sexta-feira, 29 de junho de 2007

DOIS DE JULHO - Mais Um Feriado Baiano

Nos últimos dias não tenho tido vontade de escrever. Não sei por que isto está acontecendo, mas sei que é uma coisa passageira. Talvez tenha sido por dedicar-me mais intensamente à leitura da biografia de Senna, da qual já falei por aqui, e que, de tanto me extasiar, não conseguia chegar ao fim. Já terminei. Também tenho lido muito outros blogs, visitado outros universos. Como exemplos, o da Bruna, do qual também já andei citando. O Brasília eu vi, o de Edmundo, aquela mala sem alça que passou quase dois meses sem escrever uma linha e sem dar nenhuma satisfação aos seus leitores, por que de repente começou a reescrever desesperadamente um livro que começou em 1988, fui testemunha presente deste nascimento que parou no tempo e no emaranhado de equívocos da sua mente. O cara conseguiu ficar mais chato do que sempre foi nestes últimos dias. Acreditem! Ele conseguiu! Isto pode valer um texto exclusivo pra contar esta história. Fiz até uma poesia, mas não lembro agora. Só tenho os versos no computador do trabalho. Quem sabe eu publico qualquer dia destes. Talvez agora ele venha nos maravilhar com este livro que, com certeza, virá com deleites inenarráveis em forma de palavras. Ainda bem que ele voltou a escrever no blog. Já estava com uma saudade....

Enfim, tenho lido mais e assistido minhas novelas. Edmundo por sinal, vive me criticando por isso, mas assumo sem pudor. Acho que novela é igual a livro. Tem o bom e o ruim. Algumas têm enredos muito interessantes e, além disto, gosto de admirar a interpretação de alguns atores. Quem não lembra dos shows de Raul Cortez? Fernanda Montenegro então? E Osmar Prado a cada dia se superando? Quem quiser que fale, mas assisto novela sim e não tenho vergonha de falar. Se gosto muito, boto pra gravar no vídeo, assim não fico preso ao horário.

Agora vou sair pra pegar minha Pretinha que deixei num aniversário de uma coleguinha aqui perto de casa. Estava fazendo horário para isto. Amanhã viajo para o interior. Na Bahia é feriadão. Segunda, 02 de Julho, o antigo nome do nosso aeroporto, prometeram até que voltaria à se chamar assim, é feriado da Independência da Bahia. É isso mesmo, Independência da Bahia. Pouca gente fora daqui conhece esta história. Acham que é mais um motivo de baiano descansar. Acontece que a data foi muito significativa para a Bahia e também para o Brasil. Quem quiser que vá pesquisar. Agora não tô a fim de contar. Beijos para todos!!!!

sábado, 16 de junho de 2007

O ANIVERSÁRIO DE EDMUNDO – Uma Noite Inesquecível!

O aniversariante com seu filho Pablo - Que foto horrorosa!




Ontem foi o aniversário de Edmundo. O presenteei com o que ele mesmo pediu. O preparo de um jantar para os seus amigos mais íntimos que, graças a Deus, também são meus queridos amigos. Só para deixar de água na boca os meus resignados leitores, se é que eles existem, o cardápio foi o seguinte: talharim ao molho de camarão, espaguete ao molho de calabresa picante, panqueca verde com recheio de ricota tomate seco e rúcula, filé ao molho de gorgonzola acompanhado de arroz branco e batata palha, além de uma lasanha à bolonhesa que acabei por não servir já que percebi que seria demais. Ainda bem. Este ato de lucidez momentânea garantiu o meu almoço de hoje sem precisar pisar na cozinha. De entrada, uma bruschetta e frios. A galera, como se diz no popular, lambeu os beuços.


Rá Nascimento - El Hombre que come com coentro!




E como foi bom reencontrar aquela turma. Lessão, sua esposa Mara e seu filho Murilo cuja última lembrança que tinha era de um garoto franzino e retado, virou um homem. É verdade! Estou ficando velho. E quem não está? Magal com sua candura, sua serenidade. Este até que vi recentemente numa ida à praia. Rá Nascimento, El Hombre que come com coentro. Uma figura impagável cujo o estado etílico, a medida que se aprofunda, o torna o maior de todos os filósofos. Deny Bal e Rosa, dois irmãos cujo casamento ainda terão de me pagar já que sou o principal responsável por este ter acontecido. E olha que Bruno, o rebento dos dois, já vai com dez anos de idade.




Minha comadre Sossó Madeira, a Soraya. Comadre só no tratamento carinhoso que nos dedicamos, já que não batizamos filhos um do outro. Rudney Monteiro, Luciano, Valéria, e a namorada de Rá que até ontem eu não conhecia, Iara. Sem falar nas três crianças mais bonitas da festa: Júlia e Flora e Pablo. Também de crianças só haviam eles.


Magal, o cara de "Retiro Tudo Que Disse"
As gargalhadas estenderam-se noite adentro. O aniversariante foi dormir deixando seus convidados à mingua. Normal e previsível. Alguns foram indo embora à medida que a madrugada chegava. Outros dormiam pelo sofá e pelas cadeiras. A festa mesmo só acabou quando aconteceu o único argumento capaz de tirar Soraya e Rá de uma festa, seja ela qual for. A cerveja acabou. Deixou uma saudade, uma vontade de estar mais com estes amigos aos quais tenho de agradecer pela presença e me redimir da minha total ausência nos últimos tempos. Se bem que ninguém ali pode me cobrar nada já que são exatamente iguais a mim.

Obrigado meus amigos pela noite que me proporcionaram. Edmundo fazia aniversário e eu é quem me senti presenteado. Precisamos nos ver mais.



P.S. Hoje é aniversário de Sílvia. Minha única irmã. Pudesse eu agora, entraria no carro e enfrentaria os 200km que me separam dela, Salvador à Teofilândia. Como não posso, gostaria dizer que te amo do fundo do meu coração e que mataremos as saudades na quarta quando você chegar aqui pra buscarmos a bicha gorda no aeroporto. Parabéns Sílvia, eu te amo!

Eu e o grande Lessão. Um amigo sem palavras para descrever!















Da esquerda para a direita: Magal, Comadre Sossó, eu e Mara.

SALVADOR - SÃO PAULO – O Roteiro da Loucura e da Irresponsabilidade – III


Vou-me Embora
(Paulo Diniz/Roberto José)

Vou-me embora
Vou-me embora
Vou buscar a sorte
Caminhos que me levam
Não têm Sul nem Norte
Mas meu andar é firme
E meu anseio é forte
Ou eu encanto a vida
Ou desencanto a morte...

Vou-me embora
Vou-me embora
Nada aqui me resta
Senão a dor contida
Num adeus sem festa.
Eu vou na ida indo
Que o temor desperta
Cuidar da minha vida
Que a morte é certa.

Quem disse que trazia
Até hoje não trouxe
O bem de se fazer
Da vida amarga, doce.

Eu não espero o dia
Pouco me importa
Se o velho é sábio
Se a menina é louca
Se a tristeza é muita
Se alegria é pouca
Se José é fraco
Ou se João é forte
Eu quero a todo custo
Encontrar a sorte.

Vou-me embora
Vou-me embora
E levo na partida
Resolução no peito
Firme e definida
Quem vem na minha ida
Ouve a minha voz
E cada um por si
E Deus por todos nós...

Neste momento estou ouvindo Paulo Diniz. Não há como separar das lembranças desta viagem, os acordes e os versos de Paulo. Assim como o consola corno de Gatão, ele foi o nosso companheiro inseparável de viagem. E que viagem! Não a faria nunca mais, pelo menos nos moldes que a fizemos, mas a saudade que sinto daqueles dias finca como uma flecha no meu coração.

No dia seguinte, em São Matheus, acordamos cedinho em vão. O comércio da cidade só abriria às 9hs e tivemos que esperar para comprar o famigerado macaco. Àquela altura, nossa programação inicial já estava completamente comprometida. Pelos meus cálculos, se seguíssemos direto a São Paulo, chegaríamos na madrugada do dia seguinte. Não seria prudente. Comecei a arquitetar uma parada estratégica no Rio de janeiro. O problema é que tudo aquilo estava botando por terra o nosso já desastroso orçamento de viagem. Mas, como diria o velho ditado, “mais vale um amigo na praça que dinheiro no bolso”. E foi justamente um grande amigo que nos salvou: Kantney. Um carioca cuja amizade herdei da grande amizade que ele tinha e tem com o meu irmão Edmundo. Por falar em Kantney, por onde será que ele anda? Quanta saudade sinto deste amigo querido! Em Vitória-Es, quando paramos para almoçar, liguei pra ele e pedi para nos acolher em sua casa por uma noite. Prontamente nos atendeu.

Seguimos viagem ouvindo Paulo Diniz, “E agora José?, a festa acabou, a luz apagou...”, “O meu amor chorou, não sei porque razão...”, filosofando sobre a vida, tomando cafezinho, fumando e, sobretudo, sonhando muito. Quando nos aproximávamos do Rio de Janeiro, uma forte emoção tomou conta de mim. Aquela cidade exercia sobre mim um fascínio inexplicável. Um sonho de criança, um sonho de consumo. Não era a primeira vez que passaria pelo Rio, mas a primeira que ficaria pelo menos uma noite e teria oportunidade de sentir os ares da Guanabara mais profundamente. Atravessamos a ponte Rio-Niterói às 17hs em ponto. Aí Gatão me fez uma pergunta que me surpreendeu e para a qual eu não tinha nenhuma resposta: - Marajá, pra onde vamos agora encontrar o seu amigo? Você sabe o caminho? Eu não sabia de nada. Não tinha combinado com Kantney uma forma de nos encontrarmos nem pedido uma referência qualquer para seguir e, muito menos, sabia andar no Rio de Janeiro. Parei num posto e liguei pro meu amigo exaustivamente sem obter resposta. Aí eu pensei: - Fudeu! “E agora José?”

Foi quando lembrei que minha mãe e minha irmã estavam na cidade esperando uma excursão que sairia de lá no dia seguinte. Pelo menos de três coisas eu sabia: o bairro, Copacabana, a rua, Av. Princesa Isabel e o hotel que hoje não lembro mais o nome. Do orelhão no posto, catatônico, olhei para o nada sem ter a mínima idéia do que fazer. Foi quando avistei uma dessas placas de sinalização onde estava escrito Copacabana. Entrei no carro e menti pra Gatão: - Pronto! Tudo resolvido. Peguei a direção e fui seguindo todas as placas que indicavam Copacabana. Quase não acreditei quando vi uma plaquinha com nome de rua escrita: Av. Princesa Isabel e mais a frente uma outra imensa com o nome do hotel onde estavam Sílvia e Mame Blue. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Quase matei as duas do coração quando interfonei do saguão. Elas nem sonhavam que eu estava vivendo aquela aventura.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

A BRUNA DA MINHA VIDA

Nos últimos dias eu tenho lembrado muito de uma música que aprendi na infância. Não sei o autor nem quem gravou. Só lembro de meu pai cantando nas nossas intermináveis viagens, que só prestavam quando parávamos em Feira de Santana e eu ganhava um saco de jujubas gigantes e coloridas compradas no Paes Mendonça. Por causa desta canção, estou vindo de uma pesquisa na internet, leia-se Google, onde descobri que não fui o único a ter a infância marcada por estes versos. Além de mim, tem uma tal de Bruna.

Difícil foi largar o blog da moça. Blogaralho!!!! Um blog bom pra caramba! Tirando suas vomitadas deliciosamente contadas, é tudo muito bom. O texto flui e lhe toma. Quando percebi, já tinha perdido, ou melhor, ganhado uma hora naquela pesquisa. Nem entrei em outros sites para buscar a autoria da música que era minha inicial intenção. Bruna mudou meu momento, minha intenção e minha vida. Me identifiquei tanto com ela, que corri pro banheiro para vomitar a cachaça de ontem. E que cachaça!

Decepcionado que estava por causa de uma viagem que não aconteceu, mas isso não me cabe contar aqui já que tem gente demais olhando meus scraps no orkut e tirando suas próprias conclusões, não tive outra alternativa a não ser meter o pé na jaca! Sinto uma saudade danada da minha mãe gaúcha, D. Celmira, me dando carão e me chamando de gambá. Onde estás minha mãeúcha? Venha acodir o seu filho baiano e perdido. Só Deus sabe o quanto te amo e a falta que você me faz. Fiquei apaixonado por Bruna, se é que é este mesmo, ou mermo como ela fala, o seu nome.

Pra terminar de foder tudo, ela descobriu Cartola. O tal do Luis que deu, ou melhor, emprestou o cd pra ela (pena que ela foi burra e devolveu), não imaginava que seu ato, iria bater na Bahia de forma tão implacável. Quando me lembro das vezes que chorei com Cartola. “Esquece o nosso amor, vê se esquece...”, entendo tudo que ela fala. Descobri até que Cartola se chamava Agenor, vê se pode! Nada contra o nome, pra mim é simplesmente Cartola. “Ainda é cedo amor...” Nunca é tarde para amar. Valeu Bruna! Como diria All Seu, “Nas Brunas Leves das Paixões Que Vem de Dentro, Tu Vens Chegando Pra Foder o Meu Quintal!...”

Ah! Quase ía me esquecendo. A música que fui procurar foi esta:

Era viúvo e tinha um filho homem,
E arranjei uma viúva para me casar.
Mas a minha sogra que é muito teimosa,
Com o meu filho quis se matrimoniar.
Desse matrimônio nasceu um garoto,
E desde desse dia que eu ando louco.
Esse garoto é filho do meu filho,
Sendo filho da minha sogra, irmão da minha mulher.
Ele é meu neto e eu sou cunhado dele.
Minha sogra é minha nora meu filho meu sogro é.
Nesta confusão eu já não sei quem sou,
Acaba esse garoto sendo meu avô.

Pode?

A CARTEIRA

Como eu gostaria que o volume da minha carteira, fosse proporcional à quantidade de dinheiro dentro dela!

A BIOGRAFIA- Minha História Com Meus Amigos e Ayrton Senna. (Título Dado Por JÚLIA, a Burra Preta) Pena Que Eu Não Lembro De Nada!


Na manhã de 01 de maio de 1994, eu acordei muito mal. Não sei se pela ressaca da farra homérica da véspera ou se pela TPA. É isso mesmo, TPA. Ou seja, tensão pré aniversário. Nunca consegui entender, mas desde os meus vinte anos, sempre sinto uma depressão profunda nos dias que antecedem à data do meu nascimento. Foi assim naquele dia. Parece até que eu estava prevendo os acontecimentos desastrosos que estavam por vir. Perderia naquela data, meu maior ídolo e um bom amigo.

Como na segunda-feira era meu aniversário, resolvi ir pra Santo Amaro passar o dia com meus pais, abdicando até da minha maior paixão da época, a fórmula 1. Eu era um fanático pelo esporte. Desde criança, ficava aos domingos pregado na televisão assistindo às corridas. Era uma obsessão, uma coisa inexplicável. Lembro que Nelson Piquet era o meu maior ídolo, que merda! Até aparecer um cara que mudaria minha vida para sempre, Ayrton Senna.

Hoje estou lendo a biografia de Senna, escrita por Ernesto Rodrigues, “Ayrton, O Herói Revelado”. Sabe quando você come uma coisa deliciosa aos pouquinhos para evitar que acabe logo? É o que estou fazendo com este livro. São mais de seiscentas páginas e não consegui ainda passar da quinhentos, de tanto que volto para reler trechos e trechos. Para mim é como se um filme retratasse à minha infância, adolescência e o início do meu adultério, ou melhor, da fase adulta. Acho que o título, assim como sugere, retrata todo o conteúdo do livro. Uma revelação. Ayrton Senna sem máscaras, sem o endeusamento que lhe dedicava, sem nada. Simplesmente Ayrton Senna. Um ser humano mortal como todos nós, cheio de defeitos e qualidades como qualquer um.

As páginas deste livro fizeram-me lembrar daquele domingo e do meu amigo Capeto. Morreu sozinho em seu apartamento, no mesmo dia, sem uma multidão de admiradores para sofrerem por ele. Conheci Capeto muito pouco, mas trago dele as melhores lembranças. Era mecânico de Cícero Menezes, um quase irmão. Amigo daqueles que, se tivesse a língua solta, poria no lixo toda minha reputação, se é que ela existe. Cícero adorava Capeto e, por causa dele, acabei gostando muito do cara. Lembro que, em vez de parabéns, Cícero disse: - Cara, você sabe quem morreu? Prontamente respondi: - Ayrton Sena! – Não, Capeto! Desmoronei. Vale lembrar que, no dia seguinte, Cícero faria mais um ano de vida. A tristeza era a sua cara. Ontem, por sinal, estávamos juntos e felizes. Rodeado por amigos queridos e maravilhosos. Gal, Stela, Márcio, Paula, Paulo, Ruy, Dengo, se é que consigo lembrar de todos. Ainda bem! Não fosse assim, Gal daria uma de Cristina Nicolloti, e mandaría-me tomar no cu! Desculpe amiga!

Na estrada, ouvindo o rádio do carro, pela primeira vez tive notícia do acidente de Senna. Acostumado que estava de ver tantas batidas e capotadas sem nada de mais grave, não dei a menor importância. Cheguei em Santo Amaro como se nada tivesse acontecido. Nunca esqueço da hora que Júnior, o filho de um vizinho que só andava lá em casa, entrou na cozinha e falou pra meu pai: - Capitão, Ayrton Senna morreu! Na mesma hora corri e liguei a televisão para atestar, infelizmente, a veracidade da notícia. Morreu ali também, um pedaço de mim. Lembro que fui pro banheiro e, escondido de todos e até de mim mesmo, chorei copiosamente. Gostaria de apagar esta data da minha memória, da minha vida. Isso nunca vai acontecer. Que Edmundo, o dono do livro, nunca leia este texto. Assim descobrirá que jamais o devolverei. Aliás, como diria meu amigo João Teixeira, “burro é quem empresta um livro, mais burro ainda é quem devolve”.
Se não acreditasse na reencarnação, desejaria pra Senna o melhor lugar do céu. Como acho que ele já está entre nós e, de alguma forma, ainda nos dará grandes alegrias, quero parabenizá-lo por uma coisa bem banal. Simplesmente por ele existir e ser o Ayrton Senna de nossos domingos. Eduardo Souto Neto, em dia de grande inspiração, compôs um tema que marcou nossos domingos e nossas vidas. O “Tema da Vitória”. Magistralmente executado pelo Roupa Nova. Sem Senna porém, nunca será o mesmo. Felipe Massa que me desculpe, e olhe que adoro o cara!

sábado, 2 de junho de 2007

SALVADOR - SÃO PAULO - O Roteiro da Loucura e da Irresponsabilidade - II

Naquele domingo na ilha, entusiasmados que estávamos pelos efeitos do álcool, eu e Gatão combinamos todos os detalhes da viagem, até a data da ida e da volta. O pior é que seguimos à risca nossos planos. Nem tão à risca assim, já que alguns contratempos inesperados aconteceram. Não sei precisar datas, mas lembro que combinamos a viagem para menos de um mês a frente daquele dia, e que passaríamos, aproximadamente, uma semana por lá.

Sairíamos de Salvador bem cedo para chegar à Vitória-ES perto da meia-noite, dormir por lá, e seguir a viagem chegando a São Paulo no dia seguinte. Aí aconteceu o primeiro imprevisto. Eu que conhecia bem a estrada, sugeri irmos pela BR 101. Menos movimentada e seguindo pelo litoral passando dentro do Rio de Janeiro. Usamos um atalho não muito convencional, mas reduzia a viagem em aproximadamente 100 km. Pegamos o primeiro ferry-boat, às 6hs da manhã, atravessamos para Itaparica e, às 7hs, pegamos estrada na ilha com destino a Nazaré das Farinhas. Lá, em vez de pegar a BR, seguimos por uma estrada estadual que atravessa o que chamamos aqui, de Costa do Dendê. São as cidades litorâneas da região onde o azeite de dendê é largamente produzido e cuja beleza não há como descrever. Hoje não sei como está, mas na época, recentemente reformada, parecia um tapete vermelho e muito bem sinalizada. Passamos pelas cidades de Valença, Nilo Peçanha, Taperoá, dentre outras. Chegamos a 101 pela altura de Gandu. Embora bem mais velho do que eu, Gatão não tinha muita experiência em dirigir na estrada. Aquela então, extremamente sinuosa, cheia de curvas e subidas, era novidade pra ele. Fui dirigindo neste trecho e passando as dicas de como enfrentar tais dificuldades. Já tínhamos passado de Itabuna, a mais ou menos 400 km de Salvador, quando paramos para almoçar. O cardápio? Uma farofa de frango que levamos, feita por dona Gracinha, acompanhada de uma porção de arroz que pedimos no restaurante do posto, além de uma cerveja para relaxar. Vale ressaltar que nós, dois fumantes inveterados, Gatão graças a Deus não padece mais deste problema, tínhamos uma térmica no carro abastecida de café, além de um pacote de Carlton. Perdemos uns três anos das nossas vidas nesta viagem, de tanto que tomamos café e fumamos. Até hoje, quando me vê fumando, Gatão fala: - Deixa eu cheirar essa maconha! Aí pega o cigarro aceso, encosta perto do nariz, faz uma cara de intenso prazer, e devolve o miserável pra mim.

Depois do almoço, por causa do sono que normalmente sinto, passei a direção pra ele no intuito de dormir um pouco. Ledo engano. Quase tive um filho, tamanha a barbeiragem de Gatão. Já na 101, uma estrada muito mais fácil do que a estadual que estávamos, porém bem mais movimentada, o cara parecia estar num carro de auto-escola. Dirigia com pé de isopor. Não que eu goste de correr, mas entrar numa curva de auto-estrada e reduzir para 20 ou 30 km/h é uma temeridade. Quem vem de lá ou atrás, não imagina nunca que isto vai acontecer e pode, a qualquer momento, lhe atropelar sem sentir. Tive de pegar a direção novamente para mostrá-lo como proceder. Até hoje ele fala que fui eu quem o ensinou a dirigir na estrada. Acabou que não dormi nada e fiquei na direção até a divisa com o Espírito Santo. Faltando uns 2 km para entrarmos no outro estado, um pneu do fundo estourou. Parei no acostamento para trocar o pneu. O macaco, que tinha sido normalmente usado dois dias atrás, não subiu. A rosca aluiu. Como Deus estava do nosso lado, era só atravessar a estrada e tínhamos um posto com borracharia. Ele ficou no carro e fui buscar o borracheiro que veio nos acudir com um macaco jacaré. A noite começava a cair.

Trocado o pneu, fomos até o posto comprar um macaco que o borracheiro disse ter pra vender. Acontece que o cara, explorando nossa situação, queria uma fortuna pelo equipamento. Eu tava até inclinado a ceder, mas Gatão não deixou. Restava à alternativa de comprar um em São Matheus, a primeira cidade do Espírito Santo. Acontece que, quando chegamos lá, mais de sete horas da noite, o comércio já estava completamente fechado. Decidimos parar. Seguir viagem sem um macaco seria muito arriscado. Vai que furasse outro pneu em plena noite? Ficaríamos largados no meio da estrada.

Ficamos num hotelzinho barato, porém muito aconchegante. Depois de jantar, fomos para o quarto e tomamos banho para dormir. Vale lembrar que não tinha banheiro no quarto. Era coletivo e servia a todos os apartamentos do corredor. Gatão ligou o que ele mesmo chamava de consola corno. Um radinho de pilha AM que foi nosso companheiro de sono.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

ELE - Em Termos de Loteria Esportiva

Quando sem lucros visar,
O bem fizer algum dia.
E que fizer sem tirar,
Do bem, proventos soezes.
Podem ver a loteria,
Que deu zebra treze vezes

ZÉ RIBEIRO – É Por Isso Que Tote Não Presta!

José Ribeiro de Almeida. Este é o nome do meu avô paterno, o Zé Ribeiro, que conheci muito mais pelas histórias que ouvi sobre ele e pelas suas poesias, do que pelo convívio, já que este quase não existiu. Não só com ele mas com quase toda a família de meu pai, extremamente numerosa, convivi muito pouco. A maioria moradora de Cravolândia, onde nasceram, uma pequena cidade do interior da Bahia. Passei minha infância mudando de cidade em função do trabalho do velho Carôso. Para ser mais exato, nasci em Salvador mas na época meus pais moravam em Feira de Santana para onde fui com dias de existência. Depois mudamos para Belmonte no sul da Bahia, já perto de Porto Seguro. De lá lembro muito pouco. Uma das poucas lembranças é que ainda não havia luz elétrica na cidade. Existia um gerador que era ligado às 19hs e desligado às 22hs. Depois fomos para Mundo Novo, já mais próximo da Chapada Diamantina, onde fui apelidado de Sujismundo. Este era um personagem de uma campanha em favor da higiene se não estou enganado. Um menino imundo como sugere o nome. O apelido veio por causa de uma brincadeira que eu e amigos da mesma faixa de idade fomos flagrados fazendo. Naquela época, o lixo das casas era colocado em tonéis de metal que ficavam nos passeios das ruas, desses bem grandes. A noite passava o caminhão recolhia o conteúdo e deixava o tonel vazio. Não me lembro quem teve a idéia, mas deitamos um deles, eu entrei dentro e os outros meninos empurraram. Além da surra e do castigo, valeu o apelido. De lá fomos para Juazeiro. Aquela mesma, cantada em versos tão lindos na música de Jorge de Altinho, “Juazeiro e Petrolina”, divisa com Pernambuco. Depois, Serrinha no sertão baiano. E, antes de vir definitivamente para Salvador, Santo Amaro da Purificação, no recôncavo. A famosa terra de Caetano Veloso e Maria Bethânia, dentre outros ilustres. Um verdadeiro celeiro de talentos.

Com tantas mudanças e sempre longe de lá, fui muito poucas vezes à Cravolândia na minha infância. Com isso, convivi muito pouco com os mais de dez tios que tinha e tenho por lá, além dos mais de cinquenta primos. Alguns ainda, até hoje não conheço.

Lembro que meu avô era uma figura conturbada, que gostava de impor sua vontade, sistemático e severo. Mudava de humor inexplicavelmente. Na mesma hora que tava um doce, fechava a cara e botava pra fora quem tivesse na frente. Era também cheio de manias. Trocava o dia pela noite e só mesmo minha avó Letícia, com aquele temperamento resignado, para aguentar a situação que ele impunha. No entanto, aquela mente controvertida, era capaz de criar verdadeiras pérolas no quesito poesia. Morreu deixando um trabalho maravilhoso, inédito e de grande volume, que hoje se perde no tempo, provavelmente sendo comido pelas traças. Existe uma pessoa porém, que talvez seja o único capaz de resgatar boa parte da sua obra. É meu tio Aristóteles, ou melhor, Tote. Apaixonado pelo trabalho do pai, Tote sabe de cor várias poemas e epigramas dele, e deve, acredito, estar zelando pelo que sobrou de sua obra. Uma vez ele me deu uma fita cassete, onde recitava várias poesias de meu avô, algumas até já publiquei por aqui, com sua voz grave e dramática. Esta se foi junto com um carro que me foi tomado de assalto. Este Tote é uma figura. Metido a filósofo, gosto quando ele, no meio de alguma discussão ou debate, me sai com o seu velho e manjado jargão: - É por isso que Tote não presta! Estou combinando com meu irmão Edmundo, uma viagem à Cravolândia para, com o auxílio de Tote, tentarmos ajudar neste resgate.

Das poucas lembranças que tenho do velho Zé Ribeiro, a que mais me marcou foi a de uma madrugada onde ele, com sua barba grisalha e fumando seu indefectível cachimbo, ficou conversando e recitando suas poesias para mim e Luciano, outro irmão meu, até o dia amanhecer. Éramos duas crianças pela faixa dos onze e treze anos respectivamente. Naquele dia, ele estava com um ótimo astral.