quarta-feira, 5 de agosto de 2009

NA BAIANA DO ACARAJÉ

-Diga aí freguês?
-Baiana, vê um com e um sem pra viage.
-Bota pimenta?
-Tá muito retada?
-Tá boa.
-Então bota como se o cu fosse seu. Tem guaraná?
-Sim. Tem coca, fanta, fanta uva e soda.
-Bota uma coca pra viage também. Sabe dizer onde eu pego o buzu pra Muriçoca?
-Faz o arrodeio a direita. Ele passa na pista de lá.
-Costuma demorar?
-Demora pra caralho. Só passa de caju em caju.
-Ôto dia peguei esse buzu e o motô botou pra fudê. Corria virado na nisgraça, acho que tava comeno água.
-Esses corno num respeita a gente. Leva o buzu como se fosse fusca. Ôto dia o motô fez uma curva virado na porra e derramou meu balaio todo.
-Filho da puta! Porque você num mandou ele pra casa da porra?
-É que tava na pendura, num podia reclamar. Cê sabe né, as vez a gente pega carona.
-Cê tava indo pronde?
-Da Curva Grande pro Pau Miúdo.
-Ah! Longe pra porra.
-O pior né isso. O buzu tava intupido e tinha um viado fazeno terra em mim. Mandei o sujeito tomar no lugar que galo gosta. Que falta de respeito!
-Pois é baiana. O povo num respeita mais nada. É foda! Cê já viu que tem um carioca trabalhano na padaria de seu Nonô?
-Vi, acho que ele é meio tiziu do peito seco.
-Pois é. O sacana ficou rino da minha cara porque pedi uma vara e dois cassetinho, pode?
-Pode não batera, quem essa bicha pensa que é?
-Sei lá. Aquela coca é fanta mesmo.
-Tô indo baiana. Vou levá o acarajé da nêga antes que isfrie. Ah! Bota uma punheta também. Quanto é?
-Seis real.
-Bota no prego baiana. De hoje a oito eu te pago.

P.S. Este texto é quase uma transcrição literal de um diálogo que ouvi ontem entre a baiana e um cliente quando fui comprar um acarajé.

Glossário de Regionalismos

Diga aí freguês: Saudação de comerciante, principalmente feirante, camelôs e baianas de acrajé, aos seus clientes.
Baiana: Vendedora de acarajé.
Um com, um sem: Acarajé com e sem camarão.
Muito retada: Muito forte, ardendo demais.
Como se o cu fosse seu: pouca pimenta.
Guaraná: Para o baiano guaraná é sinônimo de refrigerante.
Viage: Viagem.
Buzu: Ônibus coletivo.
Muriçoca: Pernilongo. Neste caso alusão ao Vale da Muriçoca que liga o bairro da Federação a Av. Vasco da Gama em Salvador.
Arrodeio: Retorno.
Pra caralho: Muito.
De caju em caju: De quando em vez, espaçadamente.
Ôto: Outro.
Nisgraça: Desgraça.
Comeno água: Fazendo uso de bebida alcoólica.
Motô: Motorista.
Virado na Porra: Forte, nervoso, com muita intensidade.
Balaio: Cesto grande trançado de vime ou cipó.
Na Pendura: Fiado ou de graça.
Num: Não
Cê: Você.
Pronde: Para onde.
Curva Grande: Ladeira no bairro do Garcia em Salvador.
Pau Miúdo: Bairro de Salvador.
Intupido: Muito cheio, entupido.
Fazeno terra: Roçar por trás nas pessoas.
No lugar que galo gosta: No cu.
Trabalhano: Trabalhando.
Tizio do peito seco: Homossexual.
Rino: Rindo.
Vara: Pão francês 200g.
Cassetinho: Pão francês 50g.
Batera: Amigo, parceiro.
Aquela coca é fanta: O rapaz é gay.
Nêga: Esposa, namorada, amante.
Isfriar: Esfriar.
Punheta: Bolinho frito de tapioca coberto com açúcar e canela em pó. Também conhecido como bolinho de estudante.
Botar no prego: Pendurar, fazer fiado.
De hoje a oito: Daqui a uma semana.

Um comentário:

Ana Casanova disse...

Achei o máximo e fartei de rir com as expressões.Lol
Só uma coisa Adriano: palavrão é regionalismo? E que palavrões!Alguns eu não sei se aí são e aqui não ou vice-versa mas também não me vou atrever a dizer quais são.É que se vocês conhecessem, eu morria de vergonha depois! Lolol
Agora as explicações para gay achei muito engraçadas, principalmente a da Cola ser Fanta.
Aqui dizem que "pega de marcha atrás" ou "vê as horas ao contrário".

PS - atenção que apenas falo de expressões.Não tenho nada contra a homossexualidade.
Beijos meu querido amigo.