sábado, 16 de junho de 2007

SALVADOR - SÃO PAULO – O Roteiro da Loucura e da Irresponsabilidade – III


Vou-me Embora
(Paulo Diniz/Roberto José)

Vou-me embora
Vou-me embora
Vou buscar a sorte
Caminhos que me levam
Não têm Sul nem Norte
Mas meu andar é firme
E meu anseio é forte
Ou eu encanto a vida
Ou desencanto a morte...

Vou-me embora
Vou-me embora
Nada aqui me resta
Senão a dor contida
Num adeus sem festa.
Eu vou na ida indo
Que o temor desperta
Cuidar da minha vida
Que a morte é certa.

Quem disse que trazia
Até hoje não trouxe
O bem de se fazer
Da vida amarga, doce.

Eu não espero o dia
Pouco me importa
Se o velho é sábio
Se a menina é louca
Se a tristeza é muita
Se alegria é pouca
Se José é fraco
Ou se João é forte
Eu quero a todo custo
Encontrar a sorte.

Vou-me embora
Vou-me embora
E levo na partida
Resolução no peito
Firme e definida
Quem vem na minha ida
Ouve a minha voz
E cada um por si
E Deus por todos nós...

Neste momento estou ouvindo Paulo Diniz. Não há como separar das lembranças desta viagem, os acordes e os versos de Paulo. Assim como o consola corno de Gatão, ele foi o nosso companheiro inseparável de viagem. E que viagem! Não a faria nunca mais, pelo menos nos moldes que a fizemos, mas a saudade que sinto daqueles dias finca como uma flecha no meu coração.

No dia seguinte, em São Matheus, acordamos cedinho em vão. O comércio da cidade só abriria às 9hs e tivemos que esperar para comprar o famigerado macaco. Àquela altura, nossa programação inicial já estava completamente comprometida. Pelos meus cálculos, se seguíssemos direto a São Paulo, chegaríamos na madrugada do dia seguinte. Não seria prudente. Comecei a arquitetar uma parada estratégica no Rio de janeiro. O problema é que tudo aquilo estava botando por terra o nosso já desastroso orçamento de viagem. Mas, como diria o velho ditado, “mais vale um amigo na praça que dinheiro no bolso”. E foi justamente um grande amigo que nos salvou: Kantney. Um carioca cuja amizade herdei da grande amizade que ele tinha e tem com o meu irmão Edmundo. Por falar em Kantney, por onde será que ele anda? Quanta saudade sinto deste amigo querido! Em Vitória-Es, quando paramos para almoçar, liguei pra ele e pedi para nos acolher em sua casa por uma noite. Prontamente nos atendeu.

Seguimos viagem ouvindo Paulo Diniz, “E agora José?, a festa acabou, a luz apagou...”, “O meu amor chorou, não sei porque razão...”, filosofando sobre a vida, tomando cafezinho, fumando e, sobretudo, sonhando muito. Quando nos aproximávamos do Rio de Janeiro, uma forte emoção tomou conta de mim. Aquela cidade exercia sobre mim um fascínio inexplicável. Um sonho de criança, um sonho de consumo. Não era a primeira vez que passaria pelo Rio, mas a primeira que ficaria pelo menos uma noite e teria oportunidade de sentir os ares da Guanabara mais profundamente. Atravessamos a ponte Rio-Niterói às 17hs em ponto. Aí Gatão me fez uma pergunta que me surpreendeu e para a qual eu não tinha nenhuma resposta: - Marajá, pra onde vamos agora encontrar o seu amigo? Você sabe o caminho? Eu não sabia de nada. Não tinha combinado com Kantney uma forma de nos encontrarmos nem pedido uma referência qualquer para seguir e, muito menos, sabia andar no Rio de Janeiro. Parei num posto e liguei pro meu amigo exaustivamente sem obter resposta. Aí eu pensei: - Fudeu! “E agora José?”

Foi quando lembrei que minha mãe e minha irmã estavam na cidade esperando uma excursão que sairia de lá no dia seguinte. Pelo menos de três coisas eu sabia: o bairro, Copacabana, a rua, Av. Princesa Isabel e o hotel que hoje não lembro mais o nome. Do orelhão no posto, catatônico, olhei para o nada sem ter a mínima idéia do que fazer. Foi quando avistei uma dessas placas de sinalização onde estava escrito Copacabana. Entrei no carro e menti pra Gatão: - Pronto! Tudo resolvido. Peguei a direção e fui seguindo todas as placas que indicavam Copacabana. Quase não acreditei quando vi uma plaquinha com nome de rua escrita: Av. Princesa Isabel e mais a frente uma outra imensa com o nome do hotel onde estavam Sílvia e Mame Blue. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Quase matei as duas do coração quando interfonei do saguão. Elas nem sonhavam que eu estava vivendo aquela aventura.

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