sábado, 1 de dezembro de 2007

ERA PRA SER UMA FESTA! – Não Podemos Esquecer!

A hora que Nonato perdeu o penalty. Ninguém podia imaginar o que estava para acontecer mais tarde!

Não quero ser o chato batendo na mesma tecla, mas agora que os ventos do esquecimento começam a soprar sobre a tragédia da Fonte Nova, acho que, até em respeito às vítimas e à dor dos seus amigos e familiares, precisamos continuar as discussões, pressionar os órgãos competentes e exigir a punição dos responsáveis.

Naquela tarde fatídica de 25 de novembro de 2007, eu estava lá. No intuito de me divertir, de comemorar a subida do Bahia para a 2ª divisão, junto com os amigos, Duda, Marcão, Ruy Bala, Marcelo, Erenilson, Saracura e tantos outros companheiros de Fonte. Estávamos a poucos metros do local que desabou e não vimos absolutamente nada. Aliás, isto foi uma coisa intrigante, parece que a mão de Deus intercedeu para que a tragédia não tivesse proporções muito maiores. Na hora do acontecido, faltavam dez minutos para o fim da partida, muitos já comemoravam, outros como eu estavam apreensivos com medo do Bahia levar um gol e deixar pra resolver na última partida(que bom que isto não aconteceu, teríamos amargado mais um ano de terceirona), a verdade é que, de um jeito ou de outro, todos estavam tão ligados no campo, que muito poucos perceberam o desabamento. Vocês já imaginaram o pânico absurdo que poderia se instalar se o estádio todo tivesse visto que parte da arquibancada desabou? Como os mais de sessenta mil torcedores que lotavam a Fonte Nova se comportariam numa situação dessas? Sem dúvida pânico geral.

A verdade é que apenas um pequeno grupo que estava ao redor do local percebeu o desabamento e o pânico foi rapidamente e eficientemente controlado pela polícia. Nós mesmos ficamos mais de vinte minutos sentados onde assistimos ao jogo esperando a confusão da saída diminuir, só tivemos conhecimento da tragédia quando, ao irmos embora, tentamos passar pelo local desabado que estava interditado e os policiais nos puseram a par do acidente e solicitaram que desviássemos nossa rota de saída. Soubemos ali apenas que havia mortes, mas não tínhamos idéia das proporções do desastre.

Havia vários trios elétricos nas proximidades do estádio esperando para animar o carnaval da comemoração, mas a imprensa de forma coerente e acertada apelou para que eles não ligassem o som. Não havia mais o que comemorar e sim o que lamentar. Foi aí, ouvindo o rádio no carro de volta para casa, que tive maiores informações e percebi o tamanho da merda que havia acontecido. Comecei a temer por muitos amigos que costumavam ficar bem ali onde a arquibancada foi abaixo. Ao chegar em casa, comecei a ligar para as pessoas mais próximas me certificando que estavam bem e também a receber vários telefonemas de amigos e parentes preocupados comigo. Uma dessas ligações foi muito especial para mim. Era Júlia, minha filha. Ela estava com um casal de amigos na Ilha de Itaparica quando ouviu alguém comentar a tragédia e imediatamente ligou para o pai procurando saber se estava bem. Aí a ficha caiu e vi que qualquer um, inclusive eu, poderia ter despencado junto com a arquibancada naquele momento. Agradeci a Deus por demais. Nasci novamente.

Hoje, menos de uma semana depois, após o anúncio da futura implosão da Fonte Nova e da construção de um novo estádio, já quase não se ouve falar no acidente e na possível punição dos responsáveis. Estão criando uma nova polêmica com base nos prós e contras de tal implosão, sobre a importância do novo estádio para Salvador e a possibilidade de ser sede de jogos da copa de 2014, e abafando a verdadeira causa da discussão: a morte de sete seres humanos que, como nós, queriam apenas vibrar com o seu time e foram estupidamente assassinados pela irresponsabilidade, incompetência e ganância de uns poucos. Foram sete, mas poderiam ter sido milhares. Não podemos nos calar, temos de exigir a punição dos responsáveis e novas posturas dos políticos, dirigentes esportivos, da própria imprensa que nunca antes exigiu a interdição da Fonte Nova e hoje fica bradando que já sabia, para evitar que outras tragédias como estas aconteçam por aí afora. Quando é que teremos mais dignidade neste país?

Pena que tenha sido deste jeito, mas tem que valer como exemplo e aviso que precisamos mudar nossa postura cômoda, apática e covarde se quisermos ter mais respeito e consideração por parte daqueles que detém o poder. Queremos os responsáveis na cadeia, pagando pela morte dos sete inocentes que saíram de suas casa para uma festa e nunca mais retornarão aos seus lares, para o aconchego dos seus familiares.

Estão esperando os laudos da perícia técnica como se isto fosse preciso para saber que ali existiu uma reunião de incompetência, descaso e irresponsabilidade. Quem não sabe que a Fonte Nova, estádio com quase cinqüenta anos, o anel superior, justamente o que desabou, com exatos trinta e seis anos, estava carente de manutenção? Quem não via aquelas infiltrações e as ferragens das estruturas já aparentes e completamente oxidadas? Os banheiros imundos, sem água e sem nenhuma condição de serem usados por um ser humano normal? É muito descaso com um local que tanta renda gerou para o estado e que, por longos anos foi a segunda casa para muitos torcedores baianos. Leiam o depoimento que Roberta, uma amiga minha, torcedora fanática do Bahia me mandou pelo orkut: “As lágrimas insistem em cair pela tragédia e agora se misturam com o dissabor de saber que a minha 2ª casa, aquela que “me viu” sorrir, chorar, gritar, vibrar, desmaiar, brigar, invadir, desesperar, proteger, ser protegida... Palco de diversas fotos, de diversos amigos, de mais uma família núcle, a BAMOR, e mais outros familiares aderentes, TERROR, POVÃO, GARRA... Enfim, a tristeza de saber que não tem mais jeito, que domingo (25.11.07) foi meu último jogo ali na FONTE NOVA, na minha 2ª casa que faz parte da minha vida. Choro mesmo, sem vergonha, é como se arrancassem um pedaço de mim, da minha vida, desculpem mais um desabafo. Todos os momentos ficarão pra sempre na memória, todos sem exceção. Vamos Bahia, Vamos ser campeão e essa estrela será dedicada às VÍTIMAS, a CLEBER, e agora a FONTE NOVA.” Comovente e revoltante.

Por isso meus amigos não vamos deixar que este trágico acidente caia no esquecimento. Vamos cobrar dos responsáveis para que eles paguem por seus atos criminosos. Não vamos deixar que fatos como estes se repitam. Por nós e pela memória dos sete companheiros que se foram nesta tragédia!


Após o final do jogo, a torcida do Bahia faz feio, invade o campo e depedra o estádio. Reparem que todos comemoravam sem saber que uma tragédia acabara de acontecer!

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