segunda-feira, 19 de maio de 2008

DO FUNDO DO ESTOJO

Meu amigo Márcio Valverde acaba de me deixar com lágrimas nos olhos ao me ligar de Santo Amaro e cantar pra mim uma canção que acabara de fazer em cima de uma letra que escrevi em Belém, no dia 12 de fevereiro deste ano. Linda, uma melodia primorosa. Confesso que fiquei deveras emocionado e os olhos não contiveram uma lágrima que rolou.

Márcio, quando recebe letras dos amigos, as que ele gosta e resolve musicar, ele bota dentro do estojo do violão. Pode ficar ali um dia ou uma década, mas uma vez no estojo, a música sai, mesmo que ele dê alguns retoques na letra o que é bem comum acontecer. Então, movido pela imensa tristeza que estava sentindo, inspirado pela beleza do por-do-sol na Baía de Guajará na Estação das Docas aliada a algumas doses de Red que tinha tomado, escrevi a letra para um samba, falando justamente desta tristeza e das escalas que o meu vôo até Belém fez, e, quando cheguei em casa, mandei o seguinte e-mail para ele:

Márcio,

Movido pela tristeza da vinda de Júlia para Belém, escrevi esta letra enquanto tomava umas dosezinhas de Red na Estação das Docas, um lugar lindo à beira rio aqui em Belém. Será que vale a pena botá-la no estojo?

Samba da Saudade

Quando a pessoa amada vai embora
E o coração fica chorando de saudade
É melhor fazer um samba nesta hora
Esquecendo a tristeza de verdade

Faço samba pra abrandar as minhas dores
Para encher de alegria o coração
É quicá, para encontrar novos amores
Que jamais possam subir num avião

Salvador, Recife, Fortaleza,
Muita beleza de São Luis a Belém
Mas no peito fica sempre essa certeza
Que jamais esquecerei meu grande bem

A resposta dele:

Linha de Assunto: Já Nasceu Pronta

Velho Dil,

Não se manda pro estojo tanta saudade sentida
a canção já se apresenta, desde a primeira lida.
abraços,
Márcio Valverde

Eu entendi aquilo como um mote, como costumamos chamar as deixas para novas canções, e escrevi no ato a seguinte letra que ele acaba de musicar e me fazer chorar.

DO FUNDO DO ESTOJO

Não se manda pro estojo
Tanta saudade sentida
Com a força embrutecida
De dolentes pensamentos

A canção já se apresenta
Desde a primeira lida
E os acordes vêm a mente
Como fossem em instrumentos

Não se esconde em escaninhos
Um amor tão verdadeiro
Não se deixa pra depois
O trilho de uma canção

Porque antes do estojo
O meu samba vem primeiro
Pra levar ao mundo inteiro
O brilho desta paixão

Vale lembrar que as duas letras foram musicadas sem um retoque sequer. É por isso que eu amo Márcio Valverde.

7 comentários:

Jacinta Dantas disse...

Eita homem com os sentimentos transbordando nas mãos. E que letra rapaz! Lembro-me bem - do que vc deixou transparecer aqui no blog - dos momentos que você vivenciou, em fevereiro, com a nova realidade de vida para vc e a Julia. Fico feliz que, da experiência, dentre tantas coisas, ficaram, também, essas lindas canções.
Beijos

PS: bem que eu quero escutá-las

Unknown disse...

E tamanho talento pra rimas e sentimentos merece ser guardado? Não senhor!
Sorte que teu amigo do peito tem a sensibilidade complementar à tua emoção.
Amei a letra. Linda, linda!
Bjinhos.
;)

Éverton Vidal Azevedo disse...

A música de Márcio Valverde (as que ouvi aqui, Funcionário e Deixa Assentar a Poeira) sao excelentes! Muito bem gravadas, a voz dele é bem característica (nao imita ninguém). Enfim, gostei mesmo. Compraria com gosto um cd!

E gostei de saber que se trata de uma amigo seu, que anda musicando letras suas. As duas que você nesse texto sao ótimas, e 'Do Fundo do Estojo' me pegou num momento especial. Êta saudade danada.

Como é que faz pra ouvir mais mesmo? rs

Já já vou ver aqueles links que vc me mandou.

Abraço!
Inté!

Éverton Vidal Azevedo disse...

Só uma dúvida... O cantor de O Funcionário é o Marcio Valverde?

Lorena disse...

Adorei as duas, Adriano, que coisa mais linda! Essa semana estou em meus momentos poesia, e quase todas elas têm me emocionado, e claro que as suas não seriam diferentes! Gostaria muito de ouvir Do Fundo do Estojo... Endosso a pergunta do Vidal, como a gente faz??

beijos!!

Ana Casanova disse...

Meu querido Adriano,
estou emocionada! Senti um arrepio na pele que sinto ainda enquanto escrevo.Compreendo tão bem esse teu amor enorme pela tua Julia e a angustia que sentes.Tb o senti quando deixei o meu César e sinto cada vez que ele vai embora e está bem aqui ao lado...
Quanto à tua capacidade de colocar em verso o que te vai na alma já te disse que te considero extraordinário, maravilhoso, sensível...mas nunca é demais repetir!
Beijinhos com muito carinho

Leandro Neres disse...

Puxa Adriano, vou querer ouvir isto... Os poemas me tocaram, gosto muito de poesia... Visio aqui com gosto!!!
Parabéns...
Vou querer ouvir, einh? rs
Abraços
Leandro