ponteiros e vivem até hoje um casamento sólido e feliz. Bom para todos. Principalmente pra mim que ainda estou aqui para contar tal história.

Minha confusão foi tanta que estava atribuindo este episódio à outra viagem ao Rio que fiz três anos depois, desta feita sozinho e fiquei hospedado na mesma casa do velho amigo Kantney. Desta vez, numa tarde de sábado, marquei com Cosme um encontro num bar que não consigo lembrar o nome, mas sei que fica na beira do mar e tem um número pelo meio. Talvez seja Barril 2000 ou algo assim. Marcamos às 13hs e se, não tivesse me embriagado enquanto o esperava, talvez estaria até hoje plantado por lá. Saí pelas 16hs trocando as pernas, andei por mais de 10min seguindo a orientação do garçon de como pegar o ônibus para o Cosme Velho e cheguei em casa para dormir e roncar até Kantney me acordar às 20hs para sairmos. Mas isto já é outra história. Vale lembrar que Cosme não perdeu comigo nem um milímetro de consideração por causa desta furada.

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