terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

BORA BAHÊÊÊA MINHA PORRA!

Se tem uma coisa que eu gosto na vida é de futebol e das gozações que os torcedores fazem uns com os outros. Só lamento a violência que vem se espalhando nos estádios e entre as torcidas rivais no Brasil. Na Bahia esse problema ainda não tomou proporções muito sérias, mas é preciso tomar cuidado pois, como diria meu pai:, - Filho só puxa a pai quando é ladrão de cavalo. Ou seja, o que não presta a gente aprende logo.

Torcedor saudável do Bahia que sou, até porque ninguém é Bahia doente, no máximo convicto, observo a nossa torcida e vejo que não importa a divisão em que esteja, não importa a merda de time que temos, não importa nada, a torcida do Bahia, ou Baêêêa, como gostamos de chamar, é uma torcida fantástica, uma torcida fiel. Não tenho medo de dizer, a mais fiel do Brasil. Que timão que nada! Quero ver a torcida do Corínthians ou Flamengo, botar sessenta mil pagantes no estádio na terceira divisão jogando com o Fast. Por causa desse jogo, através de uma crônica muito interessante que recebi por e-mail, descobri um blog de torcedores fanáticos, O Baheaminhaporra, e através dele, o Espalitando Dente, que eu curto pra caralho. E agora, depois do Bahia dar de 2x0 no Vitória, em pleno Barradão, jogando pior é bem verdade, mas aí fica mais gostoso ainda, e com direito a um frangaço do goleiro Viáfora, segundo a torcida do Bahia, o mais novo contratado do Tricolor de Aço, recebo um novo e-mail, com uma nova crônica, que mais uma vez quero compartilhar com vocês.; Torcedores do Bahia ou não, isto não é uma provocação acintosa, é apenas uma brincadeira saudável. Os verdadeiros baianos de coração, entenderão isso facilmente. Uma coisa nela me chamou muita atenção. A forma como retrata o linguajar dos baianos. Principalmente a linguagem popular. Já falei sobre isso numa opinião sobre o filme Ó Paí Ó.

Como muitas pessoas que me visitam, não são da Bahia ou do Brasil, e não conhecem de perto a realidade sobre a qual estou falando, vou fazer um pequeno prefácio para a crônica e um glossário regionalista para melhor entendimento. Esta crônica está publicada no blog Baheaminhaporra e quem quiser lê-la ali, com direito à fotos e seus comentários, clique aqui.

Prefácio:

Bahia e Vitória são os times de futebol com mais expressão na Bahia. O Vitória, embora bem mais velho que o Bahia que foi fundado em 1931, tem reconhecidamente por várias fontes de informação uma torcida muito menor. Ele que há anos festejou seu centenário, está atualmente numa melhor fase, com lugar na primeira divisão do campeonato brasileiro, o Bahia na segunda, e tem ganho quase todos os campeonatos estaduais nos últimos anos. Se não estou enganado, a última vez que o Bahia foi campeão baiano, foi em 2001. De lá para cá o Vitória levou todoas exceto uma edição vencida por um time do interior do estado. A rivalidade das torcidas é muito grande. O Bahia "se gaba" de duas estrelas no peito. Uma pela Taça Brasil de 1959, ganha em cima do Santos de Pelé no Maracanã, uma vez que perdeu na Fonte Nova e ganhou na Vila Belmiro, sendo disputada uma terceira partida em campo neutro. Alguns torcedores do rival não reconhecem este título como o de campeão brasileiro, mas a verdade é que este foi o primeiro campeonato realizado a nível nacional; e, a segunda, pelo título de campeão nacional ganho em pleno Beira Rio em cima do Internacional de Porto alegre. Embora o jogo tenha sido realizado em fevereiro de 1989, era a edição do campeonato do ano de 88.

Por outro lado, a torcida rubro negra, se vangloria de ter um estádio próprio, de estar em melhor situação nos campeonatos regional e nacional atualmente e em franco crescimento numérico por causa dessas situações. Para piorar a história para o tricolor, em novembro de 2007, como frisei em alguns textos no marcador Futebol aqui no blog, aconteceu uma tragédia lamentável no jogo que ascendeu o Bahia de volta para a segunda divisão do Brasileirão, que deixou a Fonte Nova interditada e o Bahia sem estádio para jogar. Durante todo o ano de 2008, o tricolor mandou os seus jogos na cidade de Feira de Santana, a 110km de Salvador, onde não teve a presença maciça de público a que estava acostumado e onde obteve um rendimento lastimável, tanto no Baianão como no Brasileiro, onde não chegou sequer a almejar um subida para a primeira divisão.

Por causa do forte impacto negativo econômico e social que tal situação provocou para o estado, o governo resolveu reformar o Estádio Roberto Santos, mais conhecido como estádio de Pituaçú. Era para ser inaugurado no ano passado, mas uma série de "coisas aconteceram". A obra foi embargada por supeitas de irregularidades no orçamento e se arrastou o ano todo. Alguns dizem que a juíza era da "família rubro negra", outros falam que que o governador é Bahia e ladrão, se aproveitando para beneficiar o seu time e seu bolso. Nada sobre isso posso contestar ou afirmar. Só duas coisas posso falar sobre o impasse. Torcedores do Bahia e do Vitória estão errados. Os do Bahia quando acham que o estádio de Pituaçú é deles. Não, não mesmo. É um estádio público onde qualquer um, inclusive o Vitória, pode mandar seus jogos desde quando pague os 6% da renda de aluguel e se responsabilize pela manutenção do espaço e seus equipamentos. Os do Vitória quando falam que a obra foi feita para beneficiar o Bahia. Não. Todos ganham com isso. Principalmente o futebolo baiano e a Bahia, um pólo turístico fortíssimo que acaba de ser confirmada como sede de um jogo da seleção pelas eliminatórias da copa no referido Pituaçú.

De resto é rir das gozações de tricolores e rubro-negros que até hoje, e espero que para sempre, se harmonizam, mesmo com todas as piadas, independente dos resultados. É claro que, puxando a sardinha para o meu lado, acabo de ganhar de 2x0 do Vitorinha em pleno Barradão. Isto tem um sabor especial.

A Crônica:
De Quatro
Assinada por Bolota do Bahia

Porra, véi... dia bonito da porra que fez domingo. Levantei cedo pra caralho. Quando abri o olho, tava batendo 11:30 no relógio. Dei uma espiada na broca da parede e vi o solzão virado no estopô. Balancei a nêga do meu lado e disse carinhosamente: "Acorda, porra. Acorda nessa desgraça que a gente vai quebrar essa gelada na praia antes de ir pra Pituaço".
Como era um dia muito especial pra mim, resolvi levar a sacaneta pruma praia de bacana. Jardim de Alá. Ou como diz meu bróder Obama:"God´s Garden".
Peguei meu ingresso, o dinheiro do buzú e me piquei com a neguinha.

Normalmente eu escolho a barraca que eu vou ficar pela trilha musical. A que tiver tocando o som mais nigrinhagem, é a que eu fico. Fui passeando entre as barracas e comecei a ouvir um som que eu não escutava há uns 10 anos. Um repertório que ia do antigo Gera-Samba, passando por Neon do Samba, Pagolada, Feras Potentes e finalizando com o show do Kiribamba LIVE em Juiz de Fora (MG). Só os clássicos.

"A capenguinha, a capenguinha, a capenguinha, a capenguinha, a capenguinha, a capenguinha quer andar. A capenguinha quando não tá de muleta, ela pega no porrete pra poder se equilibrar..."

Era esse o nível do som. Puro jazz. Bom pra caralho.
O nome da barraca era Ponto G. Pronto. Achei a porra do Ponto G. Pelo menos uma vez na minha vida eu achei essa porra. Com um nome desse, não tive dúvida. É aqui mermo.

Pedi logo uma gelosa e uma dúzia de lambreta. O lugar era muito bacana. Várias gostosas. O único mal é que tinha muito pombo. Parecia o Barradão, a porra.
Tava tudo muito de fuder até a hora que encontrei Helinho Sabonete.

Sabonete é um torcedor do vice. Ele tem esse apelido porque, dizem as más línguas, quando ele serviu ao exército, foi tomar banho, deixaram cair um sabonete e ele foi catar do chão. Depois desse incidente, o bicho ficou manco. Não sei porquê.

O fato é que o sacana resolveu tirar sarro com a minha cara. Disse que eu não tinha estádio. Que tava a não sei quanto tempo sem ganhar porra nenhuma e todas aquelas merdas que a gente tá acostumado a ouvir dos vices. E pra fuder com tudo, ainda disse que a gente ia tomar pau do Ipitanga!! Aí eu pirei. Mandei ele repetir o que ele disse:

- Repita aí o que você falou, véi..
- O Jahia vai tomar de 1 a zero do Ipitanga - o filadaputa repetiu.
- Repita aí de novo, véi...
- Tá surdo, porra gordo?? o Jahia vai tomar gude preso do Ipitanga.

Rapaz... o sangue me subiu à cabeça. E a nega dizendo "calma, calma". O garçom dizendo "segura o gordo". E a baiana de acarajé dizendo "fudeu!!". E o pombo dizendo "gurururu, gurururu...." aí eu explodi.

- Ó seu viado desgraçado filadaputa corno manco do cu brocado. O Bahia hoje vai meter de 4 que nem fizeram com você no quartel, sinhá nisgraça. Só vou apostado, miserável!!

- Bora!! Pra cada gol do Bahia, uma grade pra você. Pra cada gol do Ipitanga, uma grade pra mim.

Eu não sei se o sacana tava bebo ou maluco. Só sei que aceitei a porra da aposta doida do fornecedor de briôco.

Saí virado na porra da praia. Já era dez pras três e eu ainda tinha que pegar a zorra do buzú pra Pituaço. As palavras de Sabonete ecoavam na minha cabeça... mas o Bahêa não ia me decepcionar. Não dessa vez.

Cheguei lá no estádio e me arrepiei de ver a massa tricolor. Puta que pariu. Coisa linda demais. A cidade é nossa, galera. Agora temos 2 estádios!! Um numa ponta (a boa e velha Fonte) e o outro na outra ponta da cidade. E que estádio. PituAÇO é lindo pra caralho. Me senti numa Copa do Mundo. Sem putaria nenhuma.

Hino do Brasil, Placar eletrônico de última geração, helicóptero jogando pétalas brancas, vermelhas e azuis... um SHOW!

Fui pegar logo meu copão de cerveja. Cerveja cara da porra!! 3 real lá dentro. E o balcão também era meio apertado, mas vamo nessa. Começou o jogo. O Ipitanga na pressão e eu ouvindo a voz de Sabonete na minha cabeça... "O Jahia vai tomar cacete" porra... será que vou ter que pagar engradado praquele viadinho??

Minha cerveja acabou. Mandei a nêga pegar outra pra mim. Foi ela subir a zorra da escada que eu só vi Élton matar a bola na coxa e meter um tirambaço pro fundo da rede!! GOOOOOOL DO BAHIA MINHA PORRAAAA!!!! AHAHAHAHA!!! UMA GRADE!!!! UMA GRADE!!!! UMA GRADE!!!!
Fiquei feliz pra caralho!!! Pena que a nêga não viu o gol... pena uma porra!!! Vai ver foi isso!!! Ela tava dando azar, a miserável.
Ela voltou com um copão e fiquei vendo o jogo. O Bahia até que melhorou. Vai ver é viagem da minha cabeça. Deixa a nêga quieta curtindo o jogo do tricolaço.

Só que aí o Ipitanga desceu num contra-ataque virado na porra. O sacana do atacante chutou a queima roupa e Marcelo espalmou. O cara chutou de novo e Marcelo defende novamente. Caralho! Que sufoco.
E pra fuder com tudo, meu copo ficou vazio.
- Neguinha.... pega outra pra mim?
Quando eu peço assim cheio de carinho, num tem não certo... a nêga faz tudo que eu quero. Lá foi ela pegar outra cerva.

Fiquei olhando ela subir pra pegar a cerveja. E não é que quando ela sumiu da multidão, Hélton Luiz recebe um passe da porra, sai picado, deixa dois zagueiros pra trás e BROCA!!! GOOOOOOOOOOLLLL DO BAHIA, PORRA!!!! DUAS GRADES!!! DUAS!!! DUAS GRADES!!!!
É grade pra caralho!!! Eu nem queria mais a cerveja que a nêga foi pegar. Fica lá, mizéra!!! Já tenho 2 grades!!! AHAHAHAHAHAHAH!!!
Mas aí ela voltou cheia de chamego. Me deu um beijo na boca, entregou meu copão e a gente ficou curtindo o intervalo juntinho. Feliz da vida.

Aproveitei também o intervalo pra bater o mijão. Porra véi... banheiro de primeiro mundo. Mijar em mureta nunca mais. A porra limpinha, véi. Bonito pra caralho. Naquele dia eu tava achando tudo lindo! Até mictório.

Nada de mijar na mureta, viu, porra??

Começa o segundo tempo. O Bahia só administrando. Naquele reme-reme. Naquele toquinho pra cá, toquinho pra lá. Deu uns 20 minutos e a nêga percebeu que meu copão tava vazio.
- Quer tomar, mais uma, preto?
- Porra, nêga... pegue lá pra mim, vá...

E lá foi ela. Com aquele bundão pra lá e pra cá. Eu fiquei lá olhando aquele bundão lindo subindo a escada. Hipnotizado. Aí ela sumiu. Quando voltei o olho pro campo, tava rolando um bafafá na área do Ipitanga, a bola sobra pra Hélton Luiz e.... saco!!! 3 grades de cerveja. Na moral... comecei a ficar com pena de Sabonete. Ô, meu Deus. O desgraçado vai ter que falar com a moça nos balcões BPN da Insinuante e pedir um empréstimo pra pagar minha aposta. Fale com a moça, filadaputa!!

A nêga tava demorando dessa vez. Mal terminei de comemorar o terceiro, quando o pequeno Ananias broca mais um. Quatro. Quatro a zero, papá!!! Quatro grades de pura alegria!! Eu tinha cantado a pedra. Sabonete tomou no cu. Dessa vez não foi literalmente. Mas deve ter doído pra caralho do mesmo jeito.

Neguinha chegou com a minha cerveja na hora de um pênalty do Ipitanga. Só que o dia era do Bahia. Pituaçu era do Bahia. O sacana mandou a bola lá na casa da porra.

A torcida era só alegria. "Rubro-negro otário!! Enfie no cu seu aterro sanitário!!!". Era só o que se ouvia na saída do estádio. "Vamos torcer pro Bahia ser campeão, em Pituaçu meu Caldeirãoooo!!!". Caldeirão mermo. Aquela porra ferveu, véi. E se você não foi, vá!!! Porque é bom demais. E arranje um otário rubro-negro pra apostar umas grades. Eu já ganhei quatro, pai véi!!!

BORA BAHÊA, MINHA PORRAAAAAAAA!!!!

Glossário Regionalista:

Se Gaba: Conta vantagem.
Véi: Velho no sentido de amigo, camarada, colega...
Da Porra: Legal, bonito, bom, muito bom...
Virado no Estopô: Muito forte
Nêga: Espôsa, companheira, amante, namorada...
Pituaço: Referência ao estádio de Pituaçú. Mistura de Pituaçú com Aço de Tricolor de Aço, como o Bahia é comumente chamado pela torcida, e uma forma corriqueira de evitar rimas indesejadas usada na Bahia.
Vice: Alusão ao apelido carinhoso de Vicetória colocado no Esporte Clube Vitória pela torcida do Bahia uma vez que já chegou à vice-campeão mas nunca foi campeão brasileiro.
Buzú: Ônibus coletivo.
Me Piquei: Saí, fui embora.
Nigrinhagem: Popular, povão, baixo astral.
Mermo: Mesmo.
Porrete: Pênis.
Gelosa: Cerveja bem gelada.
Lambreta: Espécie de marisco em concha, semelhante à um búzio, muito consumido na Bahia cozido no vapor.
Pombo: Homosexuais, pessoas desprezíveis.
Barradão: Apelido do Estádio do Esporte Clube Vitória, o Manoel Barradas.
Manco: Capenga, com uma perna menor que outra.
Tirar Sarro: Fazer gozação, brincar.
Jahia: Apelido carinhoso que a torcida do Vitória colocou no Esporte Clube Bahia na sua atual má fase.
Gude Preso: Perder de uma zero.
Nisgraça: Desgraça.
Briôco: Ânus.
Virado na Porra: Muito chateado.
Engradado, Grade: Caixa de cerveja contendo 24 unidades.
Mijar na Mureta: Alusão ao fato dos banheiros da Fonte Nova estarem em estado degradável e os torcedores, inconscientes, fazerem xixi em qualquer muro do estádio.
Sai Picado: Saiu correndo, com muita velocidade.
Mizéra: Azarada, miserável, pé frio.
Reme-reme: Apaziguando, meio sem querer fazer nada.
Bafafá: Confusão.
Balcões BPN: Alusão às Lojas Insinuantes, loja de eletro-domésticos baiana com sedes em várias cidades brasileiras que disponibilizam os Balcôes BPN, um banco para empréstimos pessoais, normalmente com taxas de juros elevadas.
Fale Com a Moça: Jargão utilizado na propaganda do Balcão BPN da Insinuante sobre as meninas que atendem no banco. -Se precisa de um empréstimo, fale com a moça...
Cantado a Pedra: Expressão oriunda do jogo de dominó, quando uma pessoa advinha a pedra que irá ser posta na mesa a seguir. Acertado a jogada, no caso, acertado o placar do jogo.
Aterro Sanitário: Alusão ao estádio do Vitória construído na área onde funcionava um antigo aterro sanitário da cidade de Salvador.

6 comentários:

Ana Casanova disse...

Adriano, eu sou do Benfica mas por solidariedade e com tanto entusiasmo só posso dizer: BAHIAAAAAAAAAAAA!!!

Mary disse...

Amo, amo, amo futebol!
Tanto que meu último post é sobre... FUTEBOL!
Nada tão pitoresco quanto teu post... Mas igualmente regional.
Beijos, meu amigo.

;)

Mary disse...

Amo, amo, amo futebol!
Tanto que meu último post é sobre... FUTEBOL!
Nada tão pitoresco quanto teu post... Mas igualmente regional.
Beijos, meu amigo.

;)

Paulo Bono disse...

sensacional, Caroso!
ri pra caralho.
é baianidade pura, a porra!

abraço

Anônimo disse...

eheheh muito boa :)
Parabéns.
Um abraço

Jacinta Dantas disse...

E aí meu Rei,
Tu ficas aí, no futebol e na farra e, eu por aqui, morrendo de saudade.
Apareça!
Beijo