quarta-feira, 19 de setembro de 2007

BRASIL – Pirataria, Tropa de Elite, Calheiros e outras excrescências!



Acabo de assistir ao filme Tropa de Elite. Fico um tanto envergonhado de assumir em público tal fato, haja vista a desconcertante situação de confessar ser um, mesmo que circunstancial, colaborador da pirataria, algo cujos princípios éticos e morais me fazem condenar de imediato. Mesmo reconhecendo a imensidão deste problema que inicialmente quase extinguiu a indústria fonográfica brasileira, e agora abala de forma torrencial os alicerces das indústrias de cinema e vídeo, as dificuldades de solução para tal, num país com um povo ávido de entretenimento e lazer, cujos rendimentos só não são mais torpes que as ações dos Calheiros e cia ltda e a corrupção da nossa polícia cujo filme retrata cruelmente, vai ser quase impossível dar um freio num mercado que, na informalidade, vende por R$ 4,00 algo que não se compraria numa loja por menos de R$ 20,00. Sem contar os lançamentos cinematográficos que não saem abaixo dos R$ 80,00. Como convencer quem ganha um salário mínimo a pagar 500% a mais com argumentos como a geração de emprego e renda e a falta de pagamento de impostos dos piratas? Se estes pelo menos fossem bem aplicados, se nossa população não estivesse morrendo nas filas dos hospitais, talvez ainda tivéssemos uma chance.

Justamente agora que, aqui na Bahia, vários proprietários de vídeo locadoras fizeram manifestações pelo estado, só num dia foram destruídos mais de trezentos mil DVD´s e CD´s piratas, me caiu nas mãos uma cópia ilegal de Tropa de Elite. Neste caso então a coisa se torna ainda mais absurda já que o filme sequer estreou nas telonas e ainda surgiu um boato que não irá mais estrear. Resta-me o consolo de não ter comprado a tal, foi empréstimo de um amigo, como se isto diminuísse a minha culpa. Não iria perder a oportunidade de ver a brilhante película, não consegui resistir.

O filme é um soco na boca do estômago cujos efeitos são avassaladores. Qualquer cidadão sabe o mar de corrupção no qual está mergulhada a nossa polícia, mas ver o assunto tratado de forma escancarada, sem máscaras, sabendo que é tudo real, deixa o mais alienado dos telespectadores revoltado e indignado com a situação. Aqui mesmo, dizem as más línguas, lá no Morro do Águia, que já foi o maior ponto de venda de cocaína de Salvador, as viaturas da PM subiam e desciam constantemente para buscar o arrego, sem incomodar nem traficantes nem viciados.

Por outro lado temos que considerar o lado dos policiais. Pais de família, trabalham arriscando a vida a cada segundo para ganhar um salário de fome. Embora isto não seja desculpa nem argumento. Já imaginou se todo mundo que ganhasse pouco entrasse no mundo do crime e da corrupção para sustentar a família? Onde iríamos parar? Eu mesmo estaria empunhando uma pistola e fazendo assaltos, ou talvez tivesse no morro vendendo umas balas pra gurizada. Não, definitivamente não. Não é isto que quero dar de exemplo pra minha filha. Não é esta vida que quero pra mim. Prefiro conquistar com o suor do meu rosto, o pouco que ganho, sentindo-me feliz e honrado, dormindo tranqüilo enfim. Assim como eu, muitos não cedem às dificuldades, mas vamos convir que, se ganhasse melhor, bem melhor, seria mais fácil manter a polícia longe da corrupção e do crime. A verdade é que hoje pagamos pra ela proteger o ladrão e o traficante, enquanto ficamos sujeitos a todos os tipos de atrocidades. Para confirmar este fato, basta ler ou assistir um jornal diário.

Tudo fica pior quando vemos nossos governantes e legisladores, assim como o Roubalheiros, desculpem Calheiros, que lapso!, saírem impunes, sem máculas, absolvidos a portas fechadas, com votos secretos, onde sequer sabemos pra quem os filhos das putas que nós mesmos colocamos ali, estão trabalhando. Que nojo! Que absurdo! E o governo do trabalhador querendo foder sua classe? Brigando para acabar com 13º, para manter a CPMF. Alguém lembra do discurso do PT antes de ser governo? Cambada de aproveitadores, isso sim. Que saudade de Cristina Nicolloti. Por muito menos mandaria todos eles tomarem no cu. Pena que ela sumiu e a febre da sua inusitada música já passou.

Outra coisa que me repugnou, foi a forma como os membros do BOPE, Comando de Operações Especiais, retratados pelo filme, são treinados. Com humilhação, violência e desrespeito. Verdadeira máquina de ensinar a matar como se bebe uma garrafa de refrigerante, sem nenhuma culpa. Homens treinados para não terem sentimentos, para tratarem o seu semelhante como se fosse um lixo. Meu Deus, aonde vamos parar? É esta lição que daremos pras futuras gerações? Precisamos pensar nisto!

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog. Acho muito interessantes suas histórias, opiniões e textos. Continue nos presenteando a cada dia. Felicidades!

Anônimo disse...

É impressionante como as pessoas não entendem o que o filme quer passar! Como você acha que os policiais deveriam ser treinados? Para passar a mãozinha na cabeça dos traficantes? Sinceramente, todo mundo já percebeu que assim não funciona! Porque você acha que o BOPE é respeitado na favela?

Adriano Carôso disse...

Fernanda,

Respeito a sua opinião mas não concordo com ela. Você acha que é criando assassinos sanguinários que iremos resolver o problema do tráfico de drogas? Você chama de respeito o sentimento que os traficantes nutrem pelo BOPE? Por acaso já parou para pensar na quantidade de vidas inocentes que suas ações exterminam sem nenhum tipo de remorso? Ou você é daqueles que acham que se estão no morro são marginais e portanto devem ser exterminados? Hitler, graças a Deus, já morreu faz tempo. Nosso problema é muito mais profundo. Reside na falta de eduação, nos péssimos ganhos da polícia, na miséria do nosso povo, no interesse que a classe política tem em manter a nossa ignorância e falta de educação, na ganância do povo sempre querendo ganhar mais, mesmo que isso signifique a morte de fome de um semelhante. BOPE nenhum vai resolver esta questão. O BOPE pra mim é tão ruim quanto o traficante, uma vergonha, um absurdo, uma isntituição nazista e podre. Desculpe por não concordar com você. Por acaso gostaria de receber aquele treinamento?